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Crítica | O Escolhido – 2ª Temporada

por Leonardo Campos
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Para uma análise da segunda temporada de O Escolhido, torna-se necessário um breve, mas elucidativo exercício retrospectivo em relação aos seis episódios do bloco narrativo antecessor. Tendo como ponto de partida a série Niño Santo, produção de Pablo Cruz, realizada no Uruguai, a atmosférica versão brasileira comandada pela NETFLIX apresentou, ao longo de seus episódios com duração média de 40 minutos, a trajetória de três médicos recém-chegados em Água Azul, região do Pantanal, ambiente hostil e desconectado com os costumes e prazeres urbanos, habitado por pessoas voltadas ao sobrenatural e sem nenhum interesse na compreensão do lado científico da vida. Lançada cinco meses depois da veiculação da primeira temporada, será que há material suficiente para mais um conjunto de episódios?

A resposta é objetiva: mais ou menos. O embate entre ciência e religião continua sendo ideal na demarcação das tensões do trio que tentou convencer tal população dos benefícios da vacina contra o vírus zika, prática vã diante do poder exercido pelo Escolhido (Renan Tenca), o profeta local, acorrentado por graves problemas provenientes dos desdobramentos narrativos entre as temporadas. O abismo entre as crenças e ideologias dos habitantes internos e externos do lugar é o continua movendo a série, focada na continuidade da mitologia do profético condutor do medo e da obediência numa região que desconhece as leis comuns da civilização. Com uma missão a ser cumprida, todo predestinado precisa ser uma espécie de herói e anti-herói ao mesmo tempo, algo que Tenca se esforça para fazer, mas que não depende apenas de seu desempenho dramático, pois o roteiro precisa ajudar, mas não cumpre a sua missão

Sem conseguir aumentar a tensão e promover magnetismo entre o espectador e o que é apresentado, a sensação inicial é a falta de conteúdo para mais imersões neste universo. O trio principal se desfez, disperso agora pelo Dr. Enzo Vergami (Gutto Szuster), praticamente um sequestrador da Dra. Lúcia Santeiro (Paloma Bernardi), médica que precisa retornar para Água Azul por conta das ameaças que ainda circundam Vergami e ela mesma. Bastante contrariada, a jovem que reorganizava a sua vida se encontra mais uma vez mergulhada no horror de um local repleto de mistérios e situações nebulosas, sem explicações que a permita compreender as motivações para tantas celeumas num só lugar. O Dr. Damião Almeida (Pedro Caetano), por nunca ter voltado, causa espanto quando a dupla chega ao lugarejo, pois eles acreditavam que Almeida não estivesse mais vivo.

O Escolhido, desta vez, está cercado de novas necessidades, o que inclui a presença de Lúcia, dentre tantos outros novos conflitos estabelecidos. A mídia, ciente da existência deste curandeiro nos confins do Brasil, decide investigar e Eva (Gisele Itié) é a personagem selecionada para cumprir o papel de conferir se há mesmo um homem com poderes sobrenaturais ou apenas mais uma falcatrua oriunda do fanatismo religioso, postura que encontra ressonâncias em Zulmira (Tuna Dwek), mulher que continua manipuladora, mas temente diante de suas crenças. Santiago (Lourinelson Vladmir), ainda mais envolvido nas tensões, também receia que o pior possa acontecer com o Escolhido e todos aqueles que gravitam em torno de sua “seita”. De volta ao núcleo da jornalista, a sua inclusão movimenta a história, mas não é suficiente para manter nada além da curiosidade de quem adentrou neste universo narrativo e deseja saber como tudo se encerra. A busca pela nova musa do Escolhido empolga em determinados trechos, mas não vai muito além do já esperado.

A inclusão da Serpente, entidade que pode assumir a forma de qualquer pessoa, é outro combustível inserido para uma trajetória que não é seguida pelos episódios, o que aumenta ainda mais a nossa frustração. Basta esperar pela possível terceira temporada, talvez eficiente ao amarrar as pontas soltas dos períodos anteriores. Ademais, a versão brasileira da série O Escolhido foi criada por Raphael Draccon e Carolina Munhóz, tendo Maurício Katz e Pedro Peirano na estruturação dos roteiros, transformados num material audiovisual de estética cuidadosa nas mãos de Michael Tikhomiroff e Max Calligars. No que tange aos aspectos estéticos da série, não encontramos problemas, ao contrário, a equipe é cuidadosa ao investir em imagens, efeitos e recortes intrigantes, responsáveis por dar credibilidade aos temas tratados ao longo dos seis episódios da temporada.

A direção de fotografia, assumida pela dupla formada por Rodrigo Reis e Hélcio Alemão Nagamine, registra a natureza e suas manifestações que em muitos momentos dispensam efeitos ou truques. Gravada em Natividade, no Tocantins, os realizadores têm diante de si um espaço cênico expressivo antes mesmo de qualquer elemento introduzido por meio dos planejamentos da produção. Os figurinos de Inês Salgado dão veracidade aos perfis dos personagens, a maquiagem de Danilo Mazzuca, mais uma vez, contempla os momentos de imersão no horror, os efeitos visuais coordenados por Felipe Bustelli convencem e o design de produção de Cassio Amarante mantém a eficiência da temporada anterior. E, de novo, não fossem algumas amarras no terreno dramático, a segunda temporada de O Escolhido alcançaria o resultado esperado pelos espectadores diante deste segundo bloco narrativo, isto é, o desenvolvimento de personagens e ações que melhor justifiquem a existência de continuidade para a história.

O Escolhido – 2ª Temporada – Brasil, 2019
Criado por: Raphael Draccon, Carolina Munhóz
Direção: Michael Tikhomiroff, Max Calligars
Roteiro: Maurício Katz, Pedro Peirano, Raphael Draccon, Carolina Munhóz, Pablo Cruz
Elenco: Paloma Bernardi, Pedro Caetano, Gutto Szuster, Renan Tenca, Tuna Dwek, Lourinelson Vladmir, Mariano Mattos Martins, Alli Willow, Kiko Vianello, Francisco Gaspar, Aury Porto, Gisele Itié
Duração: 06 episódios de 45 min, cada

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