Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Nick Raider – Vol. 2: O Mistério da Mão Cortada

Crítica | Nick Raider – Vol. 2: O Mistério da Mão Cortada

Um mistério musical.

por Luiz Santiago
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Nesta segunda edição da série Nick Raider, nos deparamos com um enredo um tanto melhor do que o que tivemos na medíocre estreia do personagem, em A Vítima Sem Nome. Eu sempre procuro voltar para esse título, mesmo não tendo gostado tanto do protagonista logo de cara (foi a minha primeira decepção com a Bonelli, por sinal), e sempre encontro um princípio narrativo que me chama a atenção aqui — bem, a literatura de suspense, mistério e investigação sempre foi uma das minhas favoritas da vida. Esses enredos inicialmente chamativos, porém, são acompanhados por resoluções superficiais ou ingênuas demais, o que dificulta levar a trama a sério. Exatamente o que acontece aqui em O Mistério da Mão Cortada.

Claudio Nizzi começa sua história reforçando o mal estar no relacionamento entre Nick e Marvin, o policial negro que parece irritar o colega por conta de seu humor “um tanto sem noção“. Isso escala, inclusive, para uma acusação de racismo, e devo dizer que Marvin não estava errado quando trouxe a situação à tona — apesar de o Comissário passar pano para Nick e dizer que ele é “tão racista quanto Luther King“. É evidente que o personagem não tem esse alinhamento como forma de pensar a vida, mas as atitudes dele em relação a Marvin, ao longo da história, denotam sim atitudes estruturalmente racistas. Sem contar que o uso do “esse cabeçorra negra” já diz muita coisa. Claro que tudo isso é proposital, em termos de desenvolvimento do personagem, tanto que o próprio Nizzi explora a crítica à atitude de Nick. Mas é necessário trazer à luz alguns aspectos em torno dessa situação.

O mistério em cena é muito fiel às linhas narrativas do giallo. O crime é cometido com algum requinte de crueldade ou com forte atenção estética e macabro (a arte de José Eduardo Caramuta se encarrega de fazer algumas brincadeiras visuais nesse sentido, inclusive transformando o mordomo Alfred em uma caricatura de Hitchcock), posição que já aparece no título da história. O primeiro contato com uma “mão cortada” acontece nas primeiras páginas do quadrinho, e à medida que notícias de outras mãos cortadas surgem, a sensação de urgência cresce. A investigação, no entanto, é protocolar e tem pouco brilho, assim como os diálogos escritos por Nizzi. Eu gosto dos roteiros dele para Tex, por exemplo; considero a maioria de “muito bom” para cima. Mas em Nick Raider, ao menos nesse início de saga, penso que o autor não conseguiu se encontrar direito.

A conclusão do mistério tem uma excelente preparação, mas o embate entre um maestro vaidoso e seu mordomo ciumento praticamente minou tudo o que de interessante a reviravolta poderia trazer. O draminha barato que motivou o assassino até poderia ser superado pelo leitor, se a apresentação do clímax fosse assentada em melhores diálogos, além de um desenvolvimento que elevasse o nível da história e considerasse ao menos o peso do assassinato dos jovens pianistas prodígios. A aventura consegue se manter acima da média porque tem uma porção de coisas legais, mas é preciso dizer que, nesse começo de Nick Raider, ver o nível dos textos de Claudio Nizzi me faz sentir até um pouquinho de vergonha. A questão é: o problema é o autor que não trabalha bem com esse gênero ou o personagem que não é tão interessante assim?

Nick Raider – Vol. 2: O Mistério da Mão Cortada (Il mistero della mano tagliata) – Itália, julho de 1988
No Brasil:
Record (1991)
Roteiro: Claudio Nizzi
Arte: José Eduardo Caramuta
Capa: Giampiero Casertano
100 páginas

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