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Crítica | O Grande Predador

Um tigre retirado de seu ambiente natural transforma uma pequena cidade numa arena de sangue.

por Leonardo Campos
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Eles são mamíferos carnívoros oriundos do continente asiático. Tal como a nossa onça-pintada, possuem apreço por água. Pulverizam urina em árvores para demarcação de espaço. As suas garras enormes, afiadas como instrumentos cirúrgicos, é parte deste ser que ainda integra uma pelagem densa e pesada, com mescla de tons alaranjados e marrons, com listras pretas verticais, além dos detalhes brancos. Territoriais e solitários, os tigres são criaturas de grande porte, predadores de topo da cadeia alimentar, tal como sugere o título nacional do filme em questão, uma história já conhecida sobre o desastroso encontro entre um animal selvagem e os seres humanos. Alguns seguem padrões cristalizados com três atos, outros tentam acrescentar novos elementos. O Grande Predador está nesta linhagem que busca um diferencial, mas acaba seguindo os padrões estabelecidos e aceitáveis para o público que não exige muita coisa de uma aventura sobre os ataques sanguinários de um tigre colocado numa interação promovida pelos humanos que o deslocaram de seu habitat natural por mero entretenimento.

No formato Tubarão, de 1975, a narrativa baseada no romance de Jack Warner traz os clichês estabelecidos para as produções do segmento, com um prefeito que deseja disfarçar a presença de um perigoso animal selvagem solto pela cidade, haja vista o seu interesse em não acabar com a festa do milho, evento anual importante para a economia e outras instâncias de visibilidade da região. A fera é parte de um mercado de animais exóticos, sem registro. Ao escapar, promove um festival de mortes que deixa o xerife de cabelo em pé. A cidade que sedia este horror ecológico se encontra situada no montanhoso território da Georgia. Seu nome é Mount Heaven, tudo ia bem até a chegada inesperada do gigantesco tigre com muita fome e com os instintos aguçados para a caça. Chefiada por Grady Barnes (Gary Busey), o local é testado constantemente depois que um corpo em pedaços é encontrado numa área florestal próxima. A polícia credita a um possível assassino em série, e a palavra-chave toque de recolher é mencionada por alguns habitantes.

Não demora para que a investigação descubra que o responsável pela morte, a primeira de muitas, é um tigre nas condições citadas anteriormente. Para acrescentar tensão, o pequeno Roy (Ty Wood), um garoto de 12 anos com questões comportamentais bem pontuais começa a ter contato com o tigre, uma misteriosa comunicação que leva o pequeno garoto a estar sempre perto da criatura que misteriosamente, nunca lhe faz mal algum. A sua mãe, Rose (Marina Stepheson), uma mulher devotada que trabalha copiosamente para garantir o sustento do menino se preocupa diariamente com as suas atitudes semelhantes ao comportamento de um sonâmbulo, mas não há muita coisa para ser feita a não ser redobrar os cuidados com o jovem que vai manter centralidade dramática durante todos os 88 deste telefilme também lançado no mercado de DVD, em 2007. É sob a direção de Gary Yates, realizador guiado pelo roteiro de Philip Norton, que acompanharemos a jornada de investigação, enfrentamento e resolução da crise na história.

Sem grandes momentos excepcionais ou excessivamente ruins, como ocorre com a maioria das produções de baixo orçamento sobre animais assassinos, pecaminosas não apenas nos elementos estéticos, mas em suas narrativas pretensiosas e chatas, O Grande Predador é um exemplar básico do horror ecológico, sem momentos grandiosos, tampouco cenas memoráveis. Cumpre a sua função de entretenimento, levanta algumas discussões já conhecidas sobre ética e comportamento humano, mas nada que tenha maior profundidade para se tornar destaque reflexivo. Interessante a opção da narrativa por não conectar os acontecimentos com as habituais mutações genéticas que transformam os seus antagonistas em monstros insaciáveis e potencializados pela manipulação científica de seres humanos irresponsáveis. Aqui, a criatura não faz nada de anormal para a sua espécie, apesar de termos pouco material para contemplar, haja vista o excesso de mortes em off-screen.

A sua onipresença ganha algum destaque com o design de som de Anita Lubosch, setor que acrescenta algum ritmo na trilha mediana de Glenn Buhr. Na direção de fotografia, Peter Benison consegue disfarçar a ausência do animal e do orçamento para um investimento maior na seara dos efeitos visuais. Segundo informações de bastidores, um tigre de verdade foi utilizado para as filmagens das cenas mais corriqueiras, nada incomum para uma era de interação constante entre feras selvagens e adestradores habilitados no treinamento destas criaturas visualmente deslumbrantes, mas potencialmente perigosas. Ademais, a narrativa inclui na seara das vítimas as pessoas mais estúpidas, em especial, aqueles que insistem na continuidade dos festejos anuais da cidade que enfrentam uma ameaça tão suntuosa. A Guarda Nacional é chamada, o Coronel Graham (Ian D. Clark) é contratado e assim se estabelece a velha abordagem estadunidense que diz “não tenham medo, nós salvaremos vocês”, semelhante aos filmes do subgênero dos anos 1950. Não há o que temer com o poder de fogo das forças armadas, não é mesmo?

O Grande Predador (Maneater/Estados Unidos, 2007)
Direção: Gary Yates
Roteiro