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Crítica | O Céu Está em Todo Lugar

Há formas de encarar a dor?

por Felipe Oliveira
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Em sua nova investida na direção, a atriz e cineasta Josephine Decker encontra a adaptação de O Céu Está em Todo Lugar, baseada em livro de Jandy Nelson, que também assina o roteiro. Conhecida por títulos como Shirley e Madeline’s Madeline, Decker apresenta em seus trabalhos a introspecção de personagens envoltos em traumas, a estilização do surrealismo como porta sensorial para abordagem intimista. A produção, que vem da A24 e Apple Studios, embarca mais uma vez nesse estilo ao trazer uma história coming of age que também conversa sobre luto e várias notas de emoções que acompanham o amadurecimento da juventude, no entanto, falha ao estabelecer quem deveria ser a ponte de conexão principal: sua protagonista.

Aqui conhecemos Lennie (Grace Kaufman), uma garota prodígio musical percebendo que perder a sua irmã mais velha Bailey (Havana Rose Liu) subitamente, dividiria tudo que ela achava estar definido em vários pedaços. Ela não esperava que se conhecer viria através de um processo doloroso de não ter a pessoa que mais admirava, e pensar que nem tudo estava escrito para acontecer pela ótica que conhecia. Curioso que antes mesmo de entrar nos seus acertos, The Sky is Everywhere põe seu tom em risco ao introduzir Lennie quase que literalmente utilizando do texto de resumo que acompanha a obra em que foi baseada. Este não seria o primeiro caso numa adaptação, obviamente, mas isto cria uma camada superficial que distancia a conexão com a protagonista logo de cara; o que poderia permitir uma transposição mais alinhada e fidedigna de Nelson, imprimir conjectura insossa que aparenta se desviar do seu escopo para abraçar um triângulo amoroso precoce.

Para uma história que busca dialogar sobre os efeitos do luto e a forma que encaramos isso, através de Lennie a percepção é sempre embaçada por uma narrativa que aparenta estar romantizando tudo ao redor sem nunca conseguir envolver com algo palpável. Muito desse problema vem da protagonista relatando como era viver à sombra da irmã e como sua visão de mundo foi abalada pela perda, e abruptamente, a personagem entra e sai em episódios de raiva, tristeza e inconformismo, mas nunca acerta um tom sem parecer que está constantemente agindo exageradamente e de maneira a avulsa. O filme quer transmitir sensibilidade em um provável retrato honesto de uma juventude que lida com muitas coisas ao mesmo tempo, tendo como ponto de partida o choque da perda, mas sofre para definir uma sintonia em como Lennie se expressa e os casos ao seu redor conversam. Ela quer jogar tudo pra cima, a sua melhor amizade parece estar comprometida também… são exemplos dos diversos arcos que somados, não parecem compor a mesma história sem soar como artifícios jogados.

Embora a personagem seja difícil de funcionar, Kaufman se mostra um acerto ao assumir tão bem o papel de Lennie, afetada por um roteiro por vezes presunçoso. Através de seu cenário, O Céu Está em Todo Lugar pavimenta o que será o propulsor da linha entre fantasia e realidade de sua história. Em uma casa isolada no meio de uma floresta, a futura musicista vive com a avó materna e o tio, em um local que se abre como palco para apresentar e canalizar as emoções divididas de sua protagonista.  Para dar um tempero ao triângulo amoroso pretensioso que surge, o filme utiliza de música e surrealismo para driblar as notas clássicas e clichês do gênero que não deixam de integrar a trama, e nesses momentos, a produção parece ser totalmente outra ao transportar com encanto elementos surreais para representar as nuances de sentimentos. Enquanto Joe (Jacques Colimon) faz Lennie se sentir viva e querer se conhecer além da sombra da irmã, Toby (Pico Alexander), é a paixão confusa que reforça essa sombra.  Claro, se a história transita sobre muitas coisas, há espaço também para o encontro com o amor verdadeiro.

The Sky is Everywhere pode estar longe de ser um dos mais marcantes do gênero aos misturar tópicos familiares de histórias coming of age e apresentar uma abordagem que requer embarcar na vibe para ver além de um relato que quer muito ser intimista e sensível, mas também pode ser enfadonho e oco.

O Céu Está em Todo Lugar (The Sky is Everywhere – EUA, 2022)
Direção: Josephine Decker
Roteiro: Jandy Nelson (baseado em seu livro homônimo)
Elenco: Grace Kaufman, Jacques Colimon, Cherry Jones, Pico Alexander, Ji-young Yoo, Havana Rose Liu, Julia Schlaepfer, Jason Segel
Duração: 103 minutos

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