Esta é a primeira parte de uma aventura que se conclui com A Ilha da Morte, o álbum seguinte da série Nathan Never. Nesta primeira parte, começamos com uma matéria do City News, com o seguinte destaque: Os Segredos do Jeet Kwon Doo: a mais recente forma de arte marcial. Assim como em O Monolito Negro, existem dois eventos em andamento, um que aparentemente não tem conexão nenhuma com a história e outro que se mostrará a espinha dorsal da trama. Ocorre que a aventura aqui ganha muito mais força na construção de personagens e de situações, fazendo com que os impasses ligados à grande luta na Ilha do Dragão sejam paulatinamente abordados pelo roteiro, que traz boas consequências para alguns protagonistas já nesta primeira parte.
O problema em pauta aqui é que uma divisão do Exército encontrou um depósito de armas químicas e uma série de bacilos mortais fazem parte deste achado. Na surdina, os militares tentam retirar as armas do local onde se faziam experimentos científicos, mas a aeronave carregada com os vírus é sequestrada, o que coloca a Agência Alfa na mira dos militares pois, ao que parece, é a única que pode auxiliar em uma missão que, se estivéssemos falando de um quadrinho de super-heróis (ou vilões), certamente seria dada para o Esquadrão Suicida.
O escolhido aqui, obviamente, é Nathan Never, que deve participar de um torneio impossível, com a intenção de obter as informações necessárias em um ambiente onde nenhum governo tem autoridade para agir e onde a comunicação com qualquer lugar fora da ilha só pode ser feita de um local especial, controlado por Athos Than. Bons dramas paralelos são apesentados, todos paulatinamente direcionados para o torneio na Ilha do Dragão, para as habilidades de alguns atletas e para a já conhecida corrupção que existe no meio das lutas profissionais.
A arte aqui valoriza corretamente a exposição dos quadros de contexto, com acertados momentos de silêncio e colocação bastante sólida de personagens em seus contextos sociais. Talvez fosse mais interessante se tivéssemos uma participação mais forte de Nathan Never e sua equipe costurando a história, não apenas como um dos quadros narrativos que acabam sendo narrados de forma paralela, até que se juntam na jornada rumo à Ilha, onde Athos ordena a preparação de gala para os atletas. Muitas boas ações aqui esperando o momento certo incendiarem..
Utilizando o pseudônimo de Robert Clouse, Nathan Never chega à Ilha do Dragão para participar do torneio bienal oferecido no lugar por Athos Than, o criminoso bilionário que comprou a ilha para se ver livre de qualquer jurisdição e que agora tem a posse de baterias cheias de vírus mortais e segue avançando em pesquisas científicas com a intenção de criar homens-robô para compor o seu Exército de escravos.
Exceto pelo início, quando o torneio acontece e de maneira não tão orgânica vai se ligando à missão e à busca de Terry Ying pelo irmão Chen, toda a trama é escrita com uma grande nível de ação, misturando o gênero de investigação com um bom suspense, fazendo com que o leitor espere pelo pior e fique curioso sobre qual passo e qual obstáculo aparecerá na Ilha para impedir a dupla de mocinhos alcançarem seus objetivos. Como as caraterísticas do local foram dadas na edição passada, o autor se utiliza dessas informações para fazer a história fluir pelo máximo de curiosidade que conseguir arrancar do público, logrando um excelente resultado final. A arte também mantém o nível da aventura anterior, novamente fazendo uso correto dos quadros de contexto e utilizando do silêncio do roteiro para apresentar ações na calada da noite ou em segredo, dando muito mais veracidade e força ao que vemos nas páginas.
O desfecho é, em uma palavra, cinematográfico. Por mais que o ponto final do vilão seja clichê, assim como o status em que Nathan e Terry ficam, não se trata de um momento mal construído na história, muito pelo contrário. O enredo explora as caraterísticas necessárias para nos fazer crer naquelas situações e deixa que personagens melhorados ou com excelência em algumas áreas ganhem espaço e vantagem sobre outros. O final de A Ilha da Morte termina o arco da Ilha do Dragão com chave de ouro, uma saga que se marcou como as duas primeiras grandes histórias de Bepi Vigna e Stefano Casini em um trabalho que mescla suspense, exotismo futurista e artes marciais.
Nathan Never #3 e 4: Operazione Drago / L’isola della morte (Itália, agosto e setembro de 1991)
Sergio Bonelli Editore
No Brasil: Editora Globo, janeiro e fevereiro de 1992
Roteiro: Bepi Vigna
Arte: Stefano Casini
Capas: Claudio Castellini
200 páginas