Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Nathan Never – Vols. 7 e 8: A Zona Proibida e Os Homens-Sombra

Crítica | Nathan Never – Vols. 7 e 8: A Zona Proibida e Os Homens-Sombra

por Luiz Santiago
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A Zona Proibida e Os Homens-Sombra, edições #7 e 8 da série Nathan Never, formam um arco de investigação que começa muitíssimo bem e termina com uma inacreditável marca de conveniências e didatismo, ultrapassando os limites mutantes aceitáveis naquilo que a própria trama nos apresentou ao longo da narrativa. Escrita por Antonio Serra e desenhada por Nicola Mari, a história traz uma reflexão do protagonista sobre a sua solidão, um daqueles momentos em que esse sentimento impede alguém de fazer aquilo que mais gosta, e é aí que as primeiras referências ao passado da Terra aparecem na coleção de Nathan Never: uma literária (O Mestre e a Margarida, de Mikhail Bulgákov), uma cinematográfica (As Vinhas da Ira, de John Ford) e uma musical (a ópera Os Palhaços, de Ruggero Leoncavallo).

O nível de urgência da narrativa é a primeira coisa que nos chama a atenção em A Zona Proibida, a melhor das duas edições do arco, e ao passo que a questão pessoal do personagem é levantada, um curioso contraponto a ela é erguido em outro bloco, com ampla ação espacial e uma história misteriosa sobre a evacuação de uma ilha (a Ilha do Diabo) por motivos misteriosos, mas que o leitor em breve saberá exatamente por quê. Nessa sequência de eventos não temos muito tempo para respirar — isso só acontece em Os Homens-Sombra –, passando da intriga para o humor, sempre com novidades e coisas i tensas para considerar.

O jornal que abre o quadrinho tem uma matéria intitulada Lembranças de um Presente Imperfeito, escrita pelo polêmico jornalista Kenneth Clark, falando sobre as denúncias ligadas ao reverendo Aristotele Skotos, que assume uma parte das suspeitas e algumas cenas de bastidores em toda essa história. É uma pena que tudo ligado ao revendo seja cifrado, reticente e incompleto. O autor tenta colocar muita coisa na conta do religioso corrupto e isso acaba sendo um problema porque são coisas muito específicas e diretamente ligadas à trama, não apenas a clara ligação dele com o mundo do crime, embora ninguém até o momento tenha conseguido provar nada e o infeliz siga enganando milhões de pessoas com os seus “programas de fé” na TV, de onde consegue arrancar bastante dinheiro para o seu império.

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Há uma piadinha de Legs que me fez rir bastante aqui, referindo-se aos eventos de Terror Abaixo de Zero: “Ei, está bronzeado, parece que o brilho das geleiras te fez bem!“. Essa camaradagem entre os dois agentes persiste até o final do arco, quando Legs chega a enfrentar o chefe para poder ir numa missão de socorro ao encontro de Never e quando eles enfim se reencontram no final da revista. Gosto bastante disso e de como essa amizade e o funcionamento da Agência Alfa torna esses enredos tão incomuns em algo que a gente consegue se relacionar consideravelmente bem. No decorrer da trama, ainda temos breve aparição de um bisneto de Mister No, CEO da Drake Spaceways (uma empresa de ônibus espaciais) e referências visuais ou narrativas a Star TrekBatmanO Homem ElefanteAstro Boy, complementando o escopo nostálgico desse ambiente perigoso do futuro da Terra, onde um vírus e outros experimentos científicos realizados por militares (mais uma vez) saiu de controle.

Embora Os Homens-Sombra não seja uma edição ruim (longe disso), eu tive uma grande dificuldade de me conectar com a história, especialmente da metade para frente. Não só um estranho didatismo começa a fazer parte do roteiro, mas a última aparição mutante (o bebê telepático) simplesmente não colou, ainda mais quando o texto extrapola os limites com as inúmeras conveniências da reta final, e isso é ainda mais problemático porque até aquele momento, considerando as possibilidades desse Universo e dessas condições mutantes, a história tinha entregado coisas aceitáveis. Mas a gente entende. Essas extrapoladas acontecem até nas melhores séries.

Nathan Never #7 e 8: La Zona Proibita + Uomini Ombra (Itália, dezembro de 1991 e janeiro de 1992)
Sergio Bonelli Editore

No Brasil: Editora Globo (maio e junho de 1992)
Roteiro: Antonio Serra
Arte: Nicola Mari
Capa: Claudio Castellini
200 páginas

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