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Crítica | Noite Infeliz

Ensaiando uma sátira natalina.

por Felipe Oliveira
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Indo na contramão da explosão romântica de filmes natalinos, logo na primeira cena, fica evidente o objetivo de Noite Infeliz: fazer uma sátira. Nas mãos de Tommy Wirkola, diretor e roteirista conhecido por algumas comédias sanguinolentas em sua filmografia, o foco não poderia ser outro: uma ode cínica a preservação do espírito natalino, muito disso regado ao seu estilo de oferecer uma perspectiva trash ao que um nicho tem oferecido. No entanto, essa suposta roupagem termina se tornando um completo pastelão, que busca fazer média como um filme de ação e comédia ultra-violenta e metalinguística, mas que nunca consegue conciliar suas ideias para além de algo irregular e meramente ridículo.

Enquanto Wirkola se mostra bastante seguro ao poder levar sua abordagem para uma simbologia natalina, o tecido satírico do roteiro depende da escrita de Pat Casey e Josh Miller, dupla atrelada a alguns nomes da comédia de besteirol americano, e mais recentemente, aos filmes live-action de Sonic. Adotando um caráter expositivo e por vezes irritante e didático, Violent Night quer o tempo todo sinalizar e reafirmar as inspirações para a trama que está desenrolando, como se dessa forma estivesse aplicando uma suposta metalinguagem. Assim, através da pequena Trudy (Leah Brady) o texto revela seus acenos a Esqueceram de Mim, e por meio da figura petulante, mal-humorada e em crise existencial do Santa Claus (David Harbour), a influência de Duro de Matar.

O que os longas possuem em comum é por se passarem durante o Natal, e enquanto em Home Alone, ao ter sua casa invadida por ladrões o jovem Kevin (Macaulay Culkin) utilizava das mais criativas artimanhas para combater os carrascos, em Die Hard, o icônico John McClane (Bruce Willis) era um agente de polícia que precisava impedir a ação de terroristas dentro de um prédio. Considerando isso, o roteiro de Casey e Miller reproduzem tais premissas trazendo a disfuncional família de classe alta Lightstone, que na noite de Véspera de Natal são surpreendidos e feitos de reféns por mercenários. O que a equipe de elite não contava, era ter o complexo plano frustrado pelo Papai Noel.

Querendo surfar na onda da nostalgia, não deixa de ser interessante como o filme usa de base uma iconografia que nos remete a um simbolismo clássico de suas respectivas memórias. Esqueceram de Mim detém o caráter familiar, harmonioso, travesso e cômico de uma aventura natalina carimbada da Sessão da Tarde, já Duro de Matar, relembra o categórico arquétipo do brucutu sendo testado, recebendo um contraponto ao escopo de figura imbatível. O irônico, é como a subversão funciona genuinamente através do Papai Noel vivido por Harbour, que para manter a essência do Natal que acredita, recorre a métodos nada convencionais. Neste caso, o que Noite Infeliz almeja entregar é uma história que não renega o tradicionalismo fantasioso e esperançoso do espírito natalino, mas que busca licença para realizar isso às avessas, com direito a porradaria, violência gráfica e muito palavrão.

No entanto, é notório como essa união entre clássicos numa suposta releitura subversiva sofre de um desequilíbrio frustrante. A sensação é de que o roteiro tenta agradar dois estados distintos de espírito, oferecendo uma familiar mitologia que resgata as crenças e tradições, mas que também brinca com personificações que satiriza a convencionalidade com um tom violento, grotesco e sádico, sem deixar esquecer da ingenuidade boba e perversa que fazia Home Alone tão divertido. Porém, enquanto a gama de ação e gore do filme consegue convencer graças a performance assertiva de Harbour, o argumento cai no ridículo nas personalidades estereotipadas dos vilões que nunca se validam… aliás, nenhum personagem além do Santa Claus atinge uma nota que sobressaia a tosquice do péssimo desenvolvimento que se resume a pessoas imaturas reunidas que xingam, trocam farpas e bostejam — era para ser engraçado?

Mesmo conduzindo sua trama com duas inspirações fílmicas, Violent Night tece o próprio conto natalino, forjado numa mitologia de ação e comédia embalada para a cultura pop. Se por um lado a pequena Trudy carregava a inocência de acreditar, sendo essa virtude o fio de esperança para ver seus pais juntos novamente, para o Noel, usar sua magia de origens nórdicas para salvar o Natal de uma criança que ainda acreditava em sua figura, servia como redenção, onde poderia redescobrir a essência que foi perdendo seu valor para a cultura do consumismo exacerbado. Em síntese, Wirkola reflete em seu novo filme um superficial protótipo da tendência hollywoodiana: a comédia referencial para contrapor um nicho. Mas de nada adiantaria se Harbour não viesse para a festa.

Noite Infeliz (Violent Night – EUA, 2022)
Direção: Tommy Wirkola
Roteiro: Pat Casey, Josh Miller
Elenco: David Harbour, John Leguizamo, Alex Hassell, Alexis Louder, Cam Gigandet, Edi Patterson, Beverly D’Angelo, Leah Brady, Alexander Elliot, Brendan Fletcher, André Eriksen, Mike Dopud, Mitra Suri
Duração: 111 min.

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