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Crítica | O Acordo: Amores Improváveis, de Elle Kennedy

por Cida Azevedo
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A premissa não é nada original: faculdade norte-americana, casas estudantis, times universitários. Um rapaz popular, atleta, arrogante. Uma moça centrada, que não dá muita bola para o galã – a princípio, é claro. É com esses elementos que o romance O Acordo: Amores Improváveis é construído. O “improvável” só existe no título em português mesmo, porque no enredo não há nada tão surpreendente. Garret e Hannah se aproximam por causa de um acordo entre os dois: ela auxilia o jogador de hóquei a estudar uma disciplina na qual precisa da aprovação; ele a ajuda a chamar a atenção do garoto por quem ela tem uma queda. No meio do caminho, os dois acabam se envolvendo – nada novo sob o sol… exceto o fato de que Hannah foi estuprada quando adolescente e tem dificuldade em lidar com relacionamentos, enquanto Garret, filho de um famoso jogador de hóquei, também tem traumas em seu passado.

O encontro de Hannah e Garret e a construção da relação entre eles – de amizade, antes de mais nada – é interessante visto que se trata de duas pessoas com marcas profundas, com as quais é preciso lidar. A intimidade que se estabelece adquire grande importância para ambos, que acabam se tornando a força um do outro de um jeito bonitinho. Entretanto, o romance ganharia muito com um desenvolvimento psicológico real dessas personagens marcadas por seu passado, o que infelizmente não acontece. Mesmo tratando desses temas, Kennedy é superficial, e essas questões – que poderiam ser o diferencial em um tipo de enredo já explorado exaustivamente – acabam não ganhando a dimensão que poderiam. Era uma grande chance de fazer um livro aparentemente clichê, mas que tratasse de questões sensíveis e necessárias. A autora perdeu a oportunidade.

Como a questão psicológica e a violência sofrida pelas personagens acabam relegadas a segundo plano, o que mais se destaca no livro é a ambientação extremamente americanizada, facilmente reconhecível de tantos filmes e seriados que retratam o meio universitário ou o ensino médio nos EUA – repúblicas, universitários longe dos pais e da cidade natal, esportes e atletas, turmas “populares” e de “perdedores” e afins, que deixam no leitor uma sensação constante de déja vu. De fato, de vez em quando parece que se está diante de um filme qualquer da Sessão da Tarde. Vale ressaltar que isso não é necessariamente algo negativo – às vezes, numa tarde despretensiosa, nada como ver algum filme bobinho na TV, certo?

Um detalhe importante sobre O Acordo: Amores Improváveis que o impediria de figurar nas tardes da TV aberta é a sua classificação +18. Com a indicação de “conteúdo adulto” na contracapa, o romance possui cenas apimentadas que, é claro, podem agradar ao público adulto. Na verdade, esse é um dos aspectos em que Elle Kennedy mais acertou: o erotismo do romance não é forçado, abusivo ou vulgar (como em alguns 50 livros ruins por aí), mas é integrado de maneira natural ao enredo e às personagens e (por que não?) pode aumentar a temperatura corporal dos leitores (adultos, repito).

Ao fim da leitura de O Acordo: Amores Improváveis, o que fica é uma certa decepção. Um livro que poderia ser muito interessante, mas não é; poderia discutir questões profundas, mas é superficial; poderia ser diferente e original, mas é mais do mesmo. Para quem gosta desse tipo de história, de romances juvenis, erotismo e coisas do gênero, pode ser divertido, mas dificilmente entrará para a lista dos melhores ou piores livros de alguém. Parece um livro fadado ao esquecimento. Serve para uma leitura despretensiosa, embora seja perceptível que a autora desejava mais que isso. Uma pena que não rolou.

O acordo: amores improváveis (The deal: and off-campus novel) – EUA, 2015
Autor: Elle Kennedy
Publicação: Editora Paralela, 2016
Tradução: Juliana Romeiro
357 Páginas

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