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Crítica | O Buraco (2009)

Alegorias didáticas.

por Felipe Oliveira
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Entre sequências indesejáveis (como Halloween 2), alguns subestimados (Pacto Secreto), remakes (Sexta-Feira 13) e gratas surpresas (o marcante A Órfã), podemos dizer que 2009 foi um ano interessante para os gêneros de terror e suspense. Se enquadrando como um longa que poderia ser bem mais rentável, O Buraco trouxe um tema maduro destrinchado nos moldes do terror psicológico, entretanto, apenas colocar os pés na água só deixou o gostinho que poderia ter se aprofundado.

Típica e batida, a ideia não poderia ser melhor. Depois de tantas mudanças, a mãe Susan (Teri Polo) arranja um novo lar para se reerguer com os dois filhos, Lucas (Nathan Gamble) e Dane (Chris Massoglia). Além do nervosismo de Dane quando perto da vizinha Julie (Haley Bennett), e as briguinhas de irmãos, o que poderia dar errado para a família? Maldição antiga após as mortes dos antigos moradores? Espírito travesso que quer ser entendido? Em The Hole, buraco no sótão que claramente não deveria ser aberto era o causador de estranhas manifestações para quem visse sua escuridão.

Conhecido por títulos como Gremlins (1984) e Pequenos Guerreiros (1998), o diretor Joe Dante trouxe seu estilo de misturar terror, comédia e fantasia nessa empreitada que prometia ser sombria e assustadora. Com essa bagagem, era uma escolha interessante ter Dante por trás da execução  do roteiro escrito por Mark K. Smith. O tom descontraído, de momentos bobos e uma pegada juvenil foram aspectos propositais para compor o perfil do filme, já que The Hole pretendia ter essa roupagem sem perder de vista as alegorias pelo viés do terror psicológico, contudo, essa camada inofensiva dos personagens nunca parecia combinar com os lugares escuros que “o buraco,” provocava.

A mudança da família, o encontro com algo sobrenatural para confrontá-los, a garota festeira que mora ao lado mas que encontra um norte ao se aproximar dos irmãos e nisso acham um meio em comum que os une, são um conjunto de características genéricas que regem o desenrolar do filme, mas que o tornou preguiçoso e ingênuo, quando olha para o que poderia ser desenvolvido longe da caricatura boba.. Sendo assim, não tivemos nenhum subtexto que favorecesse os personagens, ou que ao menos considerasse levar mais a sério a tentativa da família em definir novos rumos.

Todo este fundo serve apenas como mecanismos que porão os personagens em situações a fim de enfrentarem seus limites, e o “buraco” é o que promoveu o ponto alto do filme ao funcionar como um mundo paralelo que revela os piores medos de quem entra em contato com ele. A inocente curiosidade dos mocinhos em tentar acessá-lo foi o que desencadeou uma série de acontecimentos aterradores, mas que ainda não revelavam o que moldava tais medos.

Se limitando em colocações sugestivas, infelizmente O Buraco caiu no embaraço da conveniência, ao apontar em direções que poderiam ser mais exploradas — como o trauma de Julie — mas enfraquecia o desenvolvimento com resoluções internas instantâneas e sem impacto narrativo. E apesar inserir uma composição com slow motion, cenário esfumaçado e variados tons de azuis que conseguiram criar um visual curioso para o mundo que desafiava os medos dos personagens, Dante cometeu o erro de preencher o filme com o didatismo, sem dar a chance das representações falarem por si, optou por reforçar a todo tempo as alegorias com os diálogos expositivos.

Com isso, a mensagem ponderada sobre enfrentarem as dificuldades que os moldaram e terminaram influenciando em seus comportamentos e estabilidade, recebe um ponto a menos quando avaliada junto ao quanto o filme perde tempo em sua aventura de descoberta autoexplicativa. Por mais que não tenha ido mais a fundo na mitologia — e ficado em decisões simplórias da ideia —, O Buraco vale na mesclagem interessante dos estilos de Dante e Smith em contar uma história de horror coming of age por vezes leve e assustadora.

O Buraco (The Hole – EUA, 2009)
Direção: Joe Dante
Roteiro: Mark L. Smith
Elenco: Chris Massoglia, Nathan Gamble, Haley Bennett, Teri Polo
Duração: 92 minutos

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