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Crítica | O Exterminador do Futuro – A Salvação

por Ritter Fan
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estrelas 2

O Exterminador do Futuro e O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final são filmes de suspense e ação perfeitos, cada um com seus próprios méritos. Um está para o outro assim como Alien, o 8º Passageiro está para Aliens – O Resgate. Quatro obras com suas próprias características, mas cada uma delas acertando o alvo em cheio.

Guardadas as devidas proporções, O Exterminador do Futuro 3 – A Rebelião das Máquinas está está para Alien³ assim como O Exterminador do Futuro – A Salvação está para Alien – A Ressurreição. Pensem bem aqui comigo: enquanto T3 caminha em águas conhecidas, alterando a narrativa aqui e ali, T4 chega a perverter toda a lógica anterior, exatamente como o híbrido humano-alien acaba fazendo no último filme da franquia dos xenomorfos assassinos (imaginem um universo paralelo onde o tenebroso Prometheus não exista, claro).

A lição que fica, em outras palavras, é que não se deve mexer em obras primas, refilmando-as ou criando continuações completamente desnecessárias que nada acrescentam à história e, pior, a sacudam de tal forma a desdizê-la ou contradizê-la. Pelo menos na série Alien, os produtores conseguiram manter a mola mestra nos quatro filmes, a atriz Sigourney Weaver. Em T4, a não ser por um momento de qualidade duvidosa e que só está lá para gerar efêmeros minutos cool para fãs sem discernimento, Arnold Schwarzenegger não aparece e o pouco charme que T3 tinha vai para o ralo com isso. Mas, talvez pior do que não reter a estrela dos filmes anteriores (o ator, à época, era governador do Estado da Califórnia, nos EUA, cargo que manteve entre 2003 e 2011), seja mesmo trabalhar um roteiro que literalmente atira para todos os lados, errando os alvos na maioria das vezes.

Uma breve sinopse vem a calhar: no futuro apocalíptico previsto nos filmes da série, John Connor (Christian “Batman” Bale) é um dos líderes da resistência. A repentina aparição de Marcus Wright (Sam Worthington), algo não previsto nesse futuro ditado em fitas gravadas por Sarah Connor, muda os eventos e John tem que saber lidar com isso. Marcus não sabe quem é. A última coisa que lembra é estar para ser executado por injeção letal, logo antes da Skynet destruir o mundo como o conhecemos. Acordando no ano de 2018, Marcus esbarra no jovem Kyle Reese (Anton Yelchin, o Chekov do semi-reboot de Star Trek) e, mais tarde, em John Connor.

McG é um diretor de videoclipes e isso ele faz muito bem. A perseguição dos vários robôs exterminadores a Marcus e Kyle é sensacional, mas acontece muito cedo no filme. Depois disso, a quantidade de coisas implausíveis vai se amontoando até o ponto do insuportável. A começar pela coincidência de Marcus dar de cara logo com Kyle; por Kyle, um rapazote, ser o número um na lista de “procurados” pela Skynet; por John Connor, só a partir dos eventos desse filme sair atrás de seu futuro pai e assim por diante. O simples fato de a Skynet estar atrás de Kyle e John, assim, de graça, já não faz sentido, pois a Skynet não teria como saber de seu futuro. E o que mais incomoda: McG não fez nenhum esforço para mostrar o porquê de Connor ser considerado uma espécie de messias. O personagem é reverenciado sem nenhuma explicação e não venham dizer que é só por ele ser o filho de sua mãe, pois isso não parece o suficiente para o grau de idolatria que ele recebe ao longo da projeção.

O roteiro, escrito a quatro mãos por John D. Brancato e Michael Ferris, responsáveis também por T3, se esforça demais em manter a mitologia, inserir elementos e especialmente criaturas robóticas novas e, ao mesmo tempo, dar um caráter pessoal e mundial à luta contra as máquinas. O resultado é, ainda que desconsideremos as inconsistências acima apontadas, descompassado, perdido, com a evidente intenção de agradar a vários tipos de público e, por isso mesmo, talvez, não agradando a nenhum. É como se a história tivesse sido resultado de um comitê de roteiristas diversos, com idéias díspares que foram costuradas e jogadas na mesma panela por um estagiário desesperado par ir para casa depois de 16 horas de trabalho. Há até mérito em levar a luta para outros ambientes, como a sequência do submarino em alto-mar com o sempre ótimo (em sua canastrice) Michael Ironside ou na criação de personagens externos à trama principal – incluindo Marcus, a Dra. Serena Kogan (Helena Bonham Carter) e Blair Williams (Moon Bloodgood – esse nome é sensacional, não?) – mas o fato é que a fita teria se beneficiado e muito de um objetivo mais claro, de menos digressões e piscadelas para o público.

Por cima disso tudo, temos Christian Bale que não convence como Connor. Aquele ator, em T2, que aparece de relance como um John Connor cheio de cicatrizes é melhor que Bale no papel. Yelchin, por outro lado, funciona bem como Kyle Reese, especialmente quando se põe a falar as frases que conhecemos do primeiro filme. Afinal, quem não se lembra de “venha comigo se quiser viver”? Certamente T4 faz das tripas coração para homenagear ao máximo os dois primeiros filmes, mas, ao fazer isso, fica preso a uma estrutura pré-determina que o próprio roteiro tenta se desvencilhar com a introdução de Marcus Wright. O final é arrastado e repetitivo em relação a T2. O filme tem suas surpresas, mas todas elas telegrafadas desde o começo.

Mas, pelo puro fator “diversão descerebrada”, o filme até tem seus méritos. Muita perseguição na terra e no ar, com carros e motos (inclusive ao som de You Could be Mine), caminhões tanque e Hunter Killers (aquelas naves bacanas da Skynet). O design de produção, lidando com a terra devastada desse futuro e os efeitos especiais convencem, com apenas o momento nostálgico que citei mais acima – com Schwarza digital – não funcionando de verdade.

Pena que o roteiro seja um queijo suíço de tantos buracos. Se a produção tivesse se esforçado um pouquinho mais, teriam feito um filme do nível de T3, o que pode não ser muito, mas, considerando o que recebemos, teria sido bem melhor que a prometida “salvação”.

O Exterminador do Futuro – A Salvação (Terminator Salvation, EUA/Alemanha/Reino Unido/Itália – 2009)
Direção: McG
Roteiro: John D. Brancato, Michael Ferris
Elenco: Christian Bale, Sam Worthington, Moon Bloodgood, Helena Bonham Carter, Anton Yelchin, Bryce Dallas Howard, Jane Alexander, Michael Ironside
Duração: 115 min.

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