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Crítica | O Golpe de John Anderson

por Luiz Santiago
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De alguma forma, o espectador é mentalmente guiado para uma breve comparação daquilo que vemos no primeiro ato de O Golpe de John Anderson com o que temos em um filme que seria lançado alguns anos depois: A Conversação.  Adaptação do livro de Lawrence Sanders (o primeiro da série literária Edward X. Delaney, lançado em 1970), The Anderson Tapes tem um início bem dissociado daquilo que o filme se tornaria em sua segunda metade, ou seja, a história de um roubo que encontra consequências totalmente distintas daquilo que se planejara.

Se há um incômodo geral nesse roteiro de Frank Pierson é o fato de que a guinada que o texto dá abandona a questão das gravações, da frequência de vigilância por câmeras em todos os lados (isso torna o filme um tanto datado — algo raro na filmografia de Sidney Lumet, vale dizer –, mas ao mesmo tempo explora uma tecnologia que hoje temos por toda parte) e passa a focar no roubo bem preparado pelo personagem vivido por Sean Connery, recém-saído da prisão.

O modo como a montagem do filme é realizada condiz perfeitamente com o modelo de investigação (não oficial, claro) e é replicada ao fim de todo o golpe para mostrar as consequências e o que diferentes pessoas relataram aos repórteres e aos policiais. Apesar de não ter o mesmo poder que a sua preparação ou mesmo encerramento, o roubo conta com momentos interessantes no quesito construção de personagens, com Lumet colocando vários indivíduos reagindo de maneiras distintas àquele tipo de violência. De proteção de bens materiais à plena alegria ou postura aventureira de um garoto paraplégico, esses momentos servem para distender um pouco a tenção criada pelo ato, todavia, acabam minando bem mais do que deveria.

Já o mesmo não acontece quando temos os cortes para o futuro, seguindo a mesma trilha do que vimos no início da obra. O diretor trabalha bem com a chamada de atenção do público, colocando-o a par de coisas específicas até que a verdade inteira seja revelada. E por mais que apareça ao longo do filme, não é o tipo de encadeamento da montagem que se torna batido ou incômodo. A questão está mais na fragilidade do arco ligado à investigação e gravação das fitas do que ao estilo de montagem iniciada com elas e sua aplicação em outro momento da película.

Interessantemente trágico, mas também cômico em muitos aspectos, além de trazer a construção de um roubo que hoje é bastante conhecida por nós, O Golpe de John Anderson guarda interessantes surpresas (um jovem Christopher Walken esbanjando charme, por exemplo) e parece querer se desvencilhar de uma condução puramente moral em seu fim, para mergulhar em uma aplaudível leitura de “melhor estratégia” tomada por cada um dos personagens. O longa tem um pouco da atmosfera paranoica das grandes cidades que muito se representou no cinema dos anos 1970 e dá um direcionamento pouco convencional para a escolha de seus criminosos e para a ação do roubo, propriamente dito. Não é uma trama exatamente bem amarrada, mas certamente tem o seu impacto positivo sobre nós.

O Golpe de John Anderson (The Anderson Tapes) — EUA, 1971
Direção: Sidney Lumet
Roteiro: Frank Pierson (baseado na obra de Lawrence Sanders)
Elenco: Sean Connery, Dyan Cannon, Martin Balsam, Ralph Meeker, Alan King, Christopher Walken, Val Avery, Dick Anthony Williams, Garrett Morris, Stan Gottlieb, Paul Benjamin, Anthony Holland, Richard B. Shull, Conrad Bain, Margaret Hamilton
Duração: 99 min.

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