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Crítica | O Grande Mestre 2

por Rodrigo Pereira
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O respeito é um elemento muito forte e presente na cultura chinesa de modo geral. A população do gigante asiático é costumeiramente respeitosa com suas tradições, antepassados e no tratamento usual com pessoas de outros países e culturas, assim como espera o mesmo vindo dos visitantes. Desrespeitar sua cultura, portanto, é algo que ofende profundamente o povo chinês, o que pode gerar uma resposta nada agradável como resultado dessa atitude. E essa é a principal mensagem de O Grande Mestre 2.

Dirigido por Wilson Yip, O Grande Mestre 2 segue explorando a vida de Yip Man (Donnie Yen) logo após os acontecimentos do primeiro filme, onde o artista marcial termina saindo da cidade de Foshan, destruída pela invasão japonesa durante a Segunda Guerra Mundial, em direção a Hong Kong. O objetivo do protagonista é fazer algo que, mesmo com diversos pedidos, relutara durante toda obra anterior: abrir sua própria escola e ensinar suas técnicas.

Após ter sua vida virada de cabeça para baixo e enfrentar as dificuldades trazidas pela guerra, Yip Man agora precisa lidar com os empecilhos do começo de uma nova vida, em uma nova cidade e praticamente sem dinheiro algum. A situação piora quando ele descobre que existem muitas outras escolas de artes marciais na cidade e, para que possa abrir a sua, precisa passar por testes determinados pelos demais mestres e, caso aprovado, pagar a mensalidade da associação para poder dar suas aulas sem maiores problemas.

É precisamente nessa parte da projeção que vemos pela primeira vez alguém realmente lutar em pé de igualdade com Yip Man. Inclusive, isso acontece ao enfrentar o mestre Hung Chun-nan (Sammo Hung) durante o teste final que precisa se submeter, gerando uma sequência de luta incrível.

Aliás, gostaria de destacar a qualidade na direção de Wilson Yip na concepção dessas cenas desde o primeiro filme. Os cortes rápidos e planos detalhes se mesclam com momentos de câmera lenta em golpes mais fortes e certeiros, trazendo uma brutalidade visualmente encantadora. Esse cuidado do diretor me lembrou uma conversa que tive com o Fernando Campos sobre como o cinema asiático enxerga a luta não somente como uma forma de defesa pessoal ou esporte, mas também através de uma ótica artística, evidenciado em filmes como Herói e os próprios da franquia O Grande Mestre.

Por integrar intensamente a cultura do país, não à toa a estima por essas artes também é bastante grande, o que leva ao respeito tratado na obra que abordei anteriormente. Mesmo que haja uma certa rivalidade que tende a se formar sempre que Yip Man e Hung se cruzam, o realizador passa a mudar o relacionamento dos dois conforme tomam atitudes consideradas honradas e respeitosas para um com outro, tornando, aos poucos, a relação entre eles mais amistosa.

Essa gradual mudança de tratamento nos prepara para a principal parte da projeção: uma luta contra o campeão mundial de boxe, o norte-americano Twister (Darren Shahlavi). É quando a mudança na relação dos dois mestres mostra-se importante, já que os dois acabam ocupando a posição de representantes do povo chinês em defesa de sua cultura, posto já ocupado por Yip Man na primeira obra.

Se no primeiro filme os japoneses eram o foco de toda ira e ódio dos chineses, o papel agora fica na mão dos estadunidenses, personificado em Twister. Todos são extremamente caricatos, o boxeador principalmente, sendo, por vezes, quase animalizados (algo que julgo como uma provocação do diretor às diversas produções hollywoodianas que subjugam povos de demais países da mesma maneira).

Enquanto os personagens americanos gostam da espetacularização e tratam a luta simplesmente como um instrumento para se provarem superiores a todos, os chineses assumem uma postura no outro extremo, tratando tudo com muita parcimônia. Isso muda exatamente quando o desrespeito, o jogo sujo e as provocações rasteiras de Twister atacam a China, seu povo e sua cultura.

A luta final toma ares grandiosos e coloca China, em defesa de sua honra, e Estados Unidos, tentando provar uma suposta superioridade, em uma disputa que de certa forma remete ao período da Guerra Fria, com Estados Unidos e União Soviética como protagonistas (impossível não lembrar do embate entre Rocky Balboa e Ivan Drago em Rocky IV). Assim como os demais combates da franquia até então, ficamos completamente vidrados na ação, tentando não perder nenhum movimento sequer da luta mais difícil dentre todas para nosso protagonista.

Uma das poucas coisas que me incomodou no longa foi a relação de Yip Man com sua família. Se no primeiro sua esposa e filho assumem uma posição secundária dentro da narrativa, ainda é possível desfrutarmos de momentos bonitos durantes as sequências de interação. Isso não se repete no segundo filme, deixando sua família numa posição ainda mais de coadjuvante justamente quando deveria ser o oposto, já que Cheung Wing‑Sing (Lynn Xiong), companheira de Yip Man, está grávida.

Da mesma forma que Chow Ching-Chuen (Simon Yam), irmão do protagonista, tem bastante destaque no primeiro longa e, devido a um acontecimento específico, acaba perdendo a memória e encontra-se em uma situação bastante triste. Seu quase desaparecimento em O Grande Mestre 2 é algo que considero um erro da direção, principalmente pelo potencial dramático não explorado na relação dos dois.

Ainda assim, Wilson Yip nos apresenta uma obra bastante coesa e exalta a cultura chinesa praticamente com a mesma qualidade do primeiro filme da franquia. Tudo em meio a muitos socos, cotoveladas e pontapés.

O Grande Mestre2 (Yip Man 2) — China, Hong Kong, 2010
Direção: Wilson Yip
Roteiro: Tai-Li Chan, Hiu-Yan Choi, Edmond Wong
Elenco: Donnie Yen, Sammo Hung, Lynn Xiong, Simon Yam, Kent Cheng, Xiaoming Huang, Kent Cheng, Darren Shahlavi, Charles Mayer
Duração: 108 minutos

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