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Crítica | O Espetacular Homem-Aranha #1 a 12 (1963-1964)

por Gabriel Carvalho
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Contém spoilers..

Após o estupendo sucesso comercial de Amazing Fantasy #15, o Homem-Aranha, novo super herói oriundo do talento criativo de Stan Lee e Steve Ditko, estava destinado a ganhar a sua própria revista. Não obstante, a adesão de um título – O Espetacular (The Amazing) – não seria um mero ornamento estético. O Homem-Aranha é espetacular desde suas origens. E agora começaremos uma jornada no Plano Crítico com o objetivo de revisitar todos os mais de 50 anos do amigão da vizinhança. Para visualizar outros compilados das edições do Espetacular Homem-Aranha, clique aqui.

The Amazing Spider-Man #1

“Ficando invisível, talvez eu possa laçar ele com esta corda!” – Mulher Invisível ataca o Homem-Aranha com exímia genialidade.

É espetacular – e continuarei utilizando esta palavra para definir o aracnídeo e sua mitologia – como a primeira edição da revista solo do maior herói da Marvel Comics consegue criar alguns dos melhores elementos recorrentes envoltos do personagem de maneira tão orgânica. Se Peter Parker era nerd, franzino e não se dava bem com as garotas, todo mundo que leu aquela Amazing Fantasy sabia, mas aqui, Stan Lee apresenta mais características relacionadas às dificuldades cotidianas de boa parte da população nova-iorquina. Contas a serem pagas são os primeiro vilões que o Homem-Aranha tem de enfrentar, e sua postura, ainda como Peter Parker, de se dispor a largar os estudos e trabalhar para ajudar sua tia é bastante aprazível e condizente com as razões que sustentaria, e ainda sustenta, o mito do herói, décadas adiante.

Esse elemento da trama – problemas econômicos – é desenvolvido, e vemos uma intervenção de J. Jonah Jameson atrapalhar pela primeira vez a, até então, breve carreira do Homem-Aranha como espetáculo circense. O fio condutor da história, no entanto, é o lançamento do foguete no qual encontra-se John Jameson, astronauta e filho do calunioso J. J. Quando uma peça se desloca e a nave começa a cair, cabe ao amigão da vizinhança salvar o astronauta. Estamos falando de uma época anterior ao homem ter pisado na Lua, então qualquer complicação científica é perdoável, pois como revelado em entrevistas por Stan Lee, o próprio não entendia absolutamente nada de ciência, vide o uso de termos frequentes como “radioativo” e “cósmico” para maquiar qualquer tentativa de criação de uma ficção científica mais atrelada à realidade.

Mesmo assim é incômodo pensar que o Homem-Aranha seria capaz de retornar para sua casa, vestir seu uniforme e chegar a tempo de salvar John Jameson da morte certa. Ao menos tal feito permite uma demonstração clara da hipocrisia de J. Jonah Jameson que mesmo tendo seu filho salvo pelo aracnídeo insiste em difamar a imagem do herói mediante falsos pretextos e absurdos contextos. A reação de Parker é impagável. Ameaça para a sociedade ou não, o número ainda guarda uma aventura final, pela primeira vez colocando o Homem-Aranha contra um supervilão – o Cameleão – e ao lado de outros heróis – o Quarteto Fantástico. Menos incrível que a anterior, Stan Lee dispersa toda a história com tremendas pérolas, como a Mulher Invisível utilizando uma corda visível para tentar atacar o Aranha. Para encerrar, a motivação do herói em encontrar-se com o grupo no Edifício Baxter à procura de emprego é extremamente válida – e periódico na vida do amigão da vizinhança. Vale ressaltar por fim a gratificante melhora da arte de Steve Ditko, um salto comparado com o Amazing Fantasy.

