Home QuadrinhosEm Andamento Crítica | O Espetacular Homem-Aranha: #53 a 65 e Anual #4 (1967-1968)

Crítica | O Espetacular Homem-Aranha: #53 a 65 e Anual #4 (1967-1968)

por Gabriel Carvalho
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Contém spoilers.

Neste quinto compilado das edições da revista The Amazing Spider-Man, abordaremos alguns números que consolidam a mitologia do Homem-Aranha. As histórias agora estão ainda mais entrelaçadas, com arcos cada vez mais frequentes e uma diminuição crescente de contos independentes. Enquanto nas primeiras edições, tínhamos histórias concisas que pouco dialogavam com as anteriores ou posteriores, aqui a mitologia se expande como em uma sensacional série de televisão coesa. As relação interpessoais são melhor costuradas, com o especial aprofundamento da relação Gwen e Peter – e a introdução do icônico Capitão Stacy, uma figura paterna para o amigão da vizinhança. Para visualizar outros compilados das edições de Espetacular Homem-Aranha, clique aqui.

The Amazing Spider-Man #53, 54, 55 e 56

“Eu já ouvi falar de ar condiciado… mas isso é ridículo.” – Mary Jane comenta sobre o imenso rombo criado por Doutor Octopus na parede da casa da Tia May.

Seguindo do inacreditável arco que envolveu as edições #50, 51 e 52, Stan Lee e John Romita propuseram-se a resgatar do fundo do mar o icônico Doutor Octopus. Isto pois o mesmo fora dado como desaparecido após os eventos da Saga do Planejador Mestre. Retomando a narrativa do personagem, a história agora apresenta um estranho aparato tecnológico denominado nulificador. As edições são conduzidas de forma não muito objetiva, mantendo uma boa dose constante de problemática vilanesca, colocando o Homem-Aranha em diversos apuros, incluindo por tal, a sua perda de memória. Tal amnésia é introduzida abruptamente, e de modo falho pelo roteiro, que apresenta furos após fazer o personagem título ser induzido novamente ao nulificador (causa de sua perda de memória anterior) e não perdê-la novamente. Ao menos, encerra-se o arco com um Homem-Aranha que não sabe quem ele é. Uma genérica, mas instigante premissa.

Um dos momentos mais memoráveis desse arco situa-se na edição #54, que apresenta, aliada à trama maior, Otto Octavius alugando um quarto na casa da Tia May, sendo que para tal e para nós, May mostra-se como uma velhinha completamente caquética e facilmente manipulável. Apesar desta ser a versão nostálgica da personagem, aprecio muito mais uma Tia May mais sagaz, completamente oposta e esta. A “cegueira” da personagem ao menos dá margem para Romita ilustrar um desespero aterrorizador no qual Parker é submetido, ao ver a Tia May desmaiar diante do combate entre o Doutor Octopus e o Homem-Aranha. Ele chega até a tirar a máscara para a sua tia, que inconsciente não consegue ver que aquela ameaça mascarada que a fez passar tão mal era nada mais nada menos que seu próprio sobrinho. Pensando bem, talvez ela piorasse ainda mais ao saber disto. Ademais, as histórias ainda destacam os sentimentos de Gwen Stacy, retomam o antagonismo entre J. J e seu filho, dão maior espaço a Robbie Robertson e induzem um sentimento de revolta de Harry Osborn para com a personalidade presumidamente avoada de Peter.

Curiosidades:
Primeira aparição do Capitão George Stacy, na edição 56.
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The Amazing Spider-Man Annual #4

A Teia e a Chama é mais uma aparição do Tocha Humana nas revistas do Homem-Aranha, trazendo consigo o vilão Mago, recorrente antagonista do Quarteto Fantástico. O conto é simplório, trazendo novamente a temática de The Amazing Spider-Man #14. O encontro entre o Tocha e o Aranha é bem costurado, mas a premissa é patética. Colocar super-heróis para estrelarem seus próprios filmes é ilógico, Stan Lee. Super-heróis são super-heróis, e não atores. Ao menos a preocupação do amigão da vizinhança em arrecadar uma grana extra para a Tia May é extremamente válida.

O Mystério, um de meus vilões favoritos da galeria do aracnídeo, retorna como parceiro do Mago nesta que é provavelmente sua presença mais fraca. A parceria dos dois é tola; extremamente tola. Ressalvas à parte para o gigante gorila mecânico que aproxima-se do absurdo descarado. Para piorar a situação toda a conclusão é incompreensível. Independente dos caminhos narrativos óbvios, há uma boa quantidade de escapismo nesse número, que se não garante torná-la espetacular, não deixa-a ser um completo fracasso.

