Home QuadrinhosEm Andamento Crítica | O Espetacular Homem-Aranha: #39 a 52 e Anual #3 (1966-1967)

Crítica | O Espetacular Homem-Aranha: #39 a 52 e Anual #3 (1966-1967)

por Gabriel Carvalho
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Contém spoilers.

Os traços icônicos de Steve Ditko certamente dariam saudades aos fãs da revista, após a sua saída na edição #38, contudo o novo encarregado pela arte de The Amazing Spider-Man não poderia ser mais talentoso. John Romita, hoje conhecido como John Romita Sr. devido ao fato de seu filho John Romita Jr. também ter adentrado no ramo dos quadrinhos, é simplesmente um dos melhores – senão o melhor – ilustradores das aventuras do amigão da vizinhança. Sua entrada acontece coincidentemente numa das época mais inspiradas de Stan Lee. Sendo assim verão, leitores, que estão de frente com a melhor fase do Homem-Aranha dos anos 60 – e muito provavelmente de todos os tempos.

O quadrinista simplesmente co-produziu algumas das maiores histórias dos quadrinhos e do Homem-Aranha, como Como Era Verde Meu Duende e Nunca Mais! (ambas revisadas nesse compilado), imprimindo plasticidade ao personagem e redefinindo o visual do herói, que seria mantido em uma considerável excelência por seu sucessor, Gil Kane. Um artista atemporal, com passagens mais que inesquecíveis para a memória do leitor do Teioso, porém que infelizmente não duraria por longos anos à frente da revista. Para visualizar outros compilados das edições de Espetacular Homem-Aranha, clique aqui. Na imagem, uma ilustração de Romita com todos os personagens abordados em suas aventuras pela revista do Aranha.

The Amazing Spider-Man #39 e 40

Pode olhar pro meu rosto, Parker… Dê uma boa olhada! É o último rosto que você verá nesta vida!” – Com Peter Parker exposto para seu maior inimigo, o orgulho faz o mesmo também se expor.

Criado por Stan Lee e Steve Ditko em The Amazing Spider-Man #14, o Duende Verde fora mitificado desde a última página de A Grotesca Aventura do Duende Verde, que escondia o verdadeiro rosto do criminoso. Nenhum vilão até então tinha uma identidade secreta. Uma reputação a ser preservada. O Duende Verde sim e isso fazia o vilão se aproximar do Homem-Aranha que, diferentemente do Quarteto Fantástico por exemplo, escondia sua verdadeira face com uma máscara. Sem entrar no mérito da história ser boa ou não, tal ponto em específico – a identidade secreta – fez o personagem deslanchar, sendo o vilão com maior número de aparições até a edição #39, aqui criticada juntamente com a #40. Nos números conseguintes ao 14 as histórias foram amadurecendo até chegar as edições #26 e #27 que exploraram uma dinâmica mais interessante: colocar o Homem-Aranha em extremo risco. Mesmo com o herói desacordado nas mãos do Duende – que inoportunamente não conseguia tirar a máscara do Teioso – o bem prevaleceu e o vilão fugiu.

Continue a ler a crítica desse arco clicando no titulo.

Curiosidades:
Mesmo tendo perdido a memória, o Duende Verde viria a ser correlacionada com os acontecimentos de The Amazing Spider-Man #47-49.
Alguns eventos desse arco são adaptados na minissérie Homem-Aranha: Azul.
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The Amazing Spider-Man #41, 42 e 43

Depois da espetacular estreia de John Romita, em um dos arcos mais importantes da história do personagem, o artista junto de Stan Lee continuariam uma redefinição completa na vida do Homem-Aranha. Se ter se graduado, entrado na faculdade ou aparentemente desistido de Betty Brant foram grandes passos na vida do personagem, essas mudanças começariam a tomar forma de fato com Os Chifres do Rino e suas duas sequências. A introdução já edifica um convite de Anna Watson à Tia May para que ambas morem juntas. No restante da edição temos ainda a apresentação da clássica motocicleta de Peter, além de indícios diferenciados dos olhares entre o garoto e Gwen Stacy, que até então não pareciam entender-se direito. Fato é, Parker finalmente está começando a ser mais sociável. Começando a utilizar sua personalidade de Homem-Aranha mesmo sem estar usando a máscara.

