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Crítica | O 8º Doutor: Guerra do Tempo – 2ª Temporada

Conflitos morais para o 8º Doutor.

por Luiz Santiago
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Mantendo a dinâmica de 2 boas histórias e 2 outras histórias estranhas e não tão interessantes assim, a 2ª Temporada de The Eighth Doctor: Time War expande um pouquinho mais a presença do 8º Doutor na Guerra do Tempo, ainda ao lado de sua companheira Bliss, que apareceu pela primeira vez na temporada passada, no episódio The Starship of Theseus. O projeto ainda serve como uma inteligente antecipação da fantástica The War Doctor, fazendo com que o espectador perceba a mudança de personalidade no 8º Doutor, os inúmeros conflitos éticos e morais que ele precisa enfrentar durante suas andanças pela guerra, e em como ele, que se recusa a ser um soldado, toma as decisões direcionadas ao salvamento do maior número de vidas possível nessa situação.

A temporada é aberta pelo episódio The Lords of Terror, de Jonathan Morris, que é uma história familiar transformada em uma narrativa de guerra. Bliss não quer que sua mãe e seu avô acreditem que ela está morta, por isso, pede ao Doutor para ir até a sua cidade, Capital City, no planeta Derilobia. A TARDIS chega ao lugar um mês depois da partida da nave Theseus, mas tudo parece ter mudado imensamente. Há uma cúpula sobre a cidade. Por todos os lados, bandeiras pretas e vermelhas tremulam. É um cenário distópico, parecido com o de uma ditadura, de um governo grandiosamente opressor que mantém uma população alienada, trabalhando como escrava, em troca da proteção frente a um inimigo; nesse caso, os Daleks. É uma trama sobre a reescrita da história de um planeta inteiro e a demonstração de que o comportamento dos Time Lords, durante a guerra, realmente se equiparou ou superou o dos Daleks. Um começo potente para a temporada.

Em Planet of the Ogrons, de Guy Adams, temos o surgimento de dois personagens maravilhosos. O primeiro deles é o Doctor Ogron, um experimento feito pelos Daleks com o DNA do Doutor, garantindo um incrível indivíduo que eu adoraria ver mais vezes nos áudios. O segundo é a maravilhosa, a insuperável personagem The Twelve, vivida pela grande atriz britânica Julia McKenzie. Esta é, como o nome indica, a 12ª regeneração de um Time Lord renegado, sempre conhecido pelo número da regeneração da vez. Ele sofre de “dissonância regenerativa“, uma doença que faz com que resquícios das personalidades anteriores não desapareçam, mas fiquem ativos, mesmo após a transformação — algo similar ao que conhecemos em nosso Universo como “transtorno dissociativo de identidade“. Essas múltiplas personalidades querem vir à tona o tempo todo, e tanto neste quanto nos episódios seguintes, vemos a luta que a Twelve faz para controlar esses impulsos. Este aqui é o meu episódio favorito da temporada, porque lida com algo muito sério, mas com um bom nível de suspense e com excelentes personagens em cena.

In the Garden of Death, também escrito por Guy Adams, já toma um caminho diferente. É o primeiro episódio “um tanto sem graça” da temporada, passando-se em um cenário onde os personagens vivem com a memória apagada, sem saber exatamente quem são, e vigiados pelos Daleks. Meu desgosto com esse capítulo é porque ele quebra uma linha de abordagem muito bem pensada nos enredos anteriores, com o Doutor e os principais personagens em situações difíceis, ligadas à guerra, e que precisavam de uma intervenção. Aqui, há uma estranha passividade do Time Lord e uma repetição de ações que torna os 50 minutos do episódio bastante cansativos. Não é um episódio ruim, porque The Twelve brilha nele, em seu processo de retomada da memória e de tentativa de escapar da vigilância e prisão dos Daleks. Mas no todo, é mais um daqueles plots onde pouca coisa relevante acontece e o espectador não vê a hora de acabar logo.

A temporada se encerra com outro episódio burocrático e pouco chamativo, Jonah, de Timothy X Atack, escritor da nova leva da Big Finish, tendo estreado na empresa em 2017, escrevendo The Wreck of the World, para a série The Early Adventures. Claro que é sempre bom ver a Cardinal Ollistra com suas maldades galifreyanas, como também é bom acompanhar histórias num ambiente claustrofóbico, especialmente no oceano. Mas a relação que o autor faz com a história bíblica do profeta Jonas, ao fim de tudo, parece simples demais para tanto estardalhaço. A grande criatura dos oceanos do planeta Uzmal é inicialmente usada como uma ótima arma, mas o desfecho com ela é anticlimático. O término da temporada traz vitórias amargas — especialmente porque a Guerra do Tempo segue acontecendo, com todas as suas tragédias — mas pelo menos insere um tantinho de esperança em meio à tristeza. E nessa altura dos acontecimentos, é um sentimento que o Doutor, Bliss e todo o Universo verdadeiramente precisa.

The Eighth Doctor: Time War Vol.2 (Reino Unido, 10 de julho de 2018)
Direção: Helen Goldwyn, John Ainsworth
Roteiro: Jonathan Morris, Guy Adams, Timothy X. Atack
Elenco: Paul McGann, Rakhee Thakrar, Nikki Amuka-Bird, Amanda Root, Rakie Ayola, Guy Adams, Simon Slater, Christopher Naylor, Nicholas Briggs, Julia McKenzie, Jon Culshaw, Victor McGuire, Jacqueline Pearce, Anya Chalotra, Tania Rodrigues, Surinder Duhra
Duração: 4 episódios c. 50 minutos cada

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