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Crítica | News from the Fallout

Arte ousada em minissérie que fica aquém de sua premissa.

por Ritter Fan
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A proposta de News from the Fallout, título que poderia ser traduzido ao pé da letra para o português como Notícias da Precipitação Radioativa, é bastante simplória, ainda que assustadora, pois reúne explosão atômica com uma praga similar à de zumbis, com o texto do roteirista Chris Condon não tentando inventar muita moda, o que acaba fazendo com que todo o destaque da minissérie em seis edições recaia quase que exclusivamente sobre a característica e marcante arte em preto e branco de Jeffrey Alan Love em seu estilo esfumado (a técnica que manualmente borra o lápis, ainda que ela possa ser também feita digitalmente hoje em dia, claro) que cria imagens sombrias e fantasmagóricas, basicamente perfeitas para a premissa. Minha única dúvida, quando saiu a primeira edição, era se somente isso seria capaz de sustentar uma história completa e se a arte não seria meramente um chamariz, uma forma de gerar burburinho e interesse por algo visualmente muito diferente do que vemos por aí em quadrinhos.

Quando virei a última página da sexta edição, fiquei sem um resposta definitiva à minha dúvida. Condon lida bem, mas não especialmente bem com a paranoia armamentista da Guerra Fria ao fazer com que um general obcecado por uma pedra altere a distância do bunker de proteção de um teste nuclear, o que leva seus soldados a serem expostos não exatamente à radiação, mas sim a cinzas vermelhas que os transformam em monstros sanguinários que contaminam outras pessoas com quem eles entram em contato. Apenas um único soldado desconfia dessa situação antes que ela aconteça e se recusa a retirar a máscara de oxigênio e, com isso, escapando da contaminação e fugindo para um pequeno restaurante de beira de estrada para montar uma resistência com as poucas pessoas que estão lá. É o típico filme de horror B sem firulas à la Roger Corman levado aos quadrinhos que, não fosse a arte, não tenho muitas dúvidas de que passaria razoavelmente despercebido.

Todos os personagens da história acabam sendo basicamente sombras pretas em um fundo cinza, sombras essas que definem cada um deles pelo formato do corpo, do rosto e de alguns objetos que usam, como no caso do cachimbo e dos óculos do dono do restaurante. É sem dúvida uma abordagem visual intrigante e até assustadora, com os detalhes dos rostos sendo omitidos e com as criaturas contaminadas ganhando caninos brancos enormes e formatos esguios de corpos, com Alan Love por vezes deixando o leitor notar os traços monstruosos dos rostos. Não é, porém, algo exatamente agradável de se acompanhar, pelo menos na minha experiência. É como assistir a um filme em preto e branco, o que é costuma valer-se de excelente fotografia, mas só que fora de foco e em baixa definição depois que o assombro inicial passa (e ele passou muito rapidamente no meu caso, já no final da primeira edição), com a estrutura de “história de sobrevivência” não trazendo novidades suficientes para manter o interesse por muito tempo.

Minha incapacidade, porém, de dar uma resposta definitiva à minha própria pergunta sobre se o estilo “forma sobre substância” seria suficiente para manter a narrativa acesa ao longo das seis edições, vem muito mais da compreensão de que o que Condon e Alan Love muito claramente quiseram criar é um experimento dentro da arte sequencial, experimento esse que realmente tenta absorver a pegada de filme B independente das décadas de 60 e 70 e transpô-la para as páginas da HQ e é inegável que eles foram bem sucedidos nisso. Por outro lado, não seria esse um sarrafo baixo demais? Não seria apenas a criação de um veículo para a inegavelmente fascinante arte de Alan Love, quase que como um álbum de desenhos que confirmam o controle absoluto que ele tem sobre seu estilo? Talvez uma história mais curta, menos ambiciosa em escopo (afinal, há flashbacks até para o Cretáceo em determinada altura) sustentasse melhor a escolha pela simplicidade narrativa que abre espaço para os arroubos da arte. Ou, talvez, um mergulho completo na premissa, criando personagens completos e não apenas arquétipos sombreados deles, resultasse em um engajamento maior.

News from the Fallout é, sem dúvida alguma, uma minissérie em quadrinhos que merece destaque por tentar fazer algo realmente diferente, com um arte belíssima em sua capacidade de conjurar imagens de horror, perdição e paranoia, mas que talvez vá além do que sua novidade realmente permita. É um esforço valioso e valoroso, pois experimentação verdadeira é algo que ainda falta nos quadrinhos modernos, mas, pelo menos para mim, o resultado talvez não tenha alcançado todo o potencial de sua promessa.

News from the Fallout (EUA, 2025)
Contendo: News from the Fallout #1 a 6
Roteiro: Chris Condon
Arte: Jeffrey Alan Love
Letras: Hassan Ostmane-Elhaou
Editora: Image Comics
Datas originais de publicação:
Páginas: 190

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