Curiosidades:
Primeira aparição do Mago nas revistas do Homem-Aranha.
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The Amazing Spider-Man #57 e 58

Após ter perdido a memória na edição #55 o Homem-Aranha busca entender quem ele é e o que aconteceu a ele. Enquanto antes a perda da memória resultou em situações com pouca credibilidade narrativa, aqui a mesma é explorada de modo mais inteligente, com situações triviais destacando-se, como o herói dormindo em uma estação de trem, enquanto a chuva e o frio lhe incomodam. Aliás, a preocupação de Gwen, Harry e especialmente da Tia May sobre onde Peter está é muito bem vinda, revelando mais traços de afeição desses personagens pelo garoto, além de introduzir a graciosidade da presença do Capitão George Stacy. A edição #57 se sobressai comparada com a consequente edição #58, ainda mais visto que a resolução dada na segunda para a perda de memória de Peter é extremamente pobre. Quando esperava-se ver Ka-Zar unindo forças ao garoto para desvendar quem ele é afinal, por meio de uma possível revelação de identidade e consequente criação de laços, o bendito Aranha recupera-se em um lindo – e particularmente, revoltante – Deus ex Machina.

Além disto, é interessante contrapor Ka-Zar a Kraven, visto que ambos assumem a mesma postura diante da presença de um oponente forte; coincidentemente os dois sendo motivados por um alguém além, antes o Camaleão e agora J. Jonah Jameson. A diferença está no caráter dos personagens, tendo em vista que após derrotar o nosso herói título, o selvagem salva-o do afogamento. Fora isto, o número Para Matar um Homem-Aranha ainda conta com a reaparição do famigerado robô Esmaga-Aranha, que apresenta um inédito – e mais bem resolvido – visual. A edição ainda revela uma loucura aflorada de Spencer Smythe, destinado a matar o aracnídeo, enquanto J. Jonah Jameson desespera-se com a hipótese dessa linha entre a vida e a morte ser cruzada.

Curiosidades:
Primeiro encontro entre Ka-Zar e o Homem-Aranha.
Retorno de Spencer Smythe.
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The Amazing Spider-Man #59, 60 e 61

“Que tipo de sorte é a minha? O Aranha agora é o herói… mas, para Gwen, o Parker… é um vilão! Como posso suportar isso?” – Peter dramático e o mesmo dilema de The Amazing Spider-Man #11.

Apresentado três edições antes, o Capitão George Stacy é a figura cerne desse excelente arco da dupla Lee/Romita. O personagem, em seus primeiros momentos, mostra paixão pelo amigão da vizinhança – e quem não se apaixonaria? – além de transmitir uma sabedoria até então única, com Stacy entendendo a estranheza das situações que a cidade é acometida. A cumplicidade do personagem, logo ao apresentar-se para Peter Parker, também é condizente com o carinho que o Capitão  irá ter – e em menores proporções, já tem – com o futuro namorado de sua filha. A lavagem cerebral feita nele pelo Dr. Winkler, assecla do Doutrinador, reverte totalmente as ações do personagem, fazendo o leitor ter empatia, ou seja, pesar pelo que está acontecendo, ainda mais nas cenas envolvendo o homem e Gwen. A loira recebe um tratamento especial pelo roteiro, indicando para ela uma completa devoção ao seu pai, cuidando dele até mesmo no momento de sua presumida queda. O azar retorna como um antigo amigo do Homem-Aranha, fazendo com que Peter, um pouco depois de assumir para si mesmo seu amor por Gwen, seja precipitadamente acusado pela própria garota que ama de agredir o Capitão. Enquanto antes os pombinhos nunca estiveram tão apaixonados, agora – pelo menos até agora – eles estão mais distantes do que nunca.

Diferentemente da revelação do homem por trás da identidade de Planejador Mestre, a identidade do Doutrinador realmente é uma surpresa. O retorno do Rei do Crime é magistral, e a não ser pela máquina de lavagem cerebral (um artifício narrativo deveras batido), todos os caminhos que o enredo opta por progredir são bem organizados. A frieza do personagem é demonstrada pela sua posição acerca do que deve ser feito com o garoto Peter Parker, e sua força física é mais uma vez imensurável – e amedrontadora. A participação especial de Norman Osborn é sensacional. O pessimismo encerra enfim o arco com Peter feliz por Gwen gostar do Homem-Aranha, mas triste por saber que ela ainda reprova a outra versão do próprio, menos heroica e mais comum, de modo tão intenso.

Curiosidades:
Primeira aparição do Dr. Winkler, na edição 59.
Segunda vez que um vilão já conhecido do público utiliza uma identidade secreta, visto que o Doutor Octopus fizera o mesmo na Saga do Planejador Mestre.
Norman Osborn indaga seu fascínio pelo Duende Verde, demonstrando uma perda de memória já levemente corrompida.
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The Amazing Spider-Man #62

O encontro do Homem-Aranha com a inumana Medusa não poderia ter sido mais blasé. Consta-se logo de cara a falta de criatividade do roteiro em colocar a personagem em uma situação menos absurda e ridícula do que a utilização de si como propaganda de uma marca de cosméticos: o Shampoo Celestial. Pelo amor da névoa Terrígena! A própria participação do Homem-Aranha soa deslocada, com o herói cruzando acidentalmente com a personagem primeiramente e depois sendo convidado a enfrentar a inumana pelo publicitário que estava tentando explorá-la. O Homem-Aranha como ninguém deveria saber que pessoas podem ser caluniosas e de tal modo, não confiar nelas no primeiro instinto. Assim ele faz parcialmente, mas por algum motivo Medusa decide enfrentar o Teioso.

