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Crítica | Nimona

por Pedro Cunha
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Não é novidade que o universo criado por J.R.R. Tolkien é um dos mais queridos de toda a literatura mundial. Mas o que você leitor não deve saber é que existe um tipo de fã das obras situadas na Terra Média que se diferencia de todos os outros. Esse indivíduo é tão apaixonado por aquilo que foi criado pelo pai da fantasia, que passa a vida toda à procura de algo que supra sua falta de Terra Média. Este que aqui escreve é um desses fãs. Há anos procuro obras que preencham esse vasto vazio deixado pelo Condado, Valfenda,  Gondor e até mesmo por Mordor.

Quando vi a capa de Nimona pela primeira vez, meu “sentido Tolkien” soou. Ali via três personagens, dois homens, um que parecia ser o cavaleiro, outro com cara de vilão e,  por último, uma menina com o cabelo estranho entre eles. Surpreendi-me ao notar que meu julgamento estava errado e que o quadrinho parecia ser algo muito mais profundo que uma história do bem contra o mal.

Noelle Stevenson é uma prodígio nos quadrinhos, com apenas vinte e cinco anos já trabalhou para Marvel, DC e Disney, tendo ganhado um prêmio Eisner por seu trabalho, em conjunto com Grace Ellis, em Lumberjanes. Nimona faz questão de justificar todo esse reconhecimento. A autora tem um traço muito característico, simples, chegando a ser tido como infantil em alguns momentos. Esse estilo gráfico rima completamente com a história que ela quer contar com o álbum.

Estamos em um período medieval, essa palavra traz junto com ela um estilo visual, pensamos em torres, castelos, espadas e cavalos. Nimona entrega tudo isso e vai além, pois vemos o velho mesclado com o novo. Os personagens estão em castelos, vestindo armaduras e sentados na frente de um monitor gigante e usando celulares. O mais interessante disso tudo é que Noelle não faz questão de explicar o porquê isso acontece, fazendo com que seu leitor simplesmente aceite aquilo, sem questionar.

A trama principal gira em torno de Nimona, uma metamorfa que consegue se transformar, em um piscar de olhos, em todo o animal que quiser. Ela é fã de Coração-Negro, o maior vilão de todo o reino. Logo no começo do enredo há um encontro entre ambos, como ela é uma admiradora do trabalho do malvado, não demora muito para ambos unirem forças para cometer seus atos de vilania.

Toda essa trama parece ser muito clichê, já vimos inúmeras histórias que possuem o vilão como protagonista. Noelle, porém, leva a sua narrativa para algo muito mais profundo, e com o tempo vemos que Coração-Negro não é um vilão, ele luta apenas para impedir que seu amado reino caia nas mãos de algo muito ruim. Mas onde está o terceiro personagem que aparece na capa? Ele é Ambrosius Ouropelvis (definitivamente o melhor nome da HQ) um cavaleiro mais honrado de todo o reino e ex-amigo de Coração-Negro. Ele serve a uma grande corporação, que rege toda cidade.

Toda essa trama é narrada com painéis bem pequenos, a autora faz questão de deixar os personagens sempre em foco, mesmo que, às vezes, desenhe planos mostrando a cidade, não vemos splash-pages, ou páginas com quadros únicos. Toda essa escolha dá uma dinâmica muito interessante para a narrativa, principalmente em momentos de ação e diálogos rápidos.

Nimona se torna uma história muito divertida, agradando, com sua narrativa leve e profunda, crianças e adultos. O quadrinho seria perfeito se não fosse pelo seu final, não digo o último ato por completo, mas sim os últimos momentos da trama. Noelle preferiu encerrar sua trama de forma cômoda e direta, entregando tudo na mão de seu público, não deixando espaço para a imaginação do leitor fluir para além das páginas.

Tirando toda essa camada de espadas e armaduras, a autora entrega uma história sobre pessoas. Sua protagonista e seu amigo, Coração Negro, são diferentes do convencional e em Nimona vemos uma grande jornada de aceitação, não apenas de ambos, mas de todos os outros que preenchem esse cenário que mistura o medieval com o atual.

Nimona (Nimona) — EUA, 2015
Roteiro: Noelle Stevenson
Arte: Noelle Stevenson
Cores: Noelle Stevenson
Letras: Noelle Stevenson
Editora original: HarperCollins
Datas original de publicação: maio de 2015
Editora no Brasil: Intrinseca
Data de publicação no Brasil: setembro de 2016
Páginas: 272

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