Curiosidades:
Primeira aparição de J. Jonah Jameson.
Primeira aparição de John Jameson.
Primeira aparição do Camaleão.
Primeiro encontro entre o Quarteto Fantástico e o Homem-Aranha.
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The Amazing Spider-Man #2

O grande vilão da próxima aventura do Homem-Aranha nas telonas, o Abutre, um dos mais icônicos inimigos do herói, recebe uma entrada fenomenal no segundo número de The Amazing Spider-Man. Ditko utiliza muito bem da sombra para invocar uma aura grandiosa ao vilão, além de que seu uniforme, um dos mais memoráveis é, mesmo que com diferentes modificações pontuais, ainda utilizado em algumas histórias e produtos relacionado ao personagem, no século XXI. Não é um exemplo de vilão que envelheceu mal.

O confronto com o Homem-Aranha é muito bem bolado e utiliza especialmente de sagacidade por parte do herói para vencer o vilão. As feições do Abutre são grotescas e expressivas garantindo uma repulsa ao personagem não só pela suas ações, mas também pela sua estética. A sequência na qual o Aranha está dentro de uma caixa d’ água enquanto o velho urubu retoma o caos é muito bem ilustrada e roteirizada. Na conclusão, Peter derrota o Abutre, vende suas fotos e garante um bom sossego temporário à Tia May. Uma história muito boa, mas que infelizmente é afetada pela segunda aventura dessa edição, completamente esquecível.

Com o surgimento do Consertador, Stan Lee aborda pela primeira vez ameaças alienígenas dentro das histórias do aracnídeo e tais, pelo menos até aqui, parecem não funcionar nem um pouco bem. Primeiramente, a criação de conspirações extraterrestres destoa completamente do primeiro inimigo da revista, um criminoso comum, mas que com poderes e/ou artifícios especiais, tornou-se um supervilão. O mesmo se aplica ao Homem-Aranha. Já nessa segunda parte, a bobeira é tão grande que uma retcon foi necessária para mudar a origem do vilão, anos depois. Santa confusão, Stan Lee.

Curiosidades:
Primeira aparição do Abutre.
Primeira aparição do Consertador.
Primeira vez que Peter Parker tira foto de si mesmo combatendo o crime.
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The Amazing Spider-Man #3

E eis que surge, na terceira edição de The Amazing Spider-Man, para muitos, maior vilão do aracnídeo depois do Duende Verde (pessoalmente acredito em um empate técnico senão uma superioridade do oito braços), o Doutor Octopus. Aqui, Stan Lee cria pela primeira vez uma origem para um supervilão do herói, introduzindo diversos elementos que transformam um cientista maluco em um dos maiores pesos-pesados, física e intelectualmente, da galeria de inimigos do personagem. A jornada de transformação do homem em maníaco, excepcionalmente adaptada em Homem-Aranha 2, pode até ser rápida, e apressadamente conduzida, mas tratando-se da época, temos uma das melhores introduções vilanescas, até então. De tal modo, com um poderio enorme em decorrência da extrema força que seus tentáculos possuem, que Otto Octavius consegue a façanha de derrotar o Homem-Aranha. A primeira derrota de muitas que ainda viriam em décadas e décadas de histórias.

Lee, contudo, acaba caindo em alguns caminhos verborrágicos desnecessários, recontando os poderes do personagem-título sempre que o mesmo fosse utilizado. É interessante ver um Peter Parker mais desesperançoso capaz até de ser, em suas devidas proporções, desrespeitoso com a Tia May, sem dar respostas a um doce questionamento da amada senhorinha. Por fim, é interessante ver o Tocha Humana e o Homem-Aranha, futuro parceiro de longa data, tendo mais momentos, mesmo que breves, juntos. Além de que é sensacional ler Flash Thompson, futuro amigo de Parker e até mesmo padrinho de seu casamento, falar um tanto de asneiras sobre a pessoa de Peter, enquanto vangloria o super-herói que o próprio rato de biblioteca, como o bully assim chama-o, é.

