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Crítica | O Golpista do Tinder

Um documentário sobre o lado tenebroso dos aplicativos e redes sociais para relacionamentos amorosos.

por Leonardo Campos
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Parece que ficou mais fácil namorar diante do surgimento das redes sociais e aplicativos. Do conforto de nossa casa ou ao longo de um trabalho qualquer no escritório, baixamos o Tinder, colocamos as melhores fotos em nosso perfil, as descrições que correspondem ao estilo que adotamos e, num passe de mágica, a pessoa se torna parte de um curioso mercado sentimental. Um clique para o lado esquerdo é o reforço de falta de compatibilidade e, ao deslizar para o lado direito, há a chance de encontrarmos o nosso próximo relacionamento. Esta é a premissa do aplicativo, diferente da realidade que pode ser menos romântica e sensual e mais assustadora do que possamos imaginar. Com as facilidades do ciberespaço, sabemos que também chegam os problemas, afinal, estamos lidando com o fator humano na posição de usuário. São perfis de golpistas, pessoas que alegam ser algo que nunca foram ou serão, conhecidos que se passam por atraentes solteiros para nos investigar, dentre tantas outras possibilidades que minam as chances de considerarmos os aplicativos como território das maravilhas.

Em O Golpista do Tinder, a primeira opção de perfil mencionada é a tônica do documentário que retrata uma situação trágica, sem deixar de lado a aposta em toques de humor. Acompanhamos, ao longo de seus extensos 114 minutos, a trajetória de mulheres que revelam como foram manipuladas por um homem que se passava por alguém que não era. Jatos particulares, hotéis luxuosos, restaurantes sofisticados e roupas de marca, subindo e descendo entre países europeus como se estivesse apenas se deslocando dentro de sua própria cidade. Assim é a vida de Simon Leviv, o golpista do título, homem que se passava por bilionário para aplicar golpes em suas namoradas apaixonadas. Inicialmente, ele se posicionava como um príncipe. Logo depois, criava uma narrativa insana sobre perseguição por ser muito rico, simulação de ataques envolvendo os seus seguranças, num esquema ludibrioso que fazia as suas companheiras ficarem estarrecidas. E, sem pensar, ajudavam com cartões, empréstimos, etc.

Como duvidar de um perfil social tão coeso? Logo mais ele devolveria o dinheiro emprestado. Assim era o pensamento de muitas delas, mas o que advinha disso era puro tormento. No primeiro bloco, conhecemos os golpes para no segundo, entendermos mais as vítimas golpeadas financeiramente e psicologicamente. Para conseguir realizar a sua façanha, Simon Leviv utilizou o nome de uma família bilionária, tendo em vista estabelecer o seu plano que, num determinado momento, não conseguiu mais se manter coeso. Ele chegou a ser preso, mas foi liberado meses depois e ainda goza dos privilégios malandros de uma vida endinheirada, impunidade que surge como deboche quando percebemos que as vítimas ainda lutam para quitar os seus débitos exorbitantes. É, como já mencionado, um tanto assustador em diversos vieses, desde a falta de justiça ao quanto as pessoas andam carentes a ponto de confiar desta maneira em alguém com tão pouco tempo de relacionamento, basicamente um conhecido virtual.

Inebriadas pelo cheiro de riqueza e charme de Simon, as mulheres golpeadas se encantaram com a possibilidade de um casamento perfeito, sem dificuldades, com abundância material ao lado de um homem dentro dos padrões físicos exigidos pela sociedade. No entanto, nesta jornada, encontraram os seus maiores pesadelos. Em sua narrativa, Felicity Jones não pretende estabelecer um tom cautelar, tampouco condenar as redes sociais e aplicativos, mas demonstrar, por meio das histórias de suas entrevistadas, como vivemos numa era de maior vulnerabilidade, demasiadamente confiantes nas maravilhas das novas tecnologias, quando de fato precisávamos de mais cuidado na posição de usuário. Para contar os casos, ela faz uso de efeitos visuais que emulam a linguagem dos aplicativos e redes sociais, permitindo uma imersão maior diante do que é apresentado, com depoimentos das vítimas iluminados cuidadosamente pela direção de fotografia de Edgar Dubrovskiy, algo menos comum em narrativas documentais. Há, inclusive, a divertida vingança de uma das vítimas, algo que não chega aos pés do que ele fez ao minar a confiança nela mesma, mas ainda assim, foi um golpe certeiro no esperto que acreditava sair sempre vencedor de suas jornadas fraudulentas.

O Golpista do Tinder (The Tinder Swindler – EUA, 2022)
Direção: Felicity Morris
Roteiro: Felicity Morris
Elenco: Ayleen Charlotte, Cecilie Fjellhøy, Erlend Ofte Arntsen, Kristoffer Kumar, Natalie Remøe Hansen, Pernilla Sjöholm, Simon Leviev
Duração: 114 min

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