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Crítica | Novo Super-Man: Fabricado na China

por Luiz Santiago
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A constante sensação que eu tive durante a leitura de Novo Superman: Fabricado na China foi a de imensa estranheza. Parte das reformulações da DC Comics realizadas na era do Renascimento, esse título escrito por Gene Luen Yang imagina como seria a criação de um Superman chinês (nesse caso, Kong Kenan), tendo a tiracolo todo um séquito de personagens que espelham diversos heróis do Ocidente, como a Mulher-Maravilha (Peng Deilan) e um Bat-Man gordinho (Wang Baixi). A impressão que temos é que a DC levou a sério a brincadeira meio louca de Bob Rozakis na revista Batman Family #19, lá de 1978, onde a Batgirl enfrentou e derrotou um grupo de espiões chineses que receberam poderes semelhantes aos do Superman, Flash, Lanterna Verde e Supergirl, tudo através de um avançado procedimento tecnológico, que é exatamente o que ocorre nessa nova versão.

Para piorar a situação, Kong Kenan não é exatamente o personagem que a gente se conecta de cara. Se ele fosse apenas um anti-herói ou qualquer outro tipo de personagem, acho que nossa visão acabaria sendo diferente, no princípio. Mas ele representa o Superman (o SUPERMAN DE VERDADE, não aquelas aberrações trevosas, amarguradas e perturbadas que podem ser tudo, menos o Superman) e isso acabou sendo, pelo menos para mim, um empecilho imenso para que a aproximação com o roteiro acontecesse. Em adição a isso, toda a preparação para a grande problemática do arco acontece entre a passivo-agressividade de Kenan — que é um valentão metido a besta — e a introdução de personagens e grupos refigurados ao modelo chinês, como a Liga da Justiça da China, o enigmático Ministério da Autoconfiança e, mais adiante, os Combatentes Chineses da Liberdade e Os Dez Grandiosos.

 Com tantas “velhas novidades“, o leitor demora um pouco mais de tempo para aproveitar de verdade a história que, devo admitir, nos convence ao final do arco. Quando chegamos na sexta edição da saga, temos o benefício de ver uma evolução inicial na Trindade Chinesa e, a esta altura do campeonato, o conhecimento de uma porção de intrigas familiares e principalmente governamentais, o ponto mais interessante em termos de contexto para todo o título. O roteiro expõe lados políticos alienados e críticos falando de democracia e liberdade, algo que vai se tornando mais intrigante à medida que certos controles, ultra-vigilância e cerceamento de liberdades individuais são contrapostos a ações claramente terroristas para, em tese, libertarem a população do Estado. É um conceito político complexo e que está na linha de fundo de toda a aventura, especialmente quando falamos da Dra. Presságio e do Ministério da Autoconfiança.

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Diferente do roteiro, a arte de Viktor BogdanovicRichard Friend está o tempo inteiro em nosso radar de coisas elogiáveis, e vai ficando cada vez melhor (algo que também podemos dizer da aplicação de cores, pelo Hi-Fi Design) à medida que as edições passam, as grandes lutas e os grandes inimigos aparecem e a gente vai se acostumando cada vez mais com esse Universo. Na reta final, mesmo com a aura de cópia (ou reconfiguração, chame como quiser), a gente percebe uma identidade própria se formando — e como falei antes, o início de um amadurecimento dos personagens ajuda o leitor a perceber essa identidade de maneira mais clara. Confesso que este não é um título que vou colocar na minha lista de “ler a continuação o mais breve possível“, mas em algum momento devo voltar ao Universo desse Novo Super-Man. A maneira como esta estreia termina sinaliza que ainda existe muita coisa para ser revelada. E que os disfarces, a questão do governo e a contrariedade de ideias políticas serão camadas importantes ao longo dessa jornada do Azulão Vermelhão asiático.

New Super-Man Vol.1 #1 a 6: Made In China (EUA, 2017)
No Brasil:
Panini, 2017
Roteiro: Gene Luen Yang
Arte: Viktor Bogdanovic
Arte-final: Richard Friend
Cores: Hi-Fi Design
Letras: Dave Sharpe
Capas: Viktor Bogdanovic, Kelsey Shannon, Hi-Fi Design
Editoria: Eddie Berganza, Paul Kaminski
140 páginas

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