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Crítica | O Advogado dos 5 Crimes

por Leonardo Campos
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Suspense tomado por diversas reviravoltas, O Advogado dos Cinco Crimes não é um filme exatamente sobre escrita literária, mas uma narrativa sobre apropriação e idealização da profissão de escritor na contemporaneidade. Construído em torno de questões éticas e legais, o filme nos apresenta a saga do advogado Lawson Russell (Cuba Gooding Jr.), um homem cansado de defender pessoas ricas que burlam os esquemas judiciais para conseguirem resultados favoráveis nos tribunais. Num momento de exaustão, algo que chega muito cedo em sua carreira ainda jovem, ele abandona o cliente em pleno julgamento e recebe, dentre as punições, a exoneração que não lhe permite exercer as funções licenciadas no campo do Direito. Esse é o seu momento de expurgar demônios internos. Ele muda de cidade e decide começar a escrever um livro. Quer deixar as suas memórias enquanto descansa a mente. Quem dirigiu e escreveu essa fantasiosa história cheia de inconsistências foi Rourdy Herrigton, gestor desse suspense lançado em 1998, grande sucesso do mercado de VHS e DVD.

Afastado dos grandes centros urbanos, Lawson Russell pesca, toma banho de sol, consome a sua cerveja sem culpa e agendamento que lhe imponha limites, num exercício de férias sem momento demarcado para retorno. É nesta ocasião que ele conhece um senhor muito gentil que lhe faz companhia em diversos momentos. Certo dia, essa pessoa com poucas informações expostas sobre a sua vida, entrega-lhe um manuscrito para opinião. Russell lê todo o material e acha instigante, tudo que ele sequer conseguiu fazer neste tempo de retiro dedicado não apenas ao afastamento das questões estressantes de trabalho, mas também para a escrita criativa. No momento da devolutiva, o advogado é informado que o tal senhor morreu. A condução musical de Steve Porcaro fica mais misteriosa, a direção de fotografia de Robert Primes fecha mais ainda os planos no personagem e a edição de Harry B. Miller se intensifica. O que vem por agora?

Simples: Lawson publica o manuscrito que ninguém sequer faz ideia da relação de troca. Mas não é uma homenagem ao falecido. Ele, depois de fugir tanto da ausência de ética em sua constante defesa de criminosos poderosos, adere ao que relutou: veicula a publicação em seu nome e com isso, torna-se um autor prestigiado. O problema é que nada fácil assim vai resultar num mar de rosas. Ele logo sairá da posição de advogado escritor para suspeito de assassinato. Não apenas um, mas cinco, descritos no romance exatamente como aconteceram na vida real. Um detetive se estabelece em seu encalço e agora ele precisa lutar para comprovar a sua inocência, algo que requer a perda da credibilidade literária falseada até então. Para um advogado, a derrocada moral de dimensões públicas é prejudicial em todos os aspectos possíveis. Nos 102 minutos de narrativa, acompanharemos a sua luta pela redenção.

Ele poderia até ser o “homem errado” de Hitchcock, mas há apenas alguns traços de inocência em seu perfil, pois o plágio também é crime e a falta de ética, comprovada publicamente, às vezes é um dos mais severos materiais para o engendramento do que hoje chamamos de cultura do cancelamento. Perseguido constantemente pelo Detetive Clifford Dubose (Tom Berenger), ele precisará se livrar da cadeia até levantar provas suficientes para comprovar a sua inocência em relação aos crimes. O resultado disso tudo é um trillher básico, bem ao estilo Super Cine, sessão semanal, exibida sempre aos sábados na televisão aberta, geralmente com telefilmes no mesmo padrão de O Advogado dos Cinco Crimes, narrativas com personagens planos, com pouca ou nenhuma densidade psicológica, em tramas mais voltadas para o exercício do suspense enquanto entretenimento. Descobriremos, próximo ao desfecho, que o responsável por essa sequência de situações escabrosas é um professor de teatro com motivações nada banais para destruir a vida do advogado, na boa e velha vingança que até hoje rende filmes, séries, livros, etc.

O Advogado dos Cinco Crimes (A Murder Of Crows) – Estados Unidos, 1998
Direção: Rowdy Herrington
Roteiro: Rowdy Herrington
Elenco: Cuba Gooding Jr., Eric Stoltz, Tom Berenger, Marianne Jean-Baptiste, Mark Pellegrino, Nate Adams, Ashley Laurence, Doug Wert, Derek Broes
Duração: 101 min.

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