Número de temporadas: 1
Número de episódios: 64
Período de exibição: 12 de julho de 2011 até 28 de outubro de 2011
Há continuação ou reboot?: Não, pois já é um remake da versão homônima e antecessora que serviu de inspiração, datada de 1979. Ambas foram produzidas pela TV Globo.
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“Todos os seres humanos querem ser enganados, sobretudo as mulheres. Enganar com elegância é a alma do negócio.” – Ferragus (Francisco Cuoco).
Lançando um horário inédito para a exibição de suas novelas – no caso às 23h -, a Rede Globo lançou em 2011 uma nova versão de O Astro, originalmente escrita pela exemplar autora Janete Clair em 1977. Contendo bons diálogos, a obra convence como uma reverência à escritora, ainda mais com a frase que abriu esta minha Crítica, a qual funciona como uma espécie de homenagem. São raros os autores de novelas que souberam “enganar” o público com tanta “elegância” quanto Clair durante a primeira versão de O Astro. Entretanto, como em qualquer remake, não há a garantia do sucesso, pois o público não é mais o mesmo, tampouco a sociedade brasileira. Nesse sentido, as comparações são inevitáveis – principalmente por parte dos saudosistas -, uma vez que, apesar de serem obras “irmãs gêmeas”, há detalhes peculiares da época em que foram exibidas. Inicialmente, a história inicia-se com a saga de Herculano Quintanilha (Rodrigo Lombardi) tentado fugir do roubo financeiro em relação ao contexto da obra da igreja da cidade. Resultado: apesar da tentativa de fuga ágil em vielas claustrofóbicas, ele paga pelo erro na cadeira, sem fugir, diferentemente do Herculano de 1977, interpretado pelo saudoso Francisco Cuoco, que foge e só reaparece no segundo capítulo.
Se no final dos anos de 1970, o Herculano de Cuoco só reaparece no próximo capítulo, aqui, em 2011, o folhetim resgata o ator em uma ponta de luxo, ao interpretar de forma especial o mago Ferragus. Ele é um senhor que ensina todas as habilidades místicas e truques enigmáticos para o Herculano contemporâneo durante a estadia na prisão. Essas características ficaram em evidência na nova abertura, contendo esoterismo, mistério e, claro, a presença do protagonista. Contudo, diferentemente da vinheta anterior, na nova há um acabamento mais sofisticado – até mesmo em função do avanço da computação gráfica -, sendo conceitualmente mais interessante. Por falar em conceito, a princípio a TV Globo chamou a novela de “macrossérie” e, logo depois, acabou virando “novela das 11”, para festejar naquela época os 60 anos das telenovelas no Brasil. Ainda bem que mudou a nomenclatura, porque nem no universo das séries utilizamos os termos horrendos “macrossérie” ou “supersérie”, no máximo “minissérie”.
Ademais, em O Astro, de 2011, diferentemente da primeira versão, teve um enxugamento de cenas, pois ao todo a novela teve apenas 64 capítulos, sendo uma condensação de mais de 50% dos 185 capítulos produzidos em 1977. Nesse sentido, infelizmente, o público acostumado com as famosas tramas arrastadas e enroladas das novelas, foi surpreendido com um 1º capítulo ágil, ou seja, com um excesso de correria. Em virtude disso, transpareceu que o telespectador tivesse a obrigação de já ter se inteirado do conteúdo da trama, por exemplo. Vejam só: em um ínfimo espaço de tempo vimos Herculano sendo traído pelo amigo; perseguido por uma multidão de populares (não sei de onde saiu tantas pessoas, misericórdia!); foi preso; aprendeu truques de ilusionismo na prisão; foi solto e, por fim, atingiu o sucesso em seu show de mágicas. E um detalhe inquietante: tudo isso ocorreu somente no primeiro capítulo. Confesso que eu perdi mais o fôlego digitando tudo isso do que Lombardi correndo pelas ruas da cidade.
Além disso, também tivemos o contexto da família Hayalla, a qual possui o clássico filho rebelde – Márcio Hayalla (Thiago Fragoso) – que não tem vocação, tampouco vontade em perpetuar os negócios do pai. Ele só deseja ajudar os mais pobres e seguir livre para realizar as próprias vontades, aparentado ser apenas um rapaz mimado, mas que deseja mudar o mundo com o dinheiro de outras pessoas. A rapidez com que esse enredo foi exibido foi um ponto negativo, a não ser a parte em que ele fica despido na frente de todos na última cena, assim como Herculano ao tomar banho na prisão. Ao meu ver, foi um verdadeiro deleite para quem gosta de homens e o melhor de tudo: o horário não foi nada inapropriado, visto que o público menor de idade já estava dormindo. Brincadeiras à parte, a intenção do personagem talvez tivesse sido plausível se tivéssemos tempo para entender os reais motivos de seu ato revolucionário, característica que de certa forma foi mostrada na versão original, na qual Tony Ramos interpretou o filho do empresário. Todavia, não sentimos raiva do pai, o Salomão Hayalla (Daniel Filho, responsável pela direção da primeira versão), e só vimos a mãe Clô Hayalla (Regina Duarte) começando a se envolver com o amante Felipe (Henri Castelli) na festa de inauguração de mais uma unidade do Supermercado Hayalla.
Embora não tenham tido também tempo suficiente para o desenvolvimento de seus personagens, grandes nomes do elenco apareceram em cena, como Rosamarinho Murtinho, Alinne Moraes, Reginaldo Faria, Humberto Martins, Carolina Ferraz, Tato Gabus Mendes, Marco Ricca, dentre outros. Em meio a isso, há um esforço de a trama em se atualizar para o século XXI, desde menções aos atores Antonio Banderas e Angelina Jolie até imagens da Copa do Mundo de 2010. Os elementos centrais da trama de Janete Clair parecem estar preservados apesar dos novos elementos: desentendimentos familiares, mocinhas doces e sofredoras, pobres e ricos, tudo isso está na trama central da novela.
O remake de O Astro manteve bons índices de audiência, seja na sua estreia, seja ao longo do restante se sua exibição, isto é, foi aceita pelo público noveleiro. A trama foi atrativa e, justamente por isso, os telespectadores acompanharam tarde da noite as situações envolvendo o Herculano e a família Hayalla. Desse modo, finalizo o meu texto com a pergunta que não quer calar: será que a consagrada “senhora das oito”, a Janete Clair, ficaria orgulhosa ou decepcionada com a nova versão, a qual possui um Quintanilha mais mocinho do que trambiqueiro?
O Astro – Capítulo: 1 — (Brasil, 12 de julho de 2011)
Criação: Janete Clair, Alcides Nogueira, Geraldo Carneiro
Direção: Mauro Mendonça Filho, Roberto Talma
Roteiro: Alcides Nogueira, Geraldo Carneiro
Elenco: Rodrigo Lombardi, Francisco Cuoco, Thiago Fragoso, Daniel Filho, Regina Duarte, Humberto Martins, Henri Castelli, Marco Ricca, Fernanda Rodrigues, Tato Gabus Mendes, Rosamaria Murtinho, Reginaldo Faria, Carolina Ferraz, Alinne Moraes, Guilhermina Guinle, Sérgio Mamberti
Duração: 48 minutos