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Crítica | O Gorila Matador

Inicialmente horror ecológico, proto-slasher na metade e terror genérico no desfecho.

por Leonardo Campos
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Uma curiosa ausência nos meandros do horror ecológico. Os gorilas assassinos ou geneticamente modificados. Comparado aos ratos, felinos e tubarões, os imponentes animais em questão tiveram presença muito tímida nas produções do subgênero ou em narrativas com temática tangente. E relatos sobre a sua capacidade de assustar e demonstrar domínio em torno do ambiente selvagem pululam em vários meios de comunicação, principalmente na atual geração do repórter cidadão e seus registros de acontecimentos por celular e compartilhamento em whatsapp e redes sociais. Como já mencionado em outros textos, gosto sempre de entender o animal foco da narrativa ecológica analisada, para melhor compreender o seu potencial em assustar e traçar paralelos entre os excessos típicos da ficção e a realidade que pode ser tão apavorante, ou até mais, que a construção de uma história ficcional.

Recentemente, em Madrid, um gorila de 190 quilos consegui escapar de sua jaula e atacou a treinadora que não morreu, mas ficou gravemente ferida, com traumatismo no tórax, fraturas múltiplas e ferimentos na cabeça. Ainda na Espanha, também há pouco tempo, um gorila resolveu demonstrar sua fúria ao público e desferiu um forte golpe na vitrine que o separava do público que o contemplava, dando maior susto nos espectadores. Situação mais tensa foi a de uma turista que em 2016, curtia um safari com o marido em sua lua-de-mel e foi surpreendida por um gorila de quase 300 quilos, animal que não causou estrago, mas lhe deu um dos maiores “jumpscares” de sua vida. Esses são alguns casos isolados de incidentes com gorilas veiculados pela mídia, relatos menos assustadores que interações com animais de outras espécies. Nos ajuda a entender melhor a tentativa de emprego do horror nos 62 minutos de O Gorila Matador, uma narrativa que é importante ressaltar, não se trata exatamente de um horror ecológico.

Lançado em 1940, o clássico arrastado e pouco interessante abre com créditos voltados ao ambiente circense. A música é intensa e nos indica que ali haverá um espetáculo de horror burlesco. Sem uma dose sequer de humor, a produção dirigida por William Nigh, cineasta guiado pelo texto de Richard Carroll e Curt Siodmak, revela-se como uma narrativa que tenta a seriedade a todo instante, algo que a faz funcionar bem menos caso entregasse alguns momentos focados no humor para demonstração do argumento bizarro desenvolvido pelos realizadores, inspirados pela peça teatral homônima de Adam Hell Shirk. O Gorila Matador é um horror ecológico apenas em sua primeira metade. Contemplamos a pesquisa de um cientista excêntrico, o Dr. Bernard Adrian (Boris Karloff), interessado em desenvolver uma fórmula experimental para o tratamento definitivo da poliomielite e atender aos anseios de uma paciente. Para isso, ele precisa extrair o líquido espinal de seres humanos para completar a sua fórmula.

Certo dia, a cidade torna-se palco de horrores quando um gorila ameaçador foge do circo e espalha o caos em ataques furtivos. Acompanhado pela notória composição musical de Edward J. Kay, o animal faz alguns estragos dignos de um horror ecológico em fase de desenvolvimento enquanto subgênero com características próprias. Mas a sua presença em cena é limitada ao momento em que chega ao laboratório do cientista e faz um enorme estrago, eliminando uma série de tubos de ensaio com o tal líquido extraído dos humanos. O doutor burlesco interpretado por Karloff consegue abater a criatura e um novo rumo é dado ao filme, agora uma espécie de proto-slasher: ele mata a criatura, disseca a sua pele e cria um traje para assassinar pessoas na rua e extrair o líquido necessário para o desenvolvimento de seu projeto. Tola, a narrativa nos mostra o pânico de toda a cidade em torno da suposta presença ameaçadora do gorila assassino, na verdade, um homem fantasiado, acometido por sua insanidade.

Apresentado pela direção de fotografia de Harry Neumann e reforçado em seu tom de ameaça pelo design de som de Karl Zint, o gorila do começo da história não apenas ataca um dos funcionários do circo, como toca o terror no próprio empreendimento, causando com a sua fuga um incêndio. O seu reinado de horror ecológico dura pouco para dar lugar ao humano disfarçado de primata, um homem que após longo espiral de mortes, não consegue mais esconder os crimes cometidos e é desvendado pelas autoridades. Importante não confundir a saga assassina do personagem com a horripilante história real de Leonard Nelson, apelidado pela mídia de “gorila matador”, serial killer que em 1928, matou um bebê e 22 pessoas por estrangulamento, um “monstro” que ocupa lugar apavorante nos anais da história criminal estadunidense. Ademais, O Gorila Matador, o filme, é pouco relevante, mas interessa aos curiosos em relação ao desenvolvimento do horror enquanto gênero cinematográfico. A trama pede alguma dose de paciência do público, tamanha a letargia no decorrer da ação. E o resultado não vale a pena como entretenimento, pois entedia ao invés de divertir.

O Gorila Matador (The Ape, USA – 1940)
Direção: William Nigh
Roteiro: Adam Shirk, Curt Siodmak, Richard Carroll
Elenco: Boris Karloff, Maris Wrixon, Gene O’Donnell, Dorothy Vaughan, Gertrude W. Hoffmann, Henry Hall, Selmer Jackson, Ray “Crash” Corrigan
Duração: 62 min

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