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Crítica | O Buraco Negro (1979)

por Ritter Fan
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Olhando apenas o gênero e o ano de lançamento de O Buraco Negro, a conclusão óbvia é que o filme tentou surfar na onda do renascimento da ficção científica que começou ao final da década de 60 e engrenou de verdade com Guerra nas Estrelas, em 1977. E isso é verdade, não tenham dúvida, ainda que apenas parcialmente, já que o interessante é notar que a concepção do longa se deu, originalmente, com base em outra moda, ainda que bem efêmera, dos anos 70: os filmes de desastre como Aeroporto, Inferno na Torre e O Destino do Poseidon.

Mas desde sua concepção no começo daquela década até o momento em que o investimento se tornou tão alto que a Disney não tinha mais como voltar atrás, mesmo considerando o fim da moda dos filmes de desastre, vários anos se passaram, com seu primeiro produtor, o então famoso Winston Hibler, nesse ínterim, aposentando-se, retornando da aposentadoria e falecendo em 1976. Diversas versões do filme circularam pelo estúdio e o conceito inicial acabou sendo, de certa forma, sendo desvirtuado, com a eliminação da ideia do desastre espacial como base narrativa, para uma abordagem mais puramente sci-fi com uma pegada curiosamente sombria.

É evidente, porém, que há menos história do que o necessário para preencher o tempo de duração da obra que acabou sendo dirigida por Gary Nelson, responsável, três anos antes, pela primeira versão cinematográfica de Freaky Friday do estúdio, aqui conhecida como Se Eu Fosse Minha Mãe. Apesar de o roteiro não demorar a estabelecer a premissa básica do longa em que a diminuta nave americana USS Palomino, com cinco tripulantes humanos e um robô, encontra, nos confins do espaço, a gigantesca nave USS Cygnus, dada como perdida há décadas, na impossível proximidade a um buraco negro, o que segue daí é uma lenta progressão narrativa em que muito mais atenção é dada aos procedimentos de aproximação das naves e, depois, à exploração da Cygnus, do que a algo que se aproxime a uma história sendo contada.

Diria que o detalhamento da estrutura parada em um autogerado campo gravitacional que desafia a terrível atração do horizonte de eventos é até justificada em termos de cuidado da equipe de design de produção em criar uma impressionante, ainda que pouco prática, nave espacial repleta de espaços vazios completamente não-funcionais e, portanto, nada realísticos, mas que sem dúvida alguma a tornam extremamente característica, literalmente tão inesquecível quanto suas mais lembradas irmãs da época, incluindo a Millenium Falcon e a Nostromo. O passeio da tripulação da acanhada Palomino pela imensidão da Cygnus, com sua estrutura de metal e vidro que permite a permanente observação do espaço exterior é um espanto, notadamente se lembrarmos que os efeitos do longa são exclusivamente práticos e óticos, já que nem mesmo a tecnologia de ponta da época desenvolvida pela Industrial Light & Magic pode ser usada.

E esse espetáculo visual continua com a criação do simpático robozinho V.I.N.CENT. (Vital Information Necessary CENTralized), com voz incrivelmente não creditada de ninguém menos do que Roddy McDowall, o Cornelius de O Planeta dos Macacos, e de seu amigo de geração mais antiga B.O.B. (BiO-sanitation Batallion), voz também não creditada de Slim Pickens, além do silencioso, mas ameaçador robô guardião Maximilian, braço direito do Dr. Hans Reinhardt (Maximilian Schell), único humano sobrevivente na Cygnus que tem planos de entrar no buraco negro e é caracterizado como o estereótipo clássico do cientista maluco, com direito até mesmo a olheiras e cabeleira e barba desgrenhadas, além de uma performance teatral de Schell. Em outras palavras, há muito para ver, mas pouco para sorver em O Buraco Negro, com a famosa forma tomando conta completamente da substância.

A maior prova disso é a equipe humana da Palomino. Não fossem os nomes de peso para viver os astronautas, especialmente Anthony Perkins, Robert Forster, Yvette Mimieux e Ernest Borgnine, os personagens seriam genéricos e imediatamente esquecíveis. Na verdade, genéricos eles são, pois não só eles tem a mesma tridimensionalidade de um pedaço de cartolina, como cumprem funções absolutamente fungíveis que ou não ganham desenvolvimento algum ou ganham evolução que não faz sentido dentro do pouco que fora estabelecido, com é o caso da “reviravolta” que acontece ao final com o personagem de Borgnine. Pelo menos os dois simpáticos robozinhos, o sinistro robozão e o histrionismo de Schell reservam bons momentos dramáticos que fazem o longa valer a pena para além do espetáculo visual, além da louvável abordagem levemente mais sombria e violenta do que o de costume – mesmo à época – nos filmes do estúdio.

Com um roteiro que não sabe muito bem o que quer ser, inclusive com um final que tenta criar algo mais cerebral, mas com um resultado risível, O Buraco Negro consegue sobreviver como uma curiosidade que divertirá aqueles que apreciarem uma bonita ficção científica que, porém, não carrega maiores significados. Como a Cygnus, o longa é muito espaço vazio para pouca função, mas o deslumbramento pelo esforço e originalidade da equipe de produção combinado com a presença inusitada de um elenco de grandes nomes da época, torna o filme uma experiência que merece ser vivida pelo menos uma vez.

O Buraco Negro (The Black Hole – EUA, 1979)
Direção: Gary Nelson
Roteiro: Jeb Rosebrook, Gerry Day (baseado em história de Jeb Rosebrook, Bob Barbash, Richard H. Landau)
Elenco: Maximilian Schell, Anthony Perkins, Robert Forster, Joseph Bottoms, Yvette Mimieux, Ernest Borgnine, Tom McLoughlin, Roddy McDowall, Slim Pickens, Gary Nelson
Duração: 98 min.

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