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Crítica | Natal em 8 Bits

Um pesadelo natalino em nome da Nintendo.

por Rodrigo Pereira
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Jake Doyle, protagonista de Natal em 8 Bits, gritando.

Chega a ser difícil saber por onde começar a escrever sobre algo que não consegue estabelecer uma identidade sob nenhum ponto de vista. Natal em 8 Bits, novo lançamento do HBO Max, tenta mostrar como Jake Doyle (Neil Patrick Harris/Winslow Fegley) conseguiu seu primeiro Nintendo em um natal do final da década de 1980. Sua versão adulta, interpretada por Harris, resolve  contar para sua filha as tarefas hercúleas que precisou realizar para conseguir seu videogame, nos transportando para a Chicago de décadas atrás em sua versão criança, interpretada por Fegley. E é aí que começa o pesadelo.

A direção de Michael Dowse começa a nos apresentar cenários e tenta construir algo a partir disso, mas é incrível como parece estar pouco se importando de fato. O núcleo de Timmy Kleen (Chandler Dean) é mostrado logo ao início da projeção e, apesar de genérico, parecia interessante a ocupação da personagem como o antagonista rico e único possuidor de um Nintendo entre os demais. O problema principal é o completo descarte desse núcleo pouco após sua apresentação, voltando a aparecer somente ao final da obra.

Inclusive, descartáveis é uma boa forma de se referir ao grande grupo de amigos de Jake. É uma tarefa complicada trabalhar com tantas personagens ao mesmo tempo pela dificuldade de manter todas com sua personalidade e relevância ao longo do filme, mas Dowse consegue a incrível façanha de não nos importarmos com absolutamente ninguém do grupo fora o protagonista. Além de cada um ser definido por uma única característica, sem nenhuma alteração ou nuance durante toda fita, o grupo sofre a mesma sentença do abastado Kleen, sendo descartados e quase sem desenvolvimento das personagens, trazendo novamente a sensação de que nem mesmo o diretor parece estar muito importado com o que está fazendo. Talvez exatamente por isso o filme mais parece uma peça publicitária encomendada pela Nintendo do que uma obra de arte.

Sem contar a cansativa e repetitiva escolha por utilizar Neil Patrick Harris como narrador de boa parte dos acontecimentos. Houve um momento em que a única coisa que pedia era poder parar de ouvir Harris e suas piadinhas sem graça para que as cenas pudessem se desenvolver de acordo com o mostrado em tela (não que tivesse grandes esperanças que o filme melhorasse por isso, mas seria, no mínimo, menos irritante).

Após várias tentativas de conseguir o famigerado videogame, voltamos para o presente para ouvir o adulto Jake Doyle revelar à sua filha que precisou trabalhar para comprar seu Nintendo, apelando para uma genérica e óbvia lição de moral sobre se esforçar para alcançar o que deseja e valorizar mais o que se tem. Chega a ser cômico finalizar o filme com essa mensagem moralista após passar uma hora e meia contando sobre como o protagonista só sossegou após conseguir adquirir o objeto de tanto desejo.

Dotado de uma previsibilidade constrangedora e uma montagem que faz parecer que nem os envolvidos dão valor aos acontecimentos da obra, Natal em 8 Bits é o tipo de filme que quase deixa um gosto amargo na boca de tão ruim que consegue ser. Para um filme de natal, o único feito que atingiu nesse sentido foi assassinar o espírito natalino.

Natal em 8 Bits (8-Bit Christmas) – Estados Unidos, 2021
Direção: Michael Dowse
Roteiro: Kevin Jakubowski
Elenco: Neil Patrick Harris, Winslow Fegley, June Diane Raphael, David Cross, Steve Zahn, Jacob Laval, Santino Barnard, Jackson Reid, Chandler Dean, Johnathan’tae Sturgess, Cyrus Arnold
Duração: 98 min.

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