A história pouco aborda a questão de Gwen ainda estar furiosa com Peter, comentando-a pontualmente, através de uma – até boa – cena da garota com seu pai, o Capitão Stacy. A conclusão da edição poder ser considerada importante para a cronologia, indicando que os avanços de Mary Jane, mesmo com Parker descompromissado, não darão em nada. No entanto, tal “avanço” no storytelling é uma redundância sem vergonha, com questões já apresentadas sendo repetidas. Ademais, a nova participação de Norman Osborn reacende com mais vigor uma antiga e inquietante chama, mesmo que tal aparição também possa ser considerada uma repetição temática. Ao todo, um filler fraco e esquecível.

Curiosidades:
Primeiro encontro entre Peter e Medusa.
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The Amazing Spider-Man #63 e 64

Asas Mortíferas reintroduz Adrian Toomes, o Abutre original, que encontrava-se presumidamente morto. O porquê de pessoalmente esta ser uma de minhas histórias favoritas reside-se no fato dela colocar vilão contra vilão, sendo que a presença do Homem-Aranha não interfere em nada o andamento da edição. É uma clássica vingança, que humaniza Toomes, visto que o mesmo fora feito de palhaço por Drago, e como qualquer um de nós reagiria, se enfureceu com o que Blackie fez a ele. Sua derradeira vitória coloca Adrian como o Abutre definitivo, fazendo a experiência do veterano se sobressair à vitalidade do novato. O melhor da edição é ver Peter Parker como um mero observador – e fotógrafo de fato, o que por razões óbvias possivelmente relembrará o espectador da espetacular minissérie Marvels. A ação é excelente, com Romita contando com a contribuição de Don Heck no lápis. No intrínseco, a história ainda lapida um pouco a tristeza de Gwen por Peter. e coloca em suas últimas páginas o Homem-Aranha salvando heroicamente um cidadão comum.

Por outro lado, A Presa do Abutre, edição seguinte a Asas Mortíferas, concentra-se em uma das melhores batalhas do Homem-Aranha contra o Abutre, senão a melhor, colocando problemáticas na medida certa (o braço do Teioso está dormente), e evoluindo alguns pontos da narrativa geral. Gwen finalmente perdoa Peter, mesmo que a garota agora tema pela vida de seu amante, que supostamente está nos telhados junto a Robbie e J. Jonah Jameson. O próprio Robbie recebe um bom tratamento do roteiro, que articula-o como uma figura mais esperta (vide o momento que ele associa o fato do Aranha saber seu nome com a suposição de que o super-herói seja alguém conhecido) e extremamente capaz de ter atitudes heroicas. A edição ainda finaliza com um ótimo cliffhanger, no qual o Homem-Aranha desmaia na rua, a mercê da bondade do povo em não retirar a sua máscara.

Curiosidades:
Primeiro confronto nas revistas do Homem-Aranha entre duas versões de um mesmo vilão.
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The Amazing Spider-Man #65

“Não entendo por que o papai anda tão esquisito! Nunca vi ele tão bravo… E era só falar no Duende Verde ou… no Homem-Aranha para ele piorar! – Simplesmente tenso.

Depois de ter desmaiado enquanto o Abutre fugia na última edição, o Homem-Aranha acaba sendo preso pelos policiais. O fascinante de tal prisão é a logo posta liderança do Capitão George Stacy que ordena que a máscara do vigilante não seja retirada. Uma atitude correta para que se preserve os direitos civis da pessoa, mas também uma antecipação do que poderia vir a ocorrer com o sujeito posterior a revelação de sua identidade – vide Guerra Civil. A premissa que dá substância à história é a fuga de detentos da delegacia, que acaba dando margem à utilização de Stacy como refém. Sendo assim, o Homem-Aranha, mesmo debilitado, deve interromper esta fuga, sem ocasionar em danos físicos ao Capitão.

 O que se segue é um bom conto, que alia as melhores habilidades do Homem-Aranha, apresentando uma furtividade mais encorpada. O Homem-Aranha nunca fora tão parecido com o Homem-Morcego. A história ainda conta com uma mudança de visual de Mary Jane – nada demais – e uma busca de Harry Osborn por seu pai – calafrios a toda menção ao milionário. A única queixa à edição encontra-se no momento no qual o Teioso decide ligar para a Tia May, em meio à fuga dos detentos. Ilógica, tal cena quebra totalmente o ritmo do número, além de causar mais ansiedade negativa à boa velhinha.

Curiosidades:
Primeira vez que dão ao Homem-Aranha chance de limpar o seu nome – em troca de sua identidade.

The Amazing Spider-Man #53 a 65, Annual #4 (EUA, 1967/8)
Roteiro: Stan Lee
Arte: John Romita, Don Heck, Larry Lieber
Arte-final: Mike Esposito, Jim Mooney
Letras: Artie Simek, Sam Rosen, Jerry Feldman
Cores: Mike Esposito
Capas: John Romita, Larry Lieber
Data de publicação: outubro de 1967 a outubro de 1968
Páginas: 20 por edição, 72 no anual

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