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Crítica | O Contador 2

Affleck e Bernthal chutando bundas.

por Kevin Rick
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O razoável O Contador é uma produção que na época do seu lançamento fez um sucesso inesperado e depois de quase uma década de desenvolvimento, chega com uma sequência um pouco “tardia” para capitalizar no hype das franquias de ação mais pé no chão que têm ganhado proeminência nas telonas. O roteirista Bill Dubuque e o diretor Gavin O’Connor retornam com uma nova abordagem, que repete, sim, elementos do filme anterior, em especial o cuidado da trama com a representatividade sobre autismo, mas que tem uma roupagem bem diferente, deixando o thriller de lado para encaminhar a narrativa para uma espécie de buddy comedy que lembra muitos filmes de ação dos anos 80.

Fiquei um pouco surpreso com a iniciativa da dupla criativa. Não sou exatamente o maior fã do primeiro longa, mas é uma obra eficiente em sua mescla de mistério e ação com um enredo que engloba questões financeiras, puzzles do submundo do crime e uma visão inusitada – e bem-vinda – para pessoas com transtornos neurológicos. Apesar da sequência ter um roteiro denso que envolve tráfico humano, prostituição e exploração de imigrantes, tudo isso é mais maquiagem do que a essência da obra, que descarta completamente a intensidade do filme anterior para dar espaço a uma comédia de Ben Affleck, repetindo seu papel titular como Christian Wolff, junto de Jon Bernthal como seu irmão assassino Braxton.

Também para minha surpresa, o humor funciona. As dinâmicas fraternais da dupla ganham o destaque de um roteiro cheio de boas piadas de contrastes entre suas diferenças e os dois intérpretes parecem se divertir bastante com o tom da produção. Temos sequências inteiras deles realizando uma investigação em tese sombria com uma certa leveza, com destaque para uma negociação com uma prostituta por informações ou então um bloco simpaticíssimo de Wolff socializando em um bar caipira – nesses momentos, o texto toca em alguns temas delicados sobre os bloqueios sociais de pessoas com autismo, trazendo um olhar agradável e uma mensagem bonita com algumas vitórias pessoais do protagonista. O roteiro chega até a ter alguns momentos dramáticos interessantes com os problemas de relacionamentos entre os irmãos.

Dito isso, é uma narrativa muito estranha. Temos todo esse ar bem humorado que nunca realmente entra em sintonia com a trama sobre crianças sequestradas e o rastro de morte deixado por uma assassina misteriosa (Daniella Pineda), que por sua vez tem um desenvolvimento bem pífio mesmo para os roteiros superficiais de filmes dessa ordem. Não vou entrar em detalhes para evitar spoilers, mas o roteiro de Bill Dubuque faz uma confusão danada com a estrutura da história, que não consegue desenvolver com afinco a investigação – o senso de mistério aqui é zero, aliás -, tampouco consegue transpassar algum sentimento de urgência. Sem falar que o roteiro é realmente esquisito, com um bloco inteiro que soa mais como algo saído de uma HQ dos X-Men (vão saber do que estou me referindo quando verem a obra) ou então a criação forçada de um grupo de crianças com autismo que ajudam a roubar, matar e perseguir – entendo que exista uma intenção honesta de inclusão, mas Dubuque se perde bastante no que efetivamente quer trazer de representação.

O que é mais estranho, porém, é o quão pouco de ação realmente há em O Contador 2. Temos pouquíssimas set-pieces, com Gavin O’Connor fazendo um trabalho mais protocolar pelo roteiro pouco funcional de Dubuque em torno de uma investigação deslocada e desinteressante que parece ocupar o espaço da comédia e da ação. Quando a pancadaria chega, o diretor é eficiente em seu trabalho visual mais tático e relativamente realista se comparado com algo como John Wick, por exemplo. É mais militar do que balé de carnificina, se conseguem me entender. Ainda assim, é uma obra surpreendentemente passiva e pouco frenética para o que é esperado do gênero, que só realmente funciona quando foca no carisma de Affleck e Bernthal. Tirando isso, todo o resto não funciona.

O Contador 2 (The Accountant 2) | EUA, 24 de abril de 2025
Direção: Gavin O’Connor
Roteiro: Bill Dubuque
Elenco: Ben Affleck, Jon Bernthal, Cynthia Addai-Robinson, Daniella Pineda, J. K. Simmons
Duração: 132 min.

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