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Crítica | “NEVER ENOUGH” – Turnstile

O contraste entre o peso do hardcore e a delicadeza do shoegaze

por Handerson Ornelas
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NEVER ENOUGH, quarto álbum de estúdio dos estadunidenses do Turnstile, é uma daquelas raras obras de rock atuais que soam promissoras para alcançar o mainstream. Todavia, é curioso o tipo de discussão que circunda quase todo fórum após o lançamento do disco: se a banda ainda pode ser considerada uma banda de hardcore. Esse ponto reascende questionamentos sobre concepções modernas da indústria musical da mesma forma que ressalta a autenticidade que coloca o Turnstile em uma posição de tanto destaque na cena.

Apesar de possuir três discos na discografia, o momento de proeminência do Turnstiles chegou no elogiado GLOW ON. O álbum configurou em muitas das listas de melhores álbuns de 2021 e provou ser uma virada de chave para a banda. Diferente de seus trabalhos anteriores, que seguiam um formato mais “tradicional” de hardcore, GLOW ON foi marcado pelas experimentações do grupo com outros estilos. Assim, NEVER ENOUGH não é só continuidade, mas aprofundamento desta estratégia musical. Hardcore, New Wave, Shoegaze, Dream pop, Indie Rock? A banda capitaneada por Brendan Yates demonstra desdém por rótulos enquanto executa com maestria essa salada musical de gêneros.

Um pouco mais afastado do viés político que muitos de seus contemporâneos tendem a apresentar, o Turnstile preza por letras minimalistas que abordam autodescoberta, relacionamentos e a busca do indivíduo para encontrar seu lugar. Para além do belo trabalho de composição da banda, necessário ressaltar o brilhante papel da produção. Destaque para o capricho na sonoridade das guitarras, todas meticulosamente trabalhadas para saltar aos ouvidos. Ademais, isso também vale para o trabalho nos vocais de Brendan Yates, que recebem um ótimo tratamento. O vocalista nunca soou tão imponente, com efeitos que isolam bem sua voz para soar como um verdadeiro arauto do punk rock.

O grupo sabe manter bem consistente a ambientação da obra, mesmo em meio a experimentação. CEILING é um belo interlúdio que desagua no ponto alto do álbum, a maravilhosa SEEIN’ STARS, faixa que aflora o lado mais melancólico do grupo. Com participações cirúrgicas de Devonté Hynes (Blood Orange) e Hayley Williams (Paramore), a faixa emula a aura vibrante do The Police nos anos 80. Certamente é o tipo de canção que leva à loucura o fãs puristas de hardcore. Entretanto, BIRDS vem logo na sequência para agradar esses insatisfeitos. Liberada como single em conjunto com SEEIN’ STARS, entrega logo na sequência a velocidade e agressividade que os fãs mais tradicionais são famintos.

O álbum ainda abre espaço para metais na dançante DREAMING, da mesma forma que mantém um peso etéreo na faixa homônima e sintetizadores inebriantes em canções como CARE e LIGHT DESIGN. Assim sendo, sabe trabalhar de forma genial os contrastes entre a delicadeza do shoegaze e o peso do hardcore.

Diante de um cenário da indústria onde o consumo nunca foi tão democrático, é surpreendente ver o apego de alguns a gêneros musicais. Esse tipo de segmentação foi fomentado por anos visando comercializar padrões e formatos sob medida para cada público. A proposta do Turnstile é quebrar essa fórmula de tal forma que evidencie como o processo criativo tem resultados mais interessantes ao se permitir a exploração.

Aumenta!: SEEIN’ STARS
Diminui!: SUNSHOWER

NEVER ENOUGH
Artista: Turnstile
País: Estados Unidos
Lançamento: 6 de junho de 2025
Gravadora: Roadrunner
Estilo: Hardcore, Shoegaze, Indie Rock

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