Curiosidades:
Primeira aparição do Doutor Octopus.
A origem do Doutor Octopus é contada.
Primeira aparição do Sinal-Aranha.
Primeira citação direta e aparição concreta do Clarim Diário.
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The Amazing Spider-Man #4

A primeira aparição de Flint Marko, o Homem-Areia, pelas mãos de Stan “The Man” Lee é deveras interessante de ser analisada. Primeiramente, o roteirista explora um cotidiano do Homem-Aranha, com bandidos a serem pegos e piadas a serem feitas. Notável aliás é a tentativa dos próprios criminosos de utilizarem a suposição do Teioso ser também um bandido para escapar de suas mãos. Uma discussão relevante, e ainda atual, na sociedade mundial. O que impressiona de fato é como Stan consegue colocar, por um breve momento, um supervilão intrínseco na marginalidade comum. Quando aparece pela primeira vez, subindo as escadas de um prédio, Flint é apenas mais um infrator regular. Quando revela seus poderes, torna-se um dos maiores inimigos que o Aranha já enfrentou.

Steve Ditko utiliza muito bem dos poderes de Marko para criar confrontos visualmente interessantes. Com seu poder de transformar-se em areia, temos aqui o primeiro vilão que não dá sinais de esperança para uma futura vitória do Aranha. E, mais para frente, o primeiro vilão que faz o Aranha fugir amedrontado, após ter sua máscara rasgada e sua identidade secreta quase revelada. A paranoia que ocorre com Peter Parker logo após perceber sua “nudez facial” é digna de atenção. Apesar disto, Lee insiste em algumas exposições baratas, e mostra a origem de Marko de modo muito óbvio, o que poderia ser repensado, mas compreendido perfeitamente levando em conta a época. Há de ser realçado os cuidados de Tia May com Peter, que fingia estar debilitado, mas que, todavia, oriunda uma caracterização ainda mais forte da personalidade da doce velhinha.

Por fim, lamenta-se a estupidez do motivo que leva o Homem-Areia a atacar o diretor da escola de Peter, após invadir a mesma. Sem pouca credibilidade antes, o desfecho da – ainda assim ótima – luta entre o Teioso e o Arenoso é ainda mais absurdo, com o Aranha simplesmente aspirando o personagem. O que justifica a importância da resolução da edição, fora os problemas que o passar do tempo revela, é a construção de um primeiro indício amoroso – no caso, Liz Allan – e a dificuldade de conciliação da vida mundana com a vida heroica, um tema sempre presente na vida dos super-heróis dos quadrinhos americanos.

Curiosidades:
Primeira aparição do Homem-Areia, com sua origem sendo contada.
Primeira aparição de Betty Brant.
Primeira vez que o Homem-Aranha prega uma peça em J. Jonah Jameson.
O nome de Liz Allan é revelado pela primeira vez, apesar da personagem já ter aparecido.
Um retcon em The Amazing Spider-Man #9601 induz que Jessica Jones, décadas antes de sua criação, apareceu na página 12, no meio de vários dos alunos que assistiam ao embate entre o Homem-Aranha e o Homem-Areia.
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The Amazing Spider-Man #5

Após a apresentação de inúmero vilões inéditos, Stan Lee resolveu colocar um pé no freio e na explosão criativa da Casa das Ideias, e escolheu o Doutor Destino, clássico rival do Quarteto Fantástico, para contracenar com o aracnídeo em sua quinta edição. A premissa é bastante simples. Com todos os alvoroços criados por J. Jonah Jameson, o Doutor Destino vê no Aranha uma possibilidade de parceria com o intuito de derrubar a família fantástica. Destino era um personagem muito meia-boca em seus primórdios, ao menos comparada com seu imenso poder e relevância que o caracterizam como senão o mais, um dos maiores vilões da Marvel Comics.

