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Crítica | “Nightmare” – Avenged Sevenfold

por Iann Jeliel
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Nightmare

“How do I live without the ones I love?

Time still turns the pages of the book it’s burned”

Tenho certa dificuldade para compreender a rejeição de Avenged Sevenfold (vulgo, A7X) no público samaritano do rock. Se tratando de heavy metal no século XXI, a banda está no panteão das poucas surgidas nesse período recente que souberam sair do underground screaming genérico, se reinventando para uma estética musical mais comunicativa com a geração jovem, contendo um certo apelo popular gótico, sem deixar de preservar o antigo espírito da inspiração agressiva e mitológica, característicos do old school, somente os deixando com uma roupagem emocionalmente mais robusta em líricas e instrumentalidade. Esse teor teen do metalcore tão renegado pelos saudosistas preconceituosos presos ao passado, ganha contornos simbólicos em Nightmare, álbum posterior a morte de James “The Rev” Sullivan, baterista da banda, que de alma do grupo passa a ser a alma inspiradora para o ápice da banda nesse álbum em sua homenagem, perfeitamente equilibrado entre o sombrio e o baladeiro poético.

Muito dos méritos por trás desse equilíbrio, vem de Mike Portnoy, o ídolo de Rev, líder e ex-baterista do Dream Theater, famosa banda progressista da década de oitenta, que preenche o espaço de falta, sem tomar para si o protagonismo que o antigo membro tinha. Pelo contrário, Portnoy se encaixa ao estilo tradicional e tecnicista de Avenged, ainda Rev faça falta o papel de co-vocal com o cantor M. Shadows – apesar de ele ter composto já algumas partes utilizadas em Fiction –, a sintonia instrumental do novo membro com Zacky Vengeance e Synyster Gates na guitarra e Johnny Christ no baixo é evidente, especialmente no acelerar e desacelerar constante da partitura. Aliás, desde City of Evil, está variação de refrãos leves acentuados por picos prévios de screaming envelopado na agressividade calculada dos três instrumentos.

Parece fácil o recurso da turbulência para reiterar a oração final, mas principalmente em palco, é possível perceber que os movimentos e separações são milimétricamente estudados entre a tríades, para o efeito rítmico desejado. Diferente de seus outros grandes trabalhos, o já mencionado álbum de 2005 e o autointitulado de 2007, Avenged Sevenford possui uma grade conteudista em Nightmare mais unitária, pelo subterfugio do luto que dá ênfase ao fantasioso com uma certa melancolia. Antes esse lado tinha como intuito um grande apelo sensorial e não tanto textual. Não que este esteja ausente com a melhoria das letras. A7X só evolui a cada álbum em termos de efeitos especiais e sonoros digitalizados.

É só pegarmos de exemplo a música Nightmare, que dá título do álbum, no início nos inserindo sonoramente no mundo do sono através de um tecladinho sutilmente modificado que representa perfeitamente o sentimento de transe na transição onde deixamos de estar acordados, mas também traz uma angústia, remete que há um perigo à espreita, vindo em lírica, na didatização da temática do pesadelo como uma alegoria a vários campos, sociais, religiosos e pessoais do eu-lírico. É uma canção para além de muito empolgante enquanto hit principal da banda, com várias camadas, sendo possível de interpretá-la até mesmo em caráter homenagem – “Your tragic fate is looking so clear, yeah!”.

Eu não a leio dessa forma, para mim é junto com Danger Line e Natural Born Killer, as músicas que mais se apegam na emulação do cenário que as descrevem, ou seja, a parte sensorial mesmo. As duas citadas, tratam sobre guerra, uma em campo de batalha e outra em campo psicológico deturpado do eu-lírico pós participar de uma ou antes – fica ambíguo –, com o título fazendo referência a Assassinos Por Natureza, filme escrito pelo Quentin Tarantino nos anos 90. Particularmente, gosto bastante dela e não tanto da outra, em termos de construção instrumental.

