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Crítica | O Coração Eterno (Pérola Imortal)

por Luiz Santiago
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Como aconteceu com diversos outros diretores clássicos japoneses (e também de outras cinematografias ao redor do mundo) os primeiros filmes de Hiroshi Shimizu simplesmente se perderam, e aqui, uma nota importante sobre isso: a maioria dessas obras japonesas foram incendiadas ou soterradas durante a 2ª Guerra MundialO Coração Eterno (Pérola Imortal), de 1929, é o mais antigo sobrevivente da filmografia de Shimizu, mas cronologicamente foi o 57º filme que ele dirigiu. Dos 56 filmes longas e curtas anteriores, o de sempre: a maioria está realmente perdida e, de alguns poucos, foram encontradas fotografias de produção e pedaços de projetos que originalmente eram bem maiores. Nesses casos, é muito raro que, décadas depois, apareça uma “cópia perdida” em um “armazém esquecido, no Chipre”…

Mesmo que traga um grande número de problemas no roteiro, O Coração Eterno é uma prova, ainda em final dos anos 20, do quanto Shimizu estava em par ou até à frente das experimentações narrativas e principalmente de montagem nos cinemas Soviético e Europeu. E o mais curioso é que, diferente de Ozu no início da carreira, Shimizu se manteve afastado de influências dramáticas diretas, imprimindo fortemente o seu estilo estético, desde muito cedo, em suas obras.

Logo na onírica cena de abertura do filme é possível perceber a inteligência do diretor em mostrar a perturbação de uma personagem e, a partir daí, lançar as bases para o que viria ser um melodrama focado em duas irmãs. Em linhas gerais, o enredo explora a personalidade de Toshie (Emiko Yagumo) e Reiko (Michiko Oikawa) como se fossem os diferentes olhares e comportamentos femininos diante da Nova Era, da modernidade, do fim daquela década de 1920 e entrada em um “novo tempo de mudanças“. Infelizmente o roteiro nem sempre deixa claro como algumas coisas começaram ou terminaram, mas o triângulo inesperado em que as duas irmãs se veem inseridas é imediatamente entendido pelo público, que passa a julgar e torcer para que cada uma pague o preço que deve.

Lamenta-se bastante o fato de um quarto elemento romântico aparecer de forma tão forçada, em momento avançado da projeção, e prosseguir em cena muito mais tempo do que deveria, o que de fato torna a parte final do longa arrastada e chateante. Não fossem os excelentes exercícios de direção de Shimizu, a sessão seria um pequeno tormento. Quanto ao estilo do diretor, é importante destacar os bons momentos de câmera, os planos mais longos (para a época), o belo jogo cênico e uso de câmera no confronto final entre as duas irmãs e a montagem dialética, especialmente até o casamento de Reiko.

Embora não seja aquele “filme de um grande diretor para indicar aos recém-chegados” O Coração Eterno aglutina uma série de ótimos ingredientes de direção que com certeza irão interessar aos fãs do cinema japonês, aos fãs de Hiroshi Shimizu ou de uma importante obra cinematográfica, seja por sua raridade, seja por sua peculiaridade visual, mesmo que a história nós dê nos nervos de sua metade para frente.

O Coração Eterno (Pérola Imortal) / Fue no Shiratama (Japão, 1929)
Direção: Hiroshi Shimizu
Roteiro: Tokusaburo Murakami, Kan Kikuchi
Elenco: Jun Arai, Satoko Date, Yôko Fujita, Shôichi Kofujita, Shin’ichirô Komura, Michiko Oikawa, Utako Suzuki, Minoru Takada, Mitsuko Takao, Shintarô Takiguchi, Ryuko Tanizaki, Emiko Yagumo
Duração: 101 min.

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