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Crítica | Noites Alienígenas

Retornando às origens.

por Roberto Honorato
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Dentro desse mundo há outros mundos, e dentro desses mundos, há outros mundos.

Sendo divulgado como o primeiro longa realizado pelo Acre, a escolha de chamar o filme de “Noites Alienígenas” foi uma boa sacada, não só pelo ar de mistério e ficção científica que dá ao filme, mas pelas diversas interpretações da obra, a principal delas sendo exatamente essa alienação por parte de muitas pessoas que não tem contato com a cultura acreana. Outra decisão inteligente é situar a trama do longa em uma área urbana, o que abre a possibilidade de nos apresentar um lado pouco explorado do estado amazônico, muitas vezes representado por suas florestas e mata, o que também não é esquecido aqui, e por conta desse contrate entre o verde e o cinza que a ancestralidade se torna um dos principais temas de Noites Alienígenas.

Há muitas mudanças na cidade de Rio Branco, com novas dinâmicas surgindo por conta da rota do tráfico do país, que tem chegado na região através dos vizinhos do sul. É nesse contexto de violência e tensão que seguimos as narrativas paralelas dos jovens Sandra (Gleici Damasceno), Paulo (Adanilo Reis) e Rivelino (Gabriel Knoxx), cada um deles tentando viver em um ambiente de muita paranoia e embates territoriais, com Sandra mantendo um grupo de jovens engajados com arte, enquanto Paulo e Rivelino possuem relações mais íntimas com o mundo das drogas, um como vendedor, outro como consumidor. Enquanto isso, figuras como Alê (Chico Díaz) se encontram no meio das brigas dos jovens, tentando diminuir as tensões.

Baseado no livro homônimo de Sérgio de Carvalho, que dirige e assina o roteiro com Camilo Cavalcanti e Rodolfo Minari, Noites Alienígenas tem muitos pontos interessantes, explorando a herança do passado ignorada por parte da população, mas também a riqueza cultural construída em cima e para além dela. Talvez o único problema seja exatamente a forma como esses temas poderiam ter sido mais explorados, principalmente a batalha de Paulo contra o vício e sua reconexão com a natureza e ancestralidade, o que rende alguns dos segmentos mais criativos do longa, com uma abordagem mais onírica e fantasiosa. O lado urbano é forte e cheio de debates igualmente promissores, mas que não recebem o mesmo peso dramático e soam mais artificiais em diálogos e interações repetitivas, o que acontece pouco e não afeta negativamente a obra de forma geral, porém é algo que poderia ter sido mais bem trabalhado. Carvalho poderia ter usado melhor a duração do longa para deixar a trama mais objetiva e fazer com que as personagens fossem além do que foi apresentado, porque a primeira metade do longa estabelece muito bem seu universo, mas demora para deixar claro os dilemas das personagens, e quando chega na segunda metade parece estar com pressa para resolver as coisas.

Muito do que sustenta essas cenas é a força de um ótimo elenco, principalmente a dinâmica entre o veterano Chico Díaz e Gabriel Knoxx, ambos servindo de ponte entre arcos dramáticos, com a personagem de Díaz criando uma conexão entre as gerações de moradores de Rio Branco, e Knoxx sendo o intermediário entre diversas subtramas de traição e poder. Gleici Damasceno assume uma posição mais passiva, o que funciona para a personagem, e Adanilo Reis é um grande ator que tem recebido mais destaque, e merece mais, aqui tendo o único “arco” dramático completo.

Noites Alienígenas mostra a força do cinema acreano, com muito para apresentar para o cinema do país, principalmente em seus debates e um excelente elenco. Poderia ser maior ou ter utilizado melhor seu tempo, mas o resultado final é positivo e vale a pena conhecer o cinema do Acre.

Noites Alienígenas (Brasil, 2022)
Direção: Sérgio de Carvalho
Roteiro: Sérgio de Carvalho, Camilo Cavalcanti, Rodolfo Minari
Elenco: Gabriel Knoxx, Adanilo Reis, Gleici Damasceno, Chico Diaz, Joana Gatis, Chica Arara, Bimi Huni Kuin, Duace
Duração: 91 min.

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