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Crítica | Newton Boys – Irmãos Fora-da-Lei

Robin Hood dos loucos anos 20.

por Kevin Rick
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Newton Boys – Irmãos Fora-da-Lei é um projeto diferente na carreira do cineasta Richard Linklater, normalmente conhecido por seus dramas familiares e narrativas de coming-of-age, especialmente retratadas nos anos 70/80. Este filme, porém, é baseado nos eventos reais da gangue Newton, uma família de ladrões de banco que agiram durante os loucos anos 20. O grupo de bandidos era composto por quatro irmãos: Willis (Matthew McConaughey), Joe (Skeet Ulrich), Jess (Ethan Hawke) e Dock (Vincent D’Onofrio); além de Brentwood Glasscock (Dwight Yoakam), especialista em nitroglicerina e explosivos. Durante sua carreira criminal, a gangue seguiu uma moral de não matar, não machucar mulheres e crianças, e não delatar ninguém, dando um senso respeitável e indulgente ao grupo.

A História parece confirmar a ética da gangue, que, durante seus vários assaltos entre 1919 e 1924, roubaram apenas bancos e trens, nunca ferindo ou tirando dinheiro de pessoas inocentes, por assim dizer. Este certo nível de princípio percorre a obra de Linklater, visto principalmente no discurso do líder Willis sempre justificando seus atos ao dizer que é apenas um ladrão roubando de outro, mas também na maneira que a produção retrata os garotos Newton como jovens divertidos e inconsequentes. A narrativa incessantemente traz à tona o conflito de “certo ou errado”, principalmente nos embates entre o caçula Joe e Willis, mas isso nunca é verdadeiramente desenvolvido.

Isso acontece porque existe uma certa carga de inocência no filme. A trilha sonora de blues mantém uma atmosfera musical alegre e agradável; quase não há violência gráfica ou verbal; os personagens são espécies de caricaturas, do alívio cômico de Ethan Hawke até o charme e lábia de Matthew McConaughey; e a condução de Linklater segue a mesma estrutura de suas obras juvenis com uma narrativa solta, acompanhando pequenos episódios da gangue com um olhar lúdico e cômico para o crime, o romance e as escapadas. Por exemplo, a explosão de um cofre é representada como piada ou então um assalto no Canadá que vira uma espécie de esquete. De certa forma, Newton Boys flerta mais com o carisma do subgênero heist, como um Onze Homens e um Segredo, do que necessariamente uma narrativa de crime densa.

A questão é que Linklater nunca parece acertar na identidade da obra. Mesmo tendo uma veia mais leve para o retrato da gangue, o cineasta não mostra criatividade e nem energia com os assaltos, os planejamentos e as fugas, sem dispor de um set piece digno de nota ou construção de qualquer sensação visual, seja tensão ou diversão – o estilo slapstick cairia como uma luva neste longa. Os diálogos também são insossos, com muita repetição da filosofia chata de Robin Hood, ou então apenas caem em conversas que repetem as características estereotipadas de personagens sem profundidade e com pouca interação, ainda que o elenco individualmente se esforce (Vincent D’Onofrio é, por exemplo, incrivelmente desperdiçado). O fato de figuras secundárias, seja a polícia ou parceiros de crime, serem rostos vazios não ajudam nas dinâmicas superficiais de um exercício de gênero narrativamente pobre.

E mesmo na vibe descompromissada da obra, há múltiplas tentativas de propor elementos maduros, como nas cenas de tortura prisional ou o acidente sangrento com Dock no ato final, que soam extremamente deslocadas no conjunto do longa. Linklater não delineia uma abordagem específica, ficando entre muitos meios-termos, entre ser uma drama ou uma comédia, entre propor uma visão reflexiva ou divertida do crime. Há também diferentes contextos, subtramas e conflitos largados na estrutura livre do cineasta que não combinam com a história, seja o cenário de dificuldade econômica da época ou o romance vazio de Willis e Louise (Julianna Margulies), ainda piores ao analisarmos o desfecho anticlimático do filme em seus interrogatórios e julgamentos sem peso dramatúrgico.

Em suma, Newton Boys – Irmãos Fora-da-Lei é uma obra perdida em tom. Linklater não sabe se está fazendo uma comédia juvenil com assaltos ou um drama de crime, faltando rigor do diretor para as sequências de roubos e mais substância do roteiro para seus personagens e diálogos, além de uma montagem estranha para indicar passagens do tempo. É, sem dúvidas, uma história com carisma, muito por conta dos atores (Hawke e McConaughey em especial), mas é também uma história sem ritmo, pouco dinâmica e genérica, e que não propõe uma experiência com o espectador para além dos ótimos figurinos e design de produção. Linklater parece estar querendo sair da zona de conforto ao mesmo tempo que traz sua identidade mundana e espontânea para a famosa gangue Newton, mas não consegue nos envolver neste universo com o mesmo entusiasmo que fez em seus outros filmes juvenis.

Newton Boys – Irmãos Fora-da-Lei (The Newton Boys) – EUA, 1998
Direção:
 Richard Linklater
Roteiro: Richard Linklater, Claude Stanush, Clark Lee Walker
Elenco: Matthew McConaughey, Ethan Hawke, Skeet Ulrich, Vincent D’Onofrio, Dwight Yoakam, Julianna Margulies
Duração: 122 min.

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