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Crítica | O Bebê de Rosemary (1968)

por Filipe Monteiro
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Enquadrar a obra de Polanski como uma simples produção fílmica de terror é um posicionamento prematuro diante do grande potencial narrativo que o longa carrega. Seguindo a contracorrente do horror que vigora no cinema (sangue, sustos, gritos e mais sustos), o terror em O Bebê de Rosemary não é explorado de maneira exaustiva, mas sim como conceito condutor da trama.

O filme conta a história de Rosemary e Guy Woodhouse (Mia Farrow e John Cassavetes), um jovem casal que, em busca de um lar para iniciar a vida, se muda para um apartamento na cidade de Nova Iorque. Lá, passam a se relacionar com Minnie e Roman Castevet (Ruth Gordon e Sidney Blackmer), um casal idoso de vizinhos expansivos, cuja inconveniência e proximidade sem limites incomoda Rosemary. Como consequência dessa obscura proximidade entre Guy, Minnie e Roman, a vida tranquila da protagonista passa a ter os dias contados.

O roteiro, que mescla a simplicidade de uma história linear, com as fantásticas intercalações oníricas de Rosemary, desenvolve o suspense dentro de um discurso sutil e bastante irônico. Mais do que uma boa adaptação ao livro de Ira Levin, o longa promove uma séria crítica à sociedade da época ao portar de complexidade o íntimo dos personagens centrais. O modo com o qual aborda-se o satanismo no longa conversa bem com o fato de que o casal possui suas fraquezas. Guy atropela os seus princípios morais e a felicidade de um casamento por sua ambição ao sucesso. O ponto fraco de Rosemary, em contrapartida, está na força do seu amor materno.

Desta forma, o que vemos na tela é o drama de uma mulher que não sabe em quê ou em quem se amparar na tentativa de manter a vida de seu filho em segurança. Este papel é cumprido à risca por uma atuação bastante convincente de Mia Farrow. A atriz consegue exprimir a angústia de Rosemary, bem como aliá-la aos nuances de histeria e paranoia, plenamente justificáveis frente ao estorvo pelo qual a mãe estava passando.

Quem consegue prender a atenção do público sem dificuldade alguma, entretanto, é Ruth Gordon com sua extraordinária interpretação à vizinha Minnie. A atriz consegue transitar da maneira mais natural possível entre o cômico, o bizarro e o macabro, e dá vida a uma das personagens mais elementares da trama. A interpretação de Ruth Gordon tanto não passou despercebida que rendeu à atriz um Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 1969.

Polanski reproduz no longa um formato de terror dramático sem precedentes em que serve de inspiração para outras tantas produções de terror de sucesso que a procederam. Não é incomum reparar muitas referências a O Bebê de Rosemary na primeira temporada de American Horror Story. O plot é parecido, bem como o desenrolar da gravidez das duas protagonistas, Rosemary e Vivien (Connie Britton), que carregam o filho de satã no ventre e por isso desenvolvem o hábito de se alimentar com carne crua. É também impossível não estabelecer uma associação entre as duas vizinhas Constance (Jessica Lange), de American Horror Story, e Minnie.

Vale muito a pena acompanhar a história de Rosemary e prestar atenção em todos os detalhes de uma obra muito bem estruturada e ousada aos moldes da época. O casamento entre o lúdico, o drama, o suspense é realizado impecavelmente no thriller psicológico de Roman Polanski.

O Bebê de Rosemary (Rosemary’s Baby, EUA, 1968)
Direção: Roman Polanski
Roteiro: Roman Polanski
Elenco: Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon, Sidney Blackmer, Maurice Evans, Ralph Bellamy e Charles Grodin
Duração: 136 min.

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