Mesmo que a história dessa edição conte com um combate, no mínimo, visualmente esquisito, há alguns pontos interessantes a serem vistos. O primeiro é a constante implicação de Flash Thompson, que vestindo-se de Homem-Aranha para tentar enganar Parker, acaba sendo capturado por engano pelo Destino. Um grande bem feito! No entanto, por outro lado, podemos observar a urgência das responsabilidades que Aranha tem como herói. Mesmo um garoto que até então era completamente maldoso e grosseiro com Parker era merecedor de ser salvo pelo amigão da vizinhança. Questiona-se, contudo, o porquê de Destino não ter feito uma simples verificação da pessoa debaixo da máscara, como o Quarteto Fantástico, que surge mais à frente na história, faz.

Curiosidades:
Pela primeira vez, Homem-Aranha e Doutor Destino se enfrentam.
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The Amazing Spider-Man #6

“Meu marido, Dr. Curtis Connors… É o Lagarto.” – Martha Connors chora enquanto revela a identidade do Lagarto ao Aranha.

Pelo ponto de vista do crítico – e também leitor assíduo dos quadrinhos do Homem-Aranha – que vos escreve, The Amazing Spider-Man #6 é a mais extraordinária história do personagem em seu primeiro ano. No enredo desse número, o surgimento de um monstro na Flórida desperta o interesse do Homem-Aranha, enquanto o chefe do Clarim Diário insiste em difamar o Teioso alegando covardia por ainda não ter desafiado o ser. Com o intuito de cobrir o vindouro combate entre Homem-Aranha e Lagarto, Peter Parker e J. Jonah Jameson embarcam em uma aventura, que irá enfim revelar a verdade por trás da criatura.

A trágica vida do Doutor Curtis Connors, e os experimentos científicos que leva-o, apesar das melhores das intenções, transformar-se no Lagarto, é contada de forma extremamente dolorosa. Os combates são mais pesados, com uma súbita aparição do personagem pegando nos pés do Teioso e, apesar de algumas bobagens clássicas dos anos 60 (pranchas de teia), e uma coloração desnecessariamente mais viva nas últimas páginas (enquanto boa parte delas possuem um tom mais escuro propícia à ambientação), até mesmo o humor, ainda não tão afiado quanto uma vez seria, recebe um retoque especial.

É estabelecido ainda mais as qualidades que tornam o Homem-Aranha um herói de verdade. Não apenas seus superpoderes, mas também sua inteligência e seu carisma, fazendo-o um personagem altamente relacionável. Infelizmente, embora salvo pelo soro do Aranha e de volta a sua forma humana, o Dr. Connors, em sua forma reptiliana, se encontraria com o Teioso muitas e muitas vezes além. Ao menos o amigão da vizinhança tentou – mesmo quando não havia mais nenhuma esperança.

Curiosidades:
Primeira aparição do Lagarto, com sua origem sendo contada.
Primeira aparição da família de Curtis Connors.
Liz Allan se apaixona pelo Homem-Aranha.
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The Amazing Spider-Man #7

O retorno do Abutre na sétima edição é um indicativo da popularidade do vilão.  É a primeira vez, no entanto, que o personagem tem de lidar com uma ameaça estando com um braço quebrado. O que se realça aqui é a arte de Ditko, que com excelentes coreografias, imprime uma boa organicidade para o confronto. Apesar disto, o restante do número aborda pouca história para muita ação.

Além da fuga do Abutre, que abre a edição, alguns ataques verbais a Peter, a constante ameaça de J. J ao Homem-Aranha e uma insinuação romântica são o que a edição tem de oferecer em recurso narrativo. A relação entre Jameson e o Aranha é suavemente apimentada, com ótimas piadas permeando os encontros.

Por último, e não menos importante, o diálogo entre Parker e Betty Brant no final da edição é uma ótima insinuação da virada na vida amorosa do garoto, que contaria mais à frente com a presença de diversos grandes amores, porém, que até agora, só contava com grande inimigos.

