Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | Ninho do Terror

Crítica | Ninho do Terror

por Leonardo Campos
704 views

A experiência com Ninho do Terror funcionou da mesma maneira desafiadora que a sessão de Hospedeiros – Ameaça Interior, ambos sobre os desafios de um grupo de habitantes de uma região conhecida por sua tranquilidade, abalada depois que algumas descobertas nada agradáveis apontam que monstros inesperados pretendem aniquilar os moradores do local. Foi muito difícil chegar ao desfecho desta produção lançada em 1988, focada na infestação de baratas modificadas geneticamente e responsáveis pela devastação de outras espécies animais, inclusive os racionais, nós, seres humanos. Os realizadores não poupam os espectadores da presença desta criatura conhecida por viver em torno de cinco meses, gerar em média 40 filhotes ao longo da sua infame trajetória, além de conseguir ficar até um mês sem se alimentar. A guerreira é talvez o inseto mais indesejado da história da humanidade, ao menos no quesito asco, pois talvez perca para as aranhas no que diz respeito ao potencial ameaçador da espécie.

Estudos contemporâneos revelam que nós detestamos baratas por causa de sua associação com tudo aquilo que não nos serve. É uma fobia canalizada psicanaliticamente em nossas existências cheias de fobias para terapia e compreensão. Quando pensamos nas baratas, associamos de alguma forma aos detritos, esgotos, ralos, etc., além do contato ao longo de nossas vidas com pessoas que demonstraram tanto horror diante destes insetos que acabaram nos contaminando com os seus medos internos. Ninho do Terror, dirigido por Terence H. Winkless, cineasta norteado pelo roteiro de Eli Cantor e Robert King, nos faz acompanhar a trajetória dos habitantes da Ilha de North Port, tomada por baratas geneticamente modificadas, responsáveis por espalhar horror e morte por todos os caminhos traçados em seu projeto de destruição dos seres humanos. Tudo começa com destruição de livros da biblioteca, seguido de alimentos do supermercado, remexidos indevidamente, mas por um invasor misterioso até então.

Quando um cachorro morre em circunstâncias bizarras, Richard Tarbell (Franc Luz) começa a tomar as rédeas da situação e iniciar uma cuidadosa investigação. A presença comum de baratas entre um ponto e outro, tais como em sua xícara de café ou próxima aos alimentos da lanchonete é uma coisa. Mas a possibilidade de uma infestação é um problema bem mais complexo, ainda longe de ser imaginado no desdobramento da primeira metade do filme. O que saberemos mais adiante é que uma corporação apoiada pelo prefeito da cidade (Robert Lansing), despejou produtos indevidos e fez pesquisas misteriosas, responsáveis pela mutação que está fora de controle e caminha para a devastação absoluta da ilha. Para ampliar a tensão sexual que este tipo de filme idolatra, temos a chegada da filha do prefeito, Elizabeth (Lisa Langlois), mocinha com cara de final girl que emprega romance e mais heroísmo na vida do protagonista que precisa não apenas cuidar dos habitantes da ilha, mas proteger a sua ex que agora está de volta.

Assim, ao longo dos 88 minutos de Ninho do Terror, temos alguns dilemas, dentre eles, a necessidade de aplicar a substância para extermínio que pode eliminar as baratas, mas ao mesmo tempo vai devastar todo o ecossistema, tamanha a sua força química. Há ainda os personagens que não ajudam na resolução do problema, a direção de fotografia de Ricardo Jaques Gale, criador de cenas em ponto de vista para emular Tubarão e retardar a aparição dos insetos que não assustam por sua dimensão gigantesca, mas por parecer exatamente com os asquerosos seres que algumas vezes conseguem driblar a dedetização e nos fazer uma visita nada agradável. A trilha sonora de Rick Conrad funciona no desenvolvimento da tensão, associada ao exagerado design de som das baratas, ruídos bizarros que a pós-produção de Steve Barnett acrescentou para anunciar a ameaçadora presença dos insetos. Ademais, James M. Navarra fez um trabalho razoável nos efeitos especiais, em especial, na rocambolesca cena da gruta próxima da praia, local onde a rainha da espécie encontra-se alojada.

Pronta para o embate, uma guerra que precisa ser vencida, pois a sua morte representa a extinção do exército de insetos que tomou a ilha de assalto e já fez diversas vítimas, a barata soberana é o principal foco do último ato da aventura de horror. Há algumas passagens bem excêntricas no filme, tais como as baratas aglomeradas na lanchonete de uma personagem importante no desenvolvimento da história. Ela cansa de tentar exterminar os bichos que aparecem aos montes. Com isso, dá-lhe baratas liquidificadas no milk-shake, tostadas na panela de batatas-fritas, amassadas com objetos diversos, parte integrante das tentativas fracassadas de afastar os insetos maléficos, multiplicados pela reprodução fora do comum. São cenas nojentas, mas com uma estrutura genérica que funciona dentro das ambições de um filme do segmento. Ele segue bem a sua tipologia narrativa e é eficiente no trabalho sobre criaturas geneticamente modificadas e assassinadas do cinema. Não é uma obra-prima, mas deve entreter os menos exigentes e não incomodar aqueles que sequer se importam com as detestáveis baratas, seres imundos e visualmente horrorosos, de profundo mau-gosto do nosso “criador”.

Ninho do Terror — (The Nest – Estados Unidos, 1988)
Direção: Terence H. Winkless
Roteiro: Eli Cantor, Robert King
Elenco: Franc Luz, Lisa Langlois, Nancy Morgan, Robert Lansing, Stephen Davies
Duração: 88 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais