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Crítica | No Limite (1997)

Anthony Hopkins e Alec Baldwin enfrentam um urso e a fúria da natureza!

por Leonardo Campos
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Numa sociedade dominada por classificações, vamos refletir: seria No Limite uma narrativa adequada para inserção no bojo dos clássicos modernos do horror ecológico? Vejamos: há um acidente de avião, seres humanos ficam perdidos numa região florestal gélida e durante boa parte da história, a dupla protagonista vai tentar sobreviver aos intensos momentos de perseguição envolvendo um urso, fera selvagem parte integrante do topo da cadeia alimentar. Diante do exposto, a aventura lançada em 1997 e protagonizada por Anthony Hopkins e Alec Baldwin possui todos os ingredientes básicos para ser um autêntico exemplar do subgênero que rende produções em ciclos constantes na indústria cinematográfica, mas não chega a ser exatamente um integrante completo do segmento. Podemos dizer que possui apenas alguns traços bem delineados. No geral, é uma narrativa de sobrevivência, uma trama repleta de momentos de tensão entre humanos que adentram num embate de proporções quixotescas, tendo a temática selvagem como pano de fundo para a abordagem essencialmente humana do texto.

Dirigido por Lee Tamahori, baseado no roteiro de David Mamet, No Limite é uma narrativa de luxo em todos os seus aspectos estéticos e no que concerne alguns desempenhos dramáticos. Alguns pontos do texto apresentam excessos e a execução exímia do cineasta responsável por guia o material para encenação é satisfatória, mas também ultrapassa por alguns minutos o tempo de duração ideal para este tipo de aventura, algo que pode tornar alguns momentos um pouco arrastado, tomados pelo “tal” marasmo ao longo de seus 117 minutos de duração. Dramaturgo conhecido por poetizar histórias humanas e urbanas, David Mamet coloca os seus personagens para vivenciarem situações de resiliência em meio ao ambiente selvagem, algo incomum em sua trajetória na construção de tessituras dramáticas. Repleto de alegorias, o filme possui, como já mencionado, alguns traços do gênero aventura, doses de horror ecológico de luxo, isto é, aquele em que atores de calibre no sistema hollywoodiano interpretam cenas de perseguição envolvendo as forças da natureza, bem como os velhos arquétipos entre o bem e o mal, o experiente e o iniciante, o culto e o superficial, dentre outras dualidades em prol do estabelecimento da tensão.

Na trama, conhecemos Charles (Anthony Hopkins), um homem culto, sempre observador das coisas que gravitam em torno de seu cotidiano. Ele é esposo de uma mulher bem mais jovem, modelo que segue em viagem para uma região gélida dos Estados Unidos para ser fotografada por Robert Green (Alec Baldwin). Ele desconfia que a sua mulher mantém um caso tórrido com o fotógrafo, algo que será revelado como verdadeiro ou não mais adiante, depois que eles sofrem um acidente de avião ocasionado por um encontro inesperado com um bando de aves migratórias. Só isso já seria suficiente para pincelar No Limite com um leve verniz de horror ecológico, mas a associação com o subgênero ocorre mais adiante. Após a situação, eles sobrevivem, mas o piloto do avião morre. Ah, sim, eles viajam para um reconhecimento de área e pesquisa. A esposa e os demais viajantes do grupo ficam na estalagem. No meio da selva, perdidos, eles estão acompanhados por Stephen (Harold Perrineau Jr.), assistente do fotógrafo, personagem afroamericano que sabemos, não vai durar muito nesta situação. Para contar o resto da história ficam os dois homens, em guerra entre si e com confrontos além do enorme e agressivo urso que aparece para tornar os desafios ainda maiores que a fome e o cansaço do acontecimento adverso.

Com eficiente direção de fotografia de Donald McAlpine, No Limite investe em equilíbrio na representação dos dramas humanos em planos mais fechados, associados aos momentos de abertura do quadro para contemplação das paisagens reais e os trechos gravados em estúdio, adornados pelos efeitos visuais supervisionados por Kent Houston, setor responsável por ampliar a dimensão de “maravilhamento” e perigo diante das belezas e medos apresentados pelo ambiente selvagem inóspito. O urso, “interpretado” por Bart, uma criatura adestrada e já circundante no esquema de produções hollywoodianas entrega o seu desempenho com ajuda dos efeitos especiais da equipe de Mike Vezina, também eficientes e adequados para o desenvolvimento da narrativa que mescla elementos de gêneros distintos do cinema. No design de produção, Wolf Kroeger entrega uma atmosférica estalagem para os hospedes nos primeiros momentos situados no território geográfico gélido, sensação somada ao competente trabalho de Jerry Goldsmith na concepção da trilha sonora, uma textura percussiva adequada para a narrativa em questão. Ademais, nada de surpreendente ou inesquecível. Apenas um grande e bom filme, bastante funcional nas cenas com o “ataque animal”, em meu olhar, um dos maiores atrativos.

No Limite (The Edge, USA/Canadá – 1997)
Direção: 
 Lee Tamahori
Roteiro: David Mamet
Elenco: Anthony Hopkins, Alec Baldwin, Elle Macpherson, Harold Perrineau, Bart the Bear, L.Q. Jones, Kathleen Wilhoite, David Lindstedt
Duração: 117 min

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