Curiosidades:
Pela primeira vez um vilão do Homem-Aranha retorna.
Primeira aparição do Paraquedas Aranha.
Primeiro momento romântico entre Peter Parker e Betty Brant.
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The Amazing Spider-Man #8

Quando cientistas levam seu mais potente computador para a Midtown High School, os estudantes da escola são induzidos a fazer a mais importante das perguntas, e assim testarem a habilidade do Cérebro-Vivo: Quem é o Homem Aranha? Temendo que o computador revelasse seu maior segredo, Parker confronta Flash Thompson e inicia uma luta de boxe no ringue da escola (nada melhor do que resolver seus problemas na violência esportiva). O ponto mais alto desse oitavo número é absolutamente esta luta, pois vemos o Cabeça de Teia tentar ao máximo não machucar seu oponente, e mesmo assim, saindo como covarde ou café com leite.

É aqui que damos adeus aos velhos óculos de Peter, e que vemos a manipulação de Parker que acaba indicando, ao final do confronto com o Cérebro-Vivo, que Flash Thompson seria o Homem-Aranha. A reação de Flash é impagável. A batalha com o computador, no entanto, não possui nada demais. As motivações e o visual do vilão são fracas, porém, o embate em si busca elevar o limite do Aranha como oponente físico, o que é válido como argumento.

Em mais uma edição dividida em duas partes, era de se esperar que tivéssemos uma segunda história menos inspirada que a primeira, e aqui a falta de inspiração de Lee é potencializada. Com uma trama boba, na qual o Homem-Aranha por algum motivo decide atrapalhar a festa do Tocha Humana, o que resulta num confronto contra ele e subsequentemente contra o Quarteto Fantástico, esta segunda parte de The Amazing Spider-Man #8 prova que as boas ideias de Stan Lee concentraram-se apenas na primeira.

Curiosidades:
Primeiro confronto físico entre Peter Parker e Flash Thompson.
Primeira aparição do Cérebro Vivo.
Daqui em diante, Peter Parker não utilizaria mais seus clássicos óculos.
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The Amazing Spider-Man #9

A primeira página de O homem chamado Electro prontamente notifica a urgência da situação na qual o Cabeça de Teia se encontra. Tia May está doente, e o remédio que Peter comprou está a caminho. Passando direto por criminosos – e mesmo assim, colaborando para a prisão deles – nosso herói descobre que Tia May precisará de uma cirurgia cara e dinheiro é o que mais falta. O teor da história é mais agravante, não no mesmo nível de demais situações no qual a amada senhora ainda viria a passar, mas tendo em vista a época que a história foi lançada, é de se aplaudir o que Stan Lee faz aqui.

A origem do Electro, outro clássico supervilão do aracnídeo, coincide com esse acontecimento, e em momento algum, atrapalha ou tira o peso do que pode acontecer com a Tia May. O fato de Peter arriscar sua reputação como Homem-Aranha, fingindo ser o próprio Electro, e assim conseguir o dinheiro de Jameson, demonstra uma profunda sensibilidade do sobrinho pela sua tia. Como dito, é uma história mais sensível, que encontra até espaços para momentos mais românticos, com um último quadro indicando uma inclinação amorosa para Peter e Betty Brant, que ganha mais espaço ainda nesta edição.

Curiosidades:
Primeira aparição do Electro, com sua origem sendo contada.
Primeira aparição do Doutor Bromwell.
Pela primeira vez – e definitivamente não a última – Tia May fica doente.
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The Amazing Spider-Man #10

Homem-Aranha versus gangues. Pode ser a primeira de muitas vezes que veríamos isto. No entanto, mais afundo do que apenas um combate do Cabeça de Teia com Os Executores, como são assim denominados o grupo que o herói enfrenta, temos um curioso estudo de personagem sendo conduzido por Stan Lee. J. Jonah Jameson, o editor-chefe do Clarim Diário, não é a flor mais cheirosa de um campo. Mas o seu desabafo na última página de Os Executores é, no mínimo, digno de pena. É a primeira vez que vemos o personagem em seu estado mais fragilizado, exprimindo por palavras toda a angústia que as dez edições de The Amazing Spider-Man, até então, já havia exteriorizado. Pode até não fazer nenhum sentido essa dor, visto que mais tarde teríamos o antagonista aplaudindo atitudes do Capitão América e dos Vingadores, mas levando em consideração apenas essa revista e todas as edições já lançadas, é um dos monólogos mais fortes – mesmo que curto – da fase Lee/Ditko.

