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Crítica | New Amsterdam: Toda Vida Importa – 3ª Temporada

Em sua terceira temporada, drama médico evolui e demonstra sua relevância.

por Leonardo Campos
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O que esperar da terceira temporada de New Amsterdam: Toda Vida Importa? Muita coisa. E coisas boas, diferentes da maioria dos dramas médicos contemporâneos, a maioria viciado nas amarras dramatúrgicas da decadente e bizarra jornada recente de Grey’s Anatomy. Uma das poucas a abordar cautelosamente os desdobramentos de um mundo ainda em pandemia, a série tem se tornado cada vez melhor. Para este ano, um feixe de 14 episódios traz pacientes em situação de metástase ao lidar com o câncer, outro com síndrome de Capgras, dentre tantas outros casos envolvendo HIV, uma mulher grávida negra que teme o tratamento racista estrutural, o enfermeiro trans que ensina lições de gênero aos demais, o policial contratado para diminuir o impacto da insegurança no hospital, mas que traz desconforto para a equipe de médicos, o casal poliamoroso, uma polêmica motivação para redução estomacal e, como não poderia deixar de ser, o protagonista Max, corpo e alma do hospital que nomeia a série, a buscar solução nada convencionais para tentar mudar ao menos uma mínima porcentagem das celeumas do sistema de saúde em crise desde sempre. Ele quer internet em casa para um determinado grupo de pacientes, diminuir o consumo de produtos hospitalares por causas ambientais, além de outras questões utópicas que mantém o tom humorado do programa, sem deixar, no entanto, se levar pelo que é facilmente dramático e perder, assim, a qualidade. Ao contrário: o nível tem se elevado, com episódios envolventes enquanto entretenimento, mas bastante reflexivos.

Como já mencionado nos textos das temporadas anteriores, New Amsterdam: Toda Vida Importa foi criada David Schulner, baseado no livro 12 Pacientes: Vida e Morte no Hospital Bellevue, de Eric Manheirem. Em sua versão televisiva, o protagonismo fica por conta do charmoso e eficiente Dr. Max (Ryan Eggold), agora menos abatido pelo luto diante da morte da esposa e da criação de sua pequena Luna sozinho. Com a ajuda dos sogros, ele pode ter a tranquilidade de trabalhar no assoberbado hospital e saber que a sua pequena está sob os melhores cuidados, tudo isso, no entanto, tem um preço alto no quesito emocional, pois como a carga de trabalho do médico após a pandemia está mais desafiadora, ele acaba perdendo muitos momentos emocionantes na trajetória de sua filha, em especial, as primeiras palavras. No lado profissional também não faltam obstáculos, pois a sua batalha pela reformulação de questões enraizadas no caótico sistema de saúde estadunidense não o deixa ter um minuto sequer de sossego. Ao longo dos 14 ótimos episódios, ele esbanja proatividade e competência na busca por organização das coisas. Depois de abrir o coração para experimentar novas possibilidades sentimentais, o médico resolve se dedicar quase que exclusivamente ao trabalho no hospital, recuando ainda em busca de se curar do luto que é uma questão praticamente resolvida, mas ainda pede cautela e observação.

Em New Amsterdam: Toda Vida Importa, produção exibida pelo National Broadcasting Company, temos um protagonista muito magnético, mas o time de coadjuvantes também não deixa nada a desejar. Helen Sharpe (Freema Agyeman), oncologista quase tão protagonista quanto Max, evolui e se apresenta como uma das mais importantes figuras ficcionais do programa. A sua vida profissional continua sempre agitada, agora ainda mais, com a chegada da arredia sobrinha, colocando-se numa posição maternal, tendo que lidar pacientemente com o estresse de assumir uma responsabilidade tão grande. O ainda muito carismático Dr. Iggy Frome (Tyler Labine) atravessa uma fase bastante complicada em seu casamento e por um determinado período, precisa se afastar do trabalho para compreender melhor alguns limites indevidamente ultrapassados na relação médico-paciente. O Dr. Floyd Reynolds (Jocko Sims), envolvido num relacionamento à distância, também passa por transformações profissionais, mas o lado pessoal ganha maior destaque, seduzido pelas propostas nada convencionais de uma colega de trabalho atraente e sensual. Quem cresce vertiginosamente é a Dra. Lauren Broom (Janet Montgomery), cada vez mais segura em suas práticas profissionais e experimentando novos rumos no que tange ao campo sentimental, principalmente após a chegada de uma mulher enigmática.

Mantendo o padrão das análises anteriores, destaco a manutenção da qualidade dos padrões estéticos adotados ao longo da terceira temporada de New Amsterdan: Toda Vida Importa. Na direção de fotografia, assinada por Alex Shenkman e Rick Dennis, temos as habituais passagens mais dinâmicas para momentos de tensão, em paralelo com a abordagem mais fechada dos planos quando os assuntos requerem maior carga dramática e captação emocional no desempenho do elenco, todo muito bem articulado, sem ressalvas. Kristi Zea, designer de produção renomada, assume os episódios da temporada, trazendo o costumeiro uso do azul, alguns pontos esverdeados e o branco massivo para o estabelecimento de uma assertiva atmosfera hospitalar. Ademais, é uma boa temporada, talvez o melhor retorno de um drama médico dentro do esquema pós-pandemia. Humor, drama, tensão e reflexões são as propostas desta produção que pode se gabar de ser o melhor drama médico da contemporaneidade, equilibrado na composição de seus personagens, todos devidamente contemplados em suas respectivas dimensões físicas, psicológicas e sociais. Que continue assim na quarta temporada.

Em linhas gerais, no desenvolvimento dos textos deste terceiro ano de New Amsterdam: Toda Vida Importa, situações bem interessantes foram apresentadas como propostas dramáticas para embalar o cotidiano dos médicos e de toda equipe hospitalar. Há um esclarecedor episódio sobre HIV, pouco comum em relação ao processo que engendra a discussão sobre o assunto. Max precisa aceitar fazer publicidade em sua gestão, pois se não for assim, mesmo contra a sua vontade, pode perder receita e prejudicar o andamento das questões administrativas no local. Um avião cai bem no meio da cidade, estabelecendo o caos no hospital, um relacionamento poliamoroso polêmico mexe com a ignorância e o preconceito de muitos personagens, além do assertivo debate sobre o medo das pessoas em se deslocarem ao hospital, temerosas da possibilidade de enfrentar a COVID-19, tema tratado muito superficialmente nos demais dramas médicos da atualidade. Dentre os maiores desafios, está a sobra de determinadas medicações no New Amsterdan, enquanto há falta de muitas outras, situação que mexe com o lado empreendedor de Max, em linha cruzada com diversos outros gestores para promover um festival de trocas que pode resolver a vida de todo mundo. Uma lição de liderança que esperamos, seja continuada nos episódios das próximas temporadas.

New Amsterdan – 3ª Temporada (idem, Estados Unidos/2020).
Criação: Peter Horton
Direção: Michael SlovisLaura Belsey, Peter Horton, Darnell Martin, Jamie Payne, KateDennisAndrew McCarthy, Jonas Pate, Ellen S. Pressman
Roteiro: Joshua Carlebach, Shaun Cassidy, Cami Delavigne, David Foster, Aaron Ginsburg, Eric Manheimer
Elenco: Ryan EggoldJanet Montgomery,Jocko Sims, Zabryna Guevara, Anupam Kher, Tyler Labine, Lisa O’Hare, Margot Bingham
Duração: 45 min (cada episódio – 14 episódios no total)

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