Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Napoleone – Vol.1: O Olho de Vidro

Crítica | Napoleone – Vol.1: O Olho de Vidro

O estranho mundo de Napoleone.

por Luiz Santiago
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Criado por Carlo Ambrosini (tanto roteiro quanto desenhos, algo raro na Bonelli — aliás, não me lembro de outro personagem da editora criado por um artista só; se conhecerem algum, deixem nos comentários!) Napoleone é uma curiosa mistura de giallo com noir, pendendo mais para esse segundo gênero, só que em sua fase neo (pós-Um Corpo Que Cai, se a base cronológica for o cinema) e particularmente sob as regras europeias do noir. De periodicidade bimestral, a série conseguiu emplacar 54 edições regulares (mesmo não tendo um relevante número de vendas) e mais três one-shots publicadas em Le Storie. Uma performance e tanto para um projeto que foi pensado para apenas oito números.

O personagem-título aqui é um ex-policial que hoje administra um hotel chamado Astrid, e o roteiro indica que ele ainda presta alguns serviços de aconselhamento e investigação paralela para a polícia. No recorte desta edição de estreia, porém, Napoleone (cuja aparência teve inspiração em Marlon Brando, na época de O Último Tango em Paris) é forçado, por uma ironia do destino, a investigar oficialmente um crime que envolve O Cardeal, personagem que entendemos ser o seu principal inimigo. O elemento de violência aqui é o lado da história que se aproxima do giallo e o processo de investigação somado à forma como a relação entre criminosos e investigadores acontece é o lado que se aproxima de um tipo de noir. Ocorre que o enredo não para por aí. Há também uma farta camada de fantasia que torna Napoleone uma série bem diferente do que a Bonelli tinha até então em sua grade.

O prólogo da edição já nos apresenta um Reino de imaginação, pensamentos e sentimentos, Reino este do qual o protagonista é uma espécie de guardião ou visitante constante. Deste lugar, três manifestações psíquicas (Lucrezia, Caliendo e Scintillone) acabam fazendo parte de sua vida cotidiana, e este é o lado da história que, por mais interessante que seja, acaba não tendo peso algum para o que está sendo narrado. Aliás, se não estivesse aqui não faria a menor falta, e certamente só aparece porque o autor tinha planos importantes para o lado fantástico do título, e algo tão importante assim tinha que aparecer na primeira edição.

Ambrosini ainda nos traz uma porção de outras referências visuais e literárias (especialmente na escolha do nome dos personagens) que enriquecem esse Universo já num primeiro contato. Vejamos algumas delas. A cena onírica da abertura é a recriação da sequência da cabeça de Vênus saindo da lagoa em Casanova de Fellini (1976); o nome da governanta, Rose Simenon, faz total sentido, pois coloca ao lado do protagonista uma alusão ao criador do Comissário Maigret; o nome do Inspetor de Polícia, Dumas, também foi escolhido a dedo, pois a personalidade do Inspetor é claramente de um grande e destemido aventureiro, desbravador de perigos e desafiador de variados tipos humanos. Sem contar que temos referências aos Tweedledee e Tweedledum de Lewis Carroll, na constituição dos irmãos Boratto, e a Tintim (numa versão mais velha), na constituição de Boulet, o ajudante do Inspetor.

Mesmo que eu não tenha gostado tanto da história aqui, por achá-la medíocre na forma como apresenta o enigma a ser investigado e principalmente pela necessidade de apresentar personagens que, infelizmente, não são bem explorados — e inclusive atrapalham um pouco o andamento do enredo, em dado ponto — tudo em Napoleone é tão diferente e atiçador, que certamente seguirei lendo pelo menos mais algumas edições, a fim de ver como o autor irá trabalhar o mundo psíquico/fantasioso e como isso entrará de forma definitiva e útil em um roteiro da série.

Napoleone – Vol.1: O Olho de Vidro (L’occhio di vetro) — Itália, setembro de 1997
Roteiro: Carlo Ambrosini
Arte: Carlo Ambrosini
Capa: Carlo Ambrosini
100 páginas

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