Ademais, mesmo que pouco memoráveis, os Executores conseguem passar algum senso de perigo (contudo, nem um pouco comparável ao que o Cérebro Vivo ou o Homem-Areia já haviam feito) e dão margem para o primeiro plot twist da história da revista, sem contar o de Amazing Fantasy #15. A preocupação que Flash Thompson tem com Peter Parker quando este supõe saber a identidade do Chefão, líder dos Executores, também é egrégia, corroborando para um contínuo desenvolvimento de personagem.

Curiosidades:
Primeira aparição dos Executores e do Chefão (também conhecido como Maiorial ou Homenzarrão, dependendo da tradução).
A transfusão de sangue que ocorre nessa história remeter-se-ia diretamente ao arco A Saga do Planejador Mestre, que consiste nas revistas The Amazing Spider-Man #31 a 33.
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The Amazing Spider-Man #11 e 12

“Se um dia eu for eleito presidente, vou declarar feriado o dia dos mastros de bandeira!” – Homem-Aranha sendo Homem-Aranha.

Após ter sido apresentado em The Amazing Spider-Man #3, não demoraria muito para o Doutor Octopus retornar à revista e reinstaurar o caos. E que retorno! Na edição 11, o homem vê-se envolvido com mafiosos, e principalmente, com um criminoso de nome Blackie Gaxton. A questão principal que move a trama é o fato de Betty Brant, a namorada de Parker que havia ido embora de Nova York na última edição, estar por algum motivo relacionada com Octopus e Blackie. A resposta encontra-se na figura do irmão de Betty, Benneth, que infelizmente, acaba sendo morto numa tentativa de salvá-la. Pela primeira vez nas histórias do Aranha, um personagem é morto durante suas atividades. O maior peso possível para as histórias de super-heróis, a morte, é trazido para as revistas do Cabeça de Teia, em uma bela condução narrativa de Stan Lee.

Com a fuga do Doutor Octopus na anterior, a edição 12 coloca Peter Parker para enfrentar novamente Otto Octavius, o qual sequestra Betty Brant com a intenção de atiçar o aracnídeo. Uma ótima premissa, que é ainda melhor desenvolvida. Problemas do dia a dia são novamente trazidas à tona, com o Aranha tendo de lidar com uma gripe. Ademais, a arte de Ditko ilustra uma das cenas mais famosas do personagem, na qual o supervilão retira a máscara do personagem. Mesmo resolvendo a situação sem expor demais consequências, Lee nunca cai na obviedade, o que faz a história ser ainda mais apreciável. Temos aqui Peter Parker persistindo em uma luta, mesmo em condições adversas, pois há pessoas que precisam de sua ajuda. Mesmo que por alguns momentos, o Homem-Aranha não seja mais super, ele definitivamente continua sendo um herói. E que herói!

Curiosidades:
Há uma óbvia analogia à dupla Stan Lee e Steve Ditko, no letreiro de um prédio escrito Leedit, Inc.
Pela primeira vez o Homem-Aranha deixa um personagem – excluindo o Tio Ben – morrer.

The Amazing Spider-Man #1 a 12 (EUA, 1963/4)
Roteiro: Stan Lee
Arte: Steve Ditko
Arte-final: Steve Ditko
Letras: John Duffy, Artie Simek, Jon D’Agostino, Sam Rosen
Cores: Stan Goldberg
Capas: Jack Kirby, Steve Ditko, Greg Horn, Artie Simek
Data de publicação: março de 1963 a maio de 1964
Páginas: 20 a 25 por edição

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