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Crítica | Nova Luta Sem Código De Honra

por Ritter Fan
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Nem bem Kinji Fukasaku acabou sua pentalogia cinematográfica conhecida no Ocidente com The Yakuza Papers e a produtora Toei já queria mais, o que acabou resultando da produção de uma trilogia de filmes soltos, mas com a mesma temática e o mesmo estilo, com o primeiro Nova Luta Sem Código de Honra (minha tradução, pois não encontrei título oficial em português no Brasil) sendo lançado no mesmo ano em que Episódio Final chegava aos cinemas nipônicos. E, como se a usual confusão causada pela forma como o cineasta coloca suas histórias em tela não fosse suficiente, ele ainda fez o favor de manter o mesmo elenco anterior, só que em papeis diferentes, com apenas uma exceção: Nobuo Kaneko permaneceu como o chefão Yoshio Yamamori.

Com isso, o espectador precisa de tempo de ajuste, tempo esse que Fukasaku não se preocupa em fornecer. Bunta Sugawara, a estrela da pentalogia retorna, só que desta vez como Makio Miyoshi, membro da família Yamamori que, depois de tentar matar um alvo inimigo, é preso e, durante seu tempo de prisão, Naotake Aoki (vivido pelo grande Tomisaburo Wakayama, da série cinematográfica Lobo Solitário e também de Zatoichi, ainda que não no papel principal nessa segunda franquia), da mesma família, começa a colocar as manguinhas de fora para tirar Yamamori do poder. Essa situação divide Makio quando ele sai da prisão, com o personagem fazendo de tudo para manter-se neutro, até que não tem mais alternativa que não entrar no banho de sangue usual dessa série cinematográfica.

Desnecessário dizer – mas já dizendo – que o diferencial do longa é que ele tem começo, meio e fim bem definidos, o que, apesar da confusão inicial já mencionada, acaba facilitando a compreensão geral da obra, ainda que a assinatura estilística de Fukasaku mantenha-se intocada: impressionantes sequências desnorteadoras com câmera na mão e uma linguagem jornalística forte. O roteiro, que ficou ao encargo Fumio Konami no que acabaria sendo seu único trabalho na franquia, faz esforço para emular os anteriores, situando a ação em algum momento entre filmes da pentalogia nos anos 60, mas sem realmente criar qualquer interferência significativa (isso poderia ser mais um fator de confusão, mas a verdade é que não é). A questão é que Konami não demonstra a mesma destreza de Kazuo Kasahara, responsável pelos quatro primeiros filmes, ou mesmo de Koji Takada, que escreveu o quinto, para transportar o realismo que sempre marcou a série, resultando em um filme híbrido, quase que de transição, já que os dois seguintes adotariam estilos ainda mais diferentes e distantes da série original.

Como se isso não bastasse, Konami escreve o protagonista de maneira muito hesitante e burocrática, sem realmente diferenciá-lo dos que os cercam ou de Shozo Hirono, o “herói” da pentalogia. Como consequência quase natural, Bunta Sugawara atua como se não tivesse mudado de papel. O que vemos na tela é, para todos os efeitos, o mesmo Hirono de sempre, só que com nome diferente, o que cria certa frustração no espectador, especialmente em razão do esforço que o protagonista faz para manter-se distante do conflito principal. É quase como se Makio fosse um observador passivo vendo a banda passar sem manifestar-se nem positiva, nem negativamente, o que é a antítese de um bom personagem em qualquer livro de técnica cinematográfica.

Pelo menos Fukasaku não perde sua verve e conduz toda a ação com sua maestria histriônica habitual, criando sequências de violência extrema com o espectador literalmente no meio sem poder sair e sem exatamente entender os detalhes do que está acontecendo. É, sem dúvida alguma, um “gosto adquirido”, especialmente para o público ocidental que estiver pouco acostumado com a filmografia de Fukasaku em especial e com filmes orientais de ação em geral, mas que, é a grande marca da série realista sobre a Yakuza em Hiroshima e arredores.

Nova Luta Sem Código de Honra não é completamente bem sucedido em continuar a ambiciosa franquia iniciada em 1973 e acaba sendo seu mais fraco capítulo, ainda que interessante e certamente importante para que acompanhou todos os demais. É um filme perfeitamente familiar e reconhecível, mas que carece de uma boa história e, principalmente, de um protagonista chamativo.

Nova Luta Sem Código De Honra (Shin Jingi Naki Tatakai, Japão – 1974)
Direção: Kinji Fukasaku
Roteiro: Fumio Kônami (baseado em artigos de Koichi Iiboshi)
Elenco: Bunta Sugawara, Tomisaburo Wakayama, Nobuo Kaneko, Kunie Tanaka, Hiroki Matsukata, Tsunehiko Watase, Reiko Ike, Sanae Nakahara, Jo Shishido, Hideo Murota, Noboru Ando, Ichirō Nakatani, Shingo Yamashiro, Ichitaro Kuni, Hiroshi Nawa, Naoya Makoto, Kin Sugai, Yoko Koizumi
Duração: 98 min.

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