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Crítica | Nimic (2019)

por Davi Lima
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Nesse curta contemporâneo do diretor Yorgos Lanthimos (A Favorita, O Lagosta), intitulado Nimic, as determinações dos gêneros sexuais e das ações de importância delas no ambiente doméstico se auto fagocitam no universo de estranheza da direção. Numa narrativa nem tanto inverossímil, questiona-se fortemente, no artifício da esquisitice, a relevância de tais definições de sexo e formatações familiares quando se atribui exclusivamente ao chamado conservadorismo, ou que se chama estereotipicamente e erroneamente, como cultura cristã ocidental.

Quando o espaço e as ações do personagem masculino, o pai (Matt Dillon), variam na associação com a música clássica tocada no curta, e depois se revela que ele toca um violoncelo, a didática aparece. Demonstra-se o grau de importância sobre o que ele considera em equivalência à sua vida familiar, visualmente morgada, em comparação com sua profissão inspirativa, para que a trilha sonora explicativa não incidental explicadamente seja sobreposta nas cenas. É pungente, nesse sentido, o moralismo para o processo de mimetização em estranheza ser mais aceito, em que o homem da casa apenas serve ao ordinário doméstico representativo, sem engaje, pois a todo momento quando sua mente aparece nesse espaço consiste na música tocada.

Nisso, dois pontos fundamentais demarcam esse contexto explicativo, como a fotografia enfática no distanciamento entre o pai e a mãe (Susan Elle), usando-se uma lente que cria a sensação espacial mais deformada, e o alinhamento da música clássica que se ajusta à montagem alternada entre eles como início do curta. No que se atenta à mimese exótica e ficcional, em que essa fotografia impositiva contribui para aliviar a tensão entre o realismo e o mínimo surreal, é a extrapolação de uma visão conservadora de uma mulher desconhecida (Daphne Patakia) substituir o pai em dimensões inter relacionais gerais que ele se encaixa na vida da família e trabalho. As características do ator Matt Dillon como deprimido, o casal ser interracial, os filhos serem passivos, e a mulher mimética estereotipicamente ser um padrão “europeu de beleza”; tudo isso constitui o contexto a ser moralizado. A direção de Yorgos, em curta duração, simbioticamente consegue ser objetiva em relacionar sua ilusão narrativa com a didática formatação de testes e cenas para provar seu comentário social recluso a espelhamentos e comparativos diretos.

Nesse sentido, quando o advento maior da história é a substituição do homem pela mulher de maneira complacente em medidas sexuais de prazer, há o julgamento das crianças e da esposa. O homem se torna dispensável. Isso pode até ser instrumentalizado para argumento reacionário, em vista que o exagero da mudança de gênero é o desenvolvimento do drama, até porque a música se altera, agora reflete outro significado para o curta, e não é relacionado a habilidade mimética de tocar violoncelo da mulher. Porém, as escolhas narrativas de repetições e ressignificações reafirmam o argumento irônico na transformação moral sem entraves, de que uma onda progressista nesse universo estranho permite que uma pergunta no metrô possibilita trocas sociais profundas entre o homem e a mulher em conforto das ações que o pai antes fazia. Conflita-se, então, se as afirmações masculinas eram realmente tão mais profundas, ou eram uma continuidade tradicional com significado frágil de mutabilidade, devido a importância que o pai dava a sua própria casa e família. Por consequência irônica à reação de uma onda progressista, o curta só evidencia um conservadorismo, por exemplo, que não se dispõe a falar de racismo, só de gênero.

Por isso, há um chamado de alerta para uma real cultura cristã ocidental dentro desse universo exótico de mimetização criado no curta. Cada vez mais essa cultura se porta por uma ideologia conservadora, não mais por seus princípios bíblicos de pureza moral e divina, defendendo estamentos sociais sem fraternidade fidedignos, seguindo uma moral que facilmente pode ser trocada sobre a pergunta do tempo. A tal atualização da tradição não se reflete na troca, mas nessa obra o que se enfatiza é que não se concebe mais a conserva social nas proporções flexíveis da humanidade, apenas de um ideal político sem coerência nas várias dimensões sociais.

Nimic (Nimic) – Alemanha | EUA | Reino Unido, 2019
Direção: Yorgos Lanthimos
Roteiro: Efthymis Filippou, Yorgos Lanthimos com base na ideia de David Kolbusz
Elenco: Matt Dillon, Daphne Patakia, Susan Elle, Sara Lee, Eugena Lee, Rowan Kay, Anvo Kyle
Duração: 12 min.

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