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Crítica | O Grande Dragão Branco

por Ritter Fan
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Muito bom. Mas tijolo não revida!
– Li, Chong

Tem filmes que batem orgulhosamente no peito e alardeiam aos quatro ventos que todas as características que seriam consideradas ruins em outras produções são marcas de sua qualidade. Filmes assim assumem o que são desde o começo e não se deixam levar por firulas que traem a linha reta que eles desejam traçar, não inventam moda, não tentam complicar sua história. Essa coragem, essa certeza do que eles são – ou, pelo menos, do que querem ser – não é suficiente para transformar uma obra ruim em uma obra boa, claro, mas mostra honestidade e um filme honesto é um filme que merece no mínimo ganhar alguns pontos extras.

O Grande Dragão Branco (que título brasileiro bregamente inspirado, não?) é indubitavelmente um filme honesto, que veste a carapuça do que é, ou seja, meramente uma sucessão de rinhas de galo bem coreografadas costuradas ao redor de uma sucessão de clichês do gênero e com um elenco tão ruim que torna tudo inadvertidamente divertido, algo que Newt Arnold, diretor assistente de diversos grandes filmes como O Poderoso Chefão II, Inferno na Torre e Blade Runner e que se aventurou na direção pela terceira e última vez aqui, amplifica com câmeras lentas capazes de causar câimbras estomacais de tão engraçadas que são, especialmente quando elas estão focadas nas expressões faciais de sua estrela Jean-Claude Van Damme.

O artista marcial belga, apelidado de The Muscles from Brussels (Os Músculos de Bruxelas, expressão rimada que só fica legal mesmo em inglês), tem, aqui, seu primeiro papel de protagonista como o soldado Frank Dux que, usando sua licença, vai para Hong Kong competir no campeonato secreto de luta conhecido como Kumite, que ocorre a cada cinco anos. Supostamente, trata-se de uma história verdadeira do próprio Frank Dux, mas que é tão cheia de furos, inconsistências e falta de provas, que é melhor considerar como a mais pura ficção oriunda de devaneios do Dux real, ainda que o conceito presente no longa tenha sido uma das bases para a franquia de games e filmes Mortal Kombat. Seja como for, Van Damme tem, aqui, o espaço que precisava para alcançar seu razoavelmente efêmero estrelato, já que, de todos os brucutus dos anos 80, ele e seu colega Steven Seagal foram os que menos tiveram grandes oportunidades cinematográficas, e ele, mesmo sendo “ator” somente entre aspas, cumpre bem seu papel.

E cumpre bem seu papel porque esse seu papel é simples, sem dramas, sem bobagens mal elaboradas como em Retroceder Nunca, Render-se Jamais. A única vez em que o filme trafega por esse caminho é quando vemos um flashback estendido de Dux relembrando como começou a treinar artes marciais e o porquê de ele querer tanto lutar no Kumite, algo que está lá unicamente para estabelecer sua motivação e para nos divertir com Roy Chiao vivendo o sensei Senzo Tanaka, essencialmente um torturador sádico que treina Dux usando técnicas medievais. Nem mesmo o caso que Dux tem com a repórter enxerida Janice Kent (Leah Ayres), a perseguição que ele sofre de dois agentes americanos (um deles vivido por Forest Whitaker, ainda em começo de carreira) e sua amizade instantânea com o simpático grandalhão Ray Jackson (Donald Gibb) enveredam por caminhos que desviam a narrativa do que realmente importa, ou seja, do campeonato e dos ótimos momentos com as mais variadas lutas e com o violento – e hilário em sua malvadeza caricata que conta inclusive com traumatizantes assoadas de nariz – campeão Chong Li (Bolo Yeung).

Essas lutas todas, que nos brindam com variados tipos de lutadores e variados estilos são, lógico os grandes destaques do filme, com Arnold então mostrando que realmente aprendeu bastante como diretor assistente e tratando a decupagem das pancadarias sem desnortear o espectador e sem atrapalhar a apreciação dos golpes, dando tempo ao tempo e cadenciando tudo com uma trilha sonora simpática cortesia de Paul Hertzog e uma montagem eficiente de Carl Kress. E, dentre os combates, claro, vale destacar as que ficam ao encargo de Van Damme, especialmente a luta final contra o vilão que usa truque sujo para cegar nosso herói, o que inclui, de brinde, as sensacionais caras e bocas do “ator” e as tais câmeras lentas nesses momentos inesquecivelmente hilários.

O Grande Dragão Branco, ao ser econômico e focar na retratação de exatamente aquilo que é o coração do roteiro, ou seja, as lutas, e tratá-las com ótimas coreografias que são capturadas muito bem pelas lentes de Arnold, com Van Damme dando seu show de “atuação” e de habilidades marciais, diverte tremendamente, não à toa sendo uma obra lembrada, de uma forma ou de outra, por muita gente que viveu a época de seu lançamento. Está aí um daqueles filmes que, mesmo tendo um caminhão de defeitos, não enjoa nunca por simplesmente ter a honestidade de abraçar sua premissa com unhas, dentes e espacates.

O Grande Dragão Branco (Bloodsport – EUA, 1988)
Direção: Newt Arnold
Roteiro: Sheldon Lettich, Christopher Cosby, Mel Friedman
Elenco: Jean-Claude Van Damme, Bolo Yeung, Donald Gibb, Leah Ayres, Norman Burton, Forest Whitaker, Ken Siu, Roy Chiao, Michel Qissi, Philip Chan
Duração: 92 min.

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