A escolha de abrir com Deixa a Menina, de Chico Buarque, já sinaliza a intenção de dialogar com a MPB de qualidade. O arranjo de César Camargo Mariano, elegante e bem estruturado, permite que a voz de Ney flua naturalmente sobre uma base densa, mas nunca carregada. É um cartão de visitas perfeito para quem queria ser levado a sério. Espinha de Bacalhau traz uma das maiores surpresas do disco, com Gal Costa dividindo os vocais e a Orquestra Tabajara nos arranjos de Severino Araújo. A sonoridade de big band jazz funciona perfeitamente, mostrando a versatilidade interpretativa de Ney em territórios distintos dos usuais.
O minimalismo de Viajante prova que o cantor não precisa de artifícios para sustentar uma interpretação. Apenas piano, percussão sutil e efeitos atmosféricos bastam para criar um dos momentos mais introspectivos e bem realizados do álbum. Homem com H é, sem dúvida, o grande acerto comercial e artístico do disco. O forró de Antônio Barros, arranjado por Oswaldinho com acordeon autêntico e até participação de Bezerra da Silva no agogô, transporta Ney para o Nordeste com surpreendente naturalidade. A letra, que questiona estereótipos de masculinidade com humor inteligente, mostra como abordar temas sociais sem perder o apelo popular. Não à toa, virou um dos maiores sucessos da carreira.
Amor Objeto, de Rita Lee e Roberto de Carvalho, ganha vida através do arranjo sofisticado de Lincoln Olivetti, que combina teclados eletrônicos com sopros tradicionais. É MPB atualizada para os anos 1980, sem perder identidade. Se há um momento de menor inspiração no disco, é Vida, Vida. Apesar da competência técnica de César Camargo Mariano no arranjo e da execução irrepreensível, a canção não estabelece a mesma conexão orgânica das demais faixas comigo. O excesso de elementos na textura musical acaba diminuindo o impacto interpretativo. De Marte compensa qualquer tropeço anterior. A composição de Luhli e Lucinha ganha uma atmosfera etérea através do arranjo inventivo que incorpora cítara elétrica (Sérgio Dias) e efeitos sonoros. Ney interpreta com delicadeza e precisão, explorando as possibilidades fantásticas da canção sem excessos. O encerramento com Folia no Matagal traz elementos regionais através do arranjo exuberante de Ivan Paulo, com guitarra baiana, xilofone e coro de oito vozes. É uma celebração que fecha o disco em clima festivo.
Aumenta!: Homem com H
Diminui!: —
Ney Matogrosso
Artista: Ney Matogrosso
País: Brasil
Lançamento: 1981
Gravadora: Ariola
Estilo: MPB, Forró, Jazz, Pop, Rock
Duração: 33 min.