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Crítica | O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final

Ele realmente voltou!

por Ritter Fan
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  • spoilers.

Vamos todos aqui logo de cara concordar que James Cameron é um cineasta genial. Iniciando sua carreira cinematográfica no começo dos anos 80 não como diretor, mas como técnico de efeitos especiais, diretor de fotografia auxiliar e outras funções semelhantes, o canadense que estudou física, depois inglês, mas não se formou em nenhum dos dois cursos, tendo que dirigir caminhões para sustentar seu sonho de se tornar roteirista, despontou em Hollywood tanto como diretor quanto como roteirista já com uma continuação, Piranhas 2: Assassinas Voadoras, obra trash que, porém, demonstraria o que marcaria suas outras continuações, inclusive a que é objeto da presente crítica: sua recusa em fazer apenas mais do mesmo.

Aliens, O Resgate famosamente transformou uma cultuada ficção-científica de terror em um sci-fi de ação, quase de guerra mesmo e, no processo, converteu a Ellen Ripley de Sigourney Weaver, de uma sobrevivente, em uma verdadeira guerreira, além de surpreender seus espectadores ao inverter a lógica do longa original e fazer o androide ser uma aliado e não o vilão. A continuação de Alien, O Oitavo Passageiro só foi mesmo possível porque, dois anos antes, Cameron colocara nas telonas O Exterminador do Futuro, longa de baixo orçamento (mas muito mais alto do que o disponível para Piranhas 2) que representou uma verdadeira revolução no gênero que terminou por catapultar de vez sua carreira e, também, a de Arnold Schwarzenegger. Mas sua natural continuação demorou a sair, com o diretor aproveitando o tempo para continuar pavimentando sua impecável filmografia.

O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final, assim como Aliens, O Resgate, transforma o androide vilão em herói, introduz uma nova e, para a época, inacreditável ameaça na forma de “metal líquido” e, de quebra, faz pela Sarah Connor de Linda Hamilton exatamente o que ele fizera por Ellen Ripley. E isso porque eu sequer falei da revelação de Edward Furlong – que nunca cumpriu a promessa de se tornar uma estrela, infelizmente – como o jovem John Connor, filho de Sarah e o prometido que levaria a raça humana a uma rebelião contra as máquinas genocidas no futuro. Agora, a missão do T-800 de Schwarzenneger, novamente enviado do futuro ao presente, é salvar o adolescente John do altamente sofisticado e ameaçador T-1000 de Robert Patrick em um longa agora de alto orçamento que abre todas as portas técnicas que Cameron precisava para criar outro clássico sci-fi tão importante – ou mais – do que suas obras anteriores no gênero, especialmente pelo uso quase inédito de computação gráfica que, a partir desse ponto na História de Hollywood, alteraria completamente a indústria para o mal ou para o bem.

O Exterminador do Futuro 2 é uma perfeita mescla de drama e ação que, mesmo carregado de efeitos práticos e CGI de toda sorte, não se esquece por um segundo sequer de sua história e de seus personagens, com Schwarzenegger não apenas repetindo seu papel de androide mortal impassível, como acrescentando uma camada de humanidade na medida em que ele se conecta mais com John e Sarah que chega a ser assustadora, provavelmente até hoje o melhor trabalho dramático do grandalhão que começou sua carreira cinematográfica como um Hércules bobalhão em Nova York. Ajuda muito o acerto absoluto na escalação de Furlong, um garoto durão que sofre pelo abandono da mãe (em sua visão) e que, aos poucos, vê no androide uma figura paterna que ele nunca teve. Hamilton, como a versão 2.0 de Sarah Connor, é uma força da natureza, a mãe protetora que, porém, por tudo o que ela passou, tem uma camada de frieza que demora a esquentar, com o T-800, para ela, sendo muito mais um instrumento de proteção do que qualquer outra coisa. Desnecessário dizer que a trinca formada por eles é de se tirar o chapéu e Cameron tem perfeita ciência disso, extraindo de cada ator o seu máximo em sequências lentas e ternas contrastando com tomadas de ação tão espetaculares e tão bem coreografadas que elas colocam no chinelo grande parte dos filmes atuais que tentam fazer algo parecido.

Uma das marcas de Cameron é justamente saber equilibrar ação vertiginosa com desenvolvimento constante de seus personagens, até mesmo de Miles Bennett Dyson (Joe Morton), o engenheiro da Cyberdyne Systems que, com base no braço robótico que restou do primeiro longa, está em processo de desenvolvimento da tecnologia que um dia seria a Skynet. Miles aparece relativamente pouco, mas é impressionante como o diretor leva o personagem de completo incrédulo a alguém disposto a sacrificar a vida pela trinca principal de maneira fluida e verossímil, fazendo o espectador realmente se importar com seu trágico, mas heroico destino. Claro que o mesmo pode e deve ser dito do desenvolvimento do T-800 que espelha – só que com mais detalhes, evidentemente, o de Miles – em que ele vai da frieza absoluta para o mais próximo que um androide pode sentir de amor, de senso de responsabilidade e de sacrifício sem que, novamente, haja nada de artificial na forma como essa progressão é conduzida.

No lado puramente técnico, os efeitos especiais – práticos e em computação gráfica – brilham como em todo filme de Cameron. A amálgama entre os dois tipos de efeitos é tão perfeita quanto a que foi vista no criminosamente subestimado O Segredo do Abismo e quanto a que seria vista em Jurassic Park dois anos depois (filme, aliás, que só foi possível do jeito que foi feito por causa do trabalho da ILM em O Exterminador do Futuro 2), com o T-1000 sendo, lógico, o absoluto destaque, especialmente na inesquecível sequência em que ele atravessa as grades do sanatório onde está Sarah Connor, mas com seu revólver batendo no metal e, com isso, nos dizendo tudo o que precisamos saber sobre o fascinante personagem. Mas não podemos esquecer do comando de Cameron nas perseguições que acompanhamos no longa, começando pela fuga de motocicleta do T-800 com John Connor pelos canais secos de Los Angeles e, claro, a esplendorosa e altamente complexa sequência de perseguição rodoviária com caminhões e outros veículos que nos leva ao momento climático na forja. Até hoje, décadas depois, essas cenas são difíceis de serem batidas por outros diretores.

A genialidade de James Cameron está presente em cada fotograma de O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final, o que inclui até mesmo a escolha de You Could Be Mine do Gun n’ Roses para sacudir o começo do longa. Em sua segunda continuação (para valer, pois precisamos descontar Piranhas 2), o cineasta cria outra obra-prima que pode ser orgulhosamente colocada na mesma prateleira qualitativa de sequências inesquecíveis onde estão, dentre outras, O Poderoso Chefão II, Toy Story 2, Batman – O Cavaleiro das Trevas e, incrivelmente, seu próprio Aliens, O Resgate. E o mais enlouquecedor de tudo é constatar que Cameron revolucionaria o Cinema Blockbuster nada menos do que outras duas vezes depois de T2, uma vez em alto mar e outra em lugar bem mais distante, em Pandora.

O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final (Terminator 2: Judgement Day – EUA, 1991)
Direção: James Cameron
Roteiro: James Cameron, William Wisher
Elenco: Arnold Schwarzenegger, Linda Hamilton, Edward Furlong, Robert Patrick, Earl Boen, Joe Morton, Jenette Goldstein, Xander Berkeley, S. Epatha Merkerson, DeVaughn Nixon, Danny Cooksey, Leslie Hamilton Gearren
Duração: 137 min.

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