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Crítica | O Doce Corpo de Deborah

Uma coleção de reviravoltas.

por Luiz Santiago
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Problemas profissionais (a demissão pela Paramount) e familiares (o abalado casamento com o diretor Jack Garfein) acabaram levando a atriz Carroll Baker para a Europa, onde seguiu com sua carreira por um bom tempo. Sua atuação em O Harém (1967), de Marco Ferreri, acabou abrindo portas mais frequentes para ela na Itália, e já no ano seguinte, a atriz estaria em um giallo, seguindo uma onda de produção muito comum naquele país, nos anos 1960. O Doce Corpo de Deborah foi o primeiro “mistério de sangue” de Carroll Baker, onde ela interpreta Deborah, uma mulher recém-casada com um homem que tem um passado complicado com a ex-noiva (Suzanne, interpretada por Evelyn Stewart). Marcel (Jean Sorel) descobre que Suzanne suicidou-se, e se vê progressivamente cercado por acontecimentos estranhos, recebendo ameaças dizendo que ele e sua esposa Deborah devem morrer, porque foi ele quem causou a morte de Suzanne.

A princípio, o espectador espera um desenvolvimento típico dos gialli, mas as ameaças e os acontecimentos mais ou menos sombrios que ensaiam tomar fôlego na primeira parte do filme, simplesmente não avançam. O roteiro de Ernesto Gastaldi e Luciano Martino afasta-se o máximo possível de um desenvolvimento direto das motivações assassinas, e até mesmo da perseguição que o criminoso faz à sua vítima. Ao longo de todo o filme, o que vemos é uma coleção de pequenos momentos estranhos (telefonemas e discos tocando Tchaikovski), mas que acabam ficando isolados, em detrimento da estranhíssima convivência entre Deborah e Marcel, pautada por ciúmes, sugestão de traição e ações que indicam uma proposital tentativa de perturbar o parceiro, algo que confirmamos no final da película.

O desenvolvimento do enredo é, portanto, a existência de uma lua de mel estranha, com cenas de dança, desfile de figurinos hilários e absurdos (mas digo isso no melhor sentido possível, porque eu adorei o guarda-roupa do filme, pois acho que combina muito com o que a obra propõe) e crescente indicação de que Marcel e Deborah estão correndo perigo. Apenas nos 30 minutos finais da fita é que realmente nos deparamos com uma aparência genuína de giallo, inclusive com planos mirabolantes sendo executados pelos personagens, num encadeamento de ardis pensados por ambas as partes do casal e reviravoltas que de fato são boas, mas que não justificam o desenvolvimento básico, muito esticado e aleatório do longa.

O Doce Corpo de Deborah possui um daqueles enredos que, se o espectador for pensar logicamente a respeito do que viu, tudo ruirá muito facilmente. De certo modo, a coisa até funciona em sua estupidez, mas a relação entre a motivação dos personagens (basicamente, dinheiro), os métodos utilizados a longo prazo e as consequências parecem guardar um número grande de problemas de coesão. E eu sei que, de certa forma, esses absurdos são o charme do giallo, mas em algum ponto, um limite de abordagem precisa ser traçado, não é mesmo?

A linha final do texto brinca com a ideia de “um dia é da caça, o outro é do caçador” e aplica isso a uma lógica de ganância, traição e premeditação de assassinato, contando também com um pouquinho de sorte e conveniência; tudo embalado em trilha sonora irritante, fotografia com momentos surpreendentemente interessantes e interpretações canastronas. Não é de todo infame, mas certamente não sai da linha medíocre de qualidade.

O Doce Corpo de Deborah (Il dolce corpo di Deborah / The Sweet Body of Deborah) — Itália, França, 1968
Direção: Romolo Guerrieri
Roteiro: Ernesto Gastaldi, Luciano Martino
Elenco: Carroll Baker, Jean Sorel, Evelyn Stewart, Luigi Pistilli, Michel Bardinet, Renato Montalbano, Mirella Pamphili, Domenico Ravenna, Valentino Macchi, Giuseppe Ravenna, George Hilton, Sisto Brunetti, Lella Cattaneo, Piero Del Papa, Silvio Klein, Giuseppe Marrocco
Duração: 95 min.

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