Buried Alived e God Hate Us são outras para serem encaixadas a parte também. Tematicamente livres de uma conexão tão explicita, apesar de não serem canções arbitrárias a mitologia mórbida destaque desde a capa, sendo aquelas famosas “composições de palco”, que trás o espírito instrumental mais pesado das origens da banda.  Destaco na primeira, o solo de guitarra-gêmea fantástico de Vengeance no ato final da música – de deixar Kirk Hammett orgulhoso – e na segunda, em olhar periférico, a clara evolução da capacidade screaming mais bem dosada por parte do vocalista M. Shadows desde Unholy Confessions, utilizando o auxílio também do instrumental preparativo calmo do início da canção.

De resto, aí, sim podemos considerar o álbum como menções diretas ou indiretas ao luto do grupo sobre o baterista. Algumas mais obvias, como Fiction e Save-Me, exploram essa dor compartilhada e incerta do que serão o grupo sem ele, outras resguardam sua despedida em subjeções da fantasia, como Welcome to the Family que praticamente lhes dá uma boa vinda aos céus e Tonight The World Dies mencionando muito do sentimento que acompanhou na noite antecedente a tragédia. Fiction e Save-Me, por sinal são as que menos me agradam da tracklist, apesar dessa segunda ser consideravelmente bem-amada pelo teor progressivo do instrumental realmente interessante, mas que não tira o seu caráter cansativo na ampla duração e troca de ritmos, prefiro as duas baladas diretas mencionadas que os ouvintes mais torcem a orelha no álbum.

As melhores dedicatórias e sem dúvidas as melhores e minhas favoritas canções do disco são So Far Away e Victim. A primeira inclusive, iniciou-se como uma homenagem ao falecido avô de Synyster Gates, mas a composição é tão universal ao teor do luto de uma pessoa querida deixando um mundo precocemente ao que podia ainda oferecer, que o encaixe foi automático. Um verdadeiro hino do presente álbum, com uma construção lírica inicialmente muito objetiva, presa num refrão que decresce em seu caminho sobre um violão descompromissado, dando a abertura a um expurgo no solo de guitarra curto do terceiro ato, acompanhado de um desabafo emocional veemente impactante, retomando a força do refrão para outro paradigma em sua última passagem.

Victim, é mais cautelosa, seguindo os moldes de Nigthmare em criar toda uma atmosfera onírica – só que esperançosa –, antes de começar a letra, a máxima do álbum em quesito de complexidade narrativa, que vai do contemplativo ao pico de indignação em outro desabafo emocional com direito a outro acompanhamento em solo guitarras-gêmeas espetacular de Vengeance. expondo o sentimento de impotência perante o “crime” descrito como ciclo de fim da vida, em que o eu-lírico e todos inevitavelmente se tornam vítimas.

Nightmare é o ápice de Avenged Sevenfold. Possui uma temática central obscura que conversa adequadamente com o metalcore de origem da banda, o heavy metal agressivo de inspirações e o teor mainstream mais agradável e baladeiro do apelo popular juvenil. Mesmo sem o contexto de tributo, é um álbum icônico do rock dos anos 2000, maduro, cinematográfico e híbrido dentro dos elementos que a banda oferece de melhor, mas logicamente, as circunstâncias o dão um caráter especial, uma honestidade emotiva dificilmente não conquistadora, a menos que você seja definitivamente um xiita. É um álbum para separar os homens dos meninos, seja para a banda, seja para quem escuta.

OBS: Na versão Japonesa do álbum, há uma faixa bônus chamada Lost It All, lançada depois no compilado Diamonds in the Rough de 2020. Por isso, foi desconsiderada na crítica.

Aumenta!: Nightmare, So Far Away e Victim
Diminui!: Fiction
Minha Canção Favorita do Album!: Victim

Nightmare
Artista: Avenged Sevenfold
País: EUA
Lançamento: 27 de julho de 2010
Gravadora: Warner Bros. Records
Estilo: Rock, Heavy Metal, Rock Alternativo, Metalcore

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