O encontro de Peter com Betty não poderia soar mais angustiante – e real. Apenas não era para ser, e aquele momento prova definitivamente que a garota e o garoto não foram feitos uns para os outros. Era apenas primeiro amor, nada “demais”. O arco de três edições dá uma reviravolta na vida amorosa de Peter, que em Nasce Um Super-Herói já demonstraria uma forte paixonite por Gwen Stacy, sua eterna namorada. O que o garoto menos esperava era que, depois de meses e meses de adiamentos e enrolações, ele por fim encontrar-se-ia diante da sobrinha de Anna Watson, que tanto Tia May tentava empurrar para ele. Peter está enfim diante de Mary Jane Watson, sua futura – mas não tão eterna – esposa.

A personagem tem uma gigantesca presença e consegue, como muito bem dito por Peter, transformar tudo em festa. Extremamente energética, a ruiva emite muita jovialidade e dá mais gás as aventuras que ainda viriam, certamente tendo mais carisma que Liz Allan e Betty Brant juntas. E isso por que não vimos o crescimento de Gwen Stacy como personagem, e muito menos o desenvolvimento da relação de MJ com Peter que em um futuro ainda longínquo perderia um pouco da malícia “esportiva” e entraria em um molde mais sério e profundo. O amor continuaria a conflituar a mente do pobre Peter Parker.

A chegada do Rino é mais um bônus para os leitores que tem no personagem um excelente oponente para o Cabeça de Teia. Sem falar nas ótimas tiradas de Stan Lee que faz a sua verborragia brilhar nas piadas que o excelentíssimo Teioso faz. O Rino consegue sustentar três edições seguidas de aparições diretas, sendo a na segunda mais pontual, funcionando como um gancho para a derradeira em A Fúria de Rino. É hilário e perturbador o fato da fantasia de rinoceronte ser deveras complicada de ser tirada do corpo do criminoso. O personagem ainda se amarra muito bem com os eventos que aconteceriam, na edição #42, com o filho do nosso amado editor-chefe do Clarim Diário.

O retorno de John Jameson funciona primeiramente como contraponto ao seu pai, ainda – e para sempre – hater número 1 do Aranha (e depois reclamam dos haters da DC). Quando seu filho ganha super poderes provindos de esporos cósmicos (não me pergunte de onde tiraram esse termo “científico”), J. Jonah Jameson começa a questionar seu ódio por super heróis, apenas para que ganhe uma definitiva certeza: o Homem-Aranha é aquele que ele mais odeia e odiará fervorosamente para todo o sempre. E lá vai Jameson filho, o novo super-herói, enfrentar o amigão da vizinhança. O porquê de toda essa confusão estratosférica reside-se novamente em um pressuposto Aranha criminoso. Mas embora a ideia seja reciclada de histórias anteriores, a forma como é abordada dá novos ares à fórmula, com a dupla fazendo os próprios leitores indagarem o porquê da atitude do herói, embora que todos soubessem que no final o aracnídeo não sairia de vilão.

Para finalizar, o arco ainda dá conta em posicionar organicamente alguns demais personagens para dentro do universo do herói. O Doutor Curt Connors reaparece, ajudando o Homem-Aranha e contribuindo indiretamente para a derrota do Rino. Matt Murdock e Foggy Nelson são duas figurinhas carimbadas, constantemente presentes na própria revista do Demolidor (citada na revista), que recebem um papel menor como advogados do Rino.

Curiosidades:
Primeira aparição do Rino, com a sua origem sendo contada na edição 43.
Pela primeira vez John Jameson ganha super poderes e faz uso deles.
Primeira aparição completa de Mary Jane Watson.
Alguns eventos desse arco são adaptados na minissérie Homem-Aranha: Azul.
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The Amazing Spider-Man Annual #3

Uma das piadas mais recorrentes dos últimos anos envolvendo o Homem-Aranha abordava a não presença do personagem no grupo dos Vingadores; um eterno excluído. Tal temática também será provavelmente abordada no vindouro longa do herói. Ledo engano, nos quadrinhos, além da já ter tido participação efetiva na formação dos Novos Vingadores, pós A Queda, o personagem remete seu primeiro convite para adentrar na equipe ao ano de 1966, na terceira anual do herói.

Para se Tornar um Vingador é uma história acima de tudo escapista, que lida com um questionamento até válido sobre se os Vingadores deveriam ou não convidar o Teioso, célebre combatente do mal, para juntar-se ao grupo. O teste feito para isso, todavia, é pouco crível. Tal não rende deméritos significativos à história, que, além de ser extremamente divertida, ainda conta com uma espetacular participação do Hulk, deveras superior ao primeiríssimo encontro do herói com o Gigante Esmeralda em The Amazing Spider-Man #14, e aborda dilemas pessoais de Peter, significativos para a edição 50, e oposto ao feito na fraca The Amazing Spider-Man Annual #2. Ademais, a participação do Demolidor não faz sentido algum visto que o Tocha Humana era um parceiro muito mais presente nas histórias do Aranha e provavelmente deveria ter sido o escolhido pelos Maiores Super-Heróis da Terra como intercessor entre eles e o amigão da vizinhança.

Curiosidades:
Primeiro convite para o Homem-Aranha participar dos Vingadores.
Segundo encontro do Homem-Aranha com o Hulk em sua própria revista.
Ocorre pinceladas inofensivas de uma rivalidade entre o Homem-Aranha e a Vespa.
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The Amazing Spider-Man #44 e 45

“Isso me afunda! O mundo todo está contra mim.” – Quando o homem é extremamente egocêntrico.

E ele voltou! Após debutar em The Amazing Spider-Man #6, quase quarenta edições depois o Lagarto retornaria para a felicidade dos leitores e para a infelicidade da família do Dr. Curt Connors. Devido ao contato, na edição anterior, com materiais semelhantes aos utilizados para a confecção do soro que teria transformado-o na grotesca criatura, Connors acaba regredindo ao corpo monstruoso de antes, justamente no momento que ia reencontrar-se com sua família na estação de trem. Coincidentemente, Peter Parker também encontrava-se presente na estação, despedindo-se da Tia May, que estava tirando umas férias. Começa uma perseguição de gato e rato, ou melhor, lagarto e aranha.

O visual do Lagarto ainda não encontra-se na sua melhor forma, mas John Romita se esforça para deixar o personagem menos bizarro e mais orgânico dentro dos quadros. De qualquer forma, deveras mais apresentável do que aquela lagartixa de O Espetacular Homem-Aranha. A história também estende alguns pontos sobre a relação entre Peter, MJ e Gwen Stacy, e tem uma boa carga melodramática. É de extrema sensibilidade as cenas nas quais Martha tenta ao máximo esconder de seu filho a verdade sobre seu pai. O roteiro funciona ao aumentar o fardo do herói, induzindo com bastante credibilidade narrativa uma desmotivação de Peter. Seus problemas pessoais estão cada vez mais lhe afetando.

Curiosidades:
Pela primeira vez, o Doutor Curt Connors transforma-se novamente no Lagarto, algo que viria a ser constante nas histórias envolvendo o personagem.
Alguns eventos desse arco são adaptados na minissérie Homem-Aranha: Azul.
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The Amazing Spider-Man #46

O Sinistro Shocker aprofunda ainda mais a redefinição do personagem-título, quebrando algumas barreiras e conceitos estabelecidos e trazendo, ao mesmo tempo, mais mudanças significativas para Peter Parker. Percebe-se uma exploração cada vez mais densa das complexidades e divergências cotidianas do homem, e não da aranha propriamente dita. Com Tia May decidindo se mudar para a casa de Anna Watson, Peter Parker também recebe um convite para dividir um apartamento com Harry Osborn, filho de seu maior inimigo. A questão econômica é cada vez melhor explorada, cada vez menos simplificada. Questões existenciais são reafirmadas com nenhum sinal de desgaste aparente. A dúvida final: onde estaria a capacidade do garoto em ser feliz depois de todas as tragédias que lhe ocorreram?

O vilão da edição, segundo clássico inimigo do Aranha introduzido pela dupla Lee/Romita, é o nem tão grandioso Shocker. Mesmo que visualmente o personagem seja interessante, o personagem não dá uma verdadeira dor de cabeça no Cabeça de Teia, como dificilmente daria nas décadas seguintes de sua existência. Mas ao menos na edição de sua primeira aparição o personagem consegue manter-se suficientemente decente para parear contra o excelentíssimo amigão da vizinhança (que estava com um dos braços quebrados em decorrência de eventos das edições anteriores).

Curiosidades:
Primeira aparição do Shocker, com sua origem sendo contada.
Apesar de fazer piada falando que sabe como se sente alguém que bate de frente como o Hulk, o Homem-Aranha realmente já bateu de frente com o Hulk, em The Amazing Spider-Man #14.
O objetivo de Foswell de desvendar como Parker consegue as fotos do Aranha remete-se à edição The Amazing Spider-Man #20, primeira aparição do Escorpião.
Pela primeira vez, após 45 edições, Tia May e Peter Parker não estarão morando mais juntos.
Alguns eventos desse arco são adaptados na minissérie Homem-Aranha: Azul.
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The Amazing Spider-Man #47, 48 e 49

O retorno de dois constantes antagonistas do Homem-Aranha é um dos mais bem bolados da revista sessentista, pois diferentemente de algumas clássicas reaparições, algumas vezes dos mesmos personagens aqui citados: Abutre e Kraven (The Amazing Spider-Man #7 e The Amazing Spider-Man #34, respectivamente), suas voltas tem algo novo a contar, muito além de uma mera vingança pessoal. A carga narrativa envolta de Kraven, por exemplo, traz o primeiro retcon das histórias do Cabeça de Teia, se assim poder ser denotado o que Stan Lee conta no arco. O roteiro presume que antes do derradeiro combate contra o herói em Como Era Verde o Meu Duende, Norman Osborn teria oferecido uma recompensa a Kraven em troca da captura do Homem-Aranha. A quadragésima sétima edição da revista também insere um flashback retratando uma não contada batalha entre o caçador e o aracnídeo.

Tendo apenas o nome de Osborn como suposto aliado do agora – presumidamente – falecido Duende Verde, Kraven vai atrás do empresário em busca de dinheiro e como não encontra-o rapta o filho de Norman, ou seja, Harry Osborn, amigo de Peter Parker. Além de apresentar a festa de despedida de Flash Thompson, que estaria juntando-se ao exército norte-americano (um ponto interessante que seria melhor explorado na revisão de alguns momentos clássicos dessa fase do personagem feita na minissérie Homem-Aranha: Azul), a edição – e o arco como um todo – apresenta gradativamente uma mudança de olhar de Peter por Gwen Stacy. John Romita tem aqui uma de suas melhores sequências de combate, em um duelo energético entre Kraven e Aranha. Por fim, as cenas envolvendo Norman Osborn, que vai de encontro ao filho raptado por Kraven, são muito boas e indagativas. Afinal, o empresário milionário estaria fingindo sua perda de memória? A resposta dada ao final da edição é extremamente concludente a essa dúvida.

Curiosidades:
O Mercenário Tagarela revisitaria os eventos da edição 47 em Deadpool #11.
Primeira aparição de Blackie Drago, o segundo Abutre, na edição 48.
A armadura do Abutre sofre sua primeira modificação, com a adição de um capacete.
Alguns eventos desse arco são adaptados na minissérie Homem-Aranha: Azul.
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The Amazing Spider-Man #50, 51 e 52

“Eu era só um jovem e descuidado adolescente quando me tornei o Homem-Aranha. Mas os anos costumam passar… Mudar o mundo a nossa volta… E todo menino, cedo ou mais tarde, precisa se desfazer de seus brinquedos e se tornar um homem!” – A crise existencial de Peter atinge seu ápice, fazendo-o deixar de ser o Homem-Aranha.

As problemáticas nas vidas de super-heróis costumavam variar de acordo com o vilão no qual o personagem teria de enfrentar. Palhaços criminosos, nazistas sanguinários ou então seres extraterrestres malignos. Todas essas identificações vilanescas condensariam um conceito, possivelmente categorizado por maniqueísta, do mal. A guerra, predisposição que contribuiu  a tornar o Capitão América ícone dos anos 40, já não encontrava-se presente em seus termos absolutos. Jovens e crianças manuseavam as revistas em troca de escapismo puro, e não mais identificação. Sendo assim, no ano de 1963, a dupla Stan Lee e Steve Ditko trouxe para a Marvel Comics complexidades e antagonismos mais relacionáveis. Bullying, problemas financeiros, falácias de caluniosos, problemas com garotas, entes queridos enfermos, gripes do dia a dia, entre outras temáticas tornariam o Homem-Aranha, mesmo ainda confrontado por polvos e duendes, em uma figura mais associável ao leitor.

Continue a ler a crítica desse arco clicando no titulo.

Curiosidades:
Primeira aparição do Rei do Crime, na edição 50.
Primeira aparição de Robbie Robertson, na edição 51.
Frederick Foswell morre como herói salvando a vida de J. Jonah Jameson, o homem que lhe deu uma segunda chance após sua prisão em The Amazing Spider-Man #10.

The Amazing Spider-Man #39 a 52, Annual #3 (EUA, 1966/7)
Roteiro: Stan Lee
Arte: John Romita, Don Heck
Arte-final: Mike Esposito, John Romita
Letras: Artie Simek
Cores: Stan Goldberg, Marie Severin
Capas: John Romita, Mike Esposito, Sam Rosen, Sam Goldberg
Data de publicação: agosto de 1966 a setembro de 1967
Páginas: 20 por edição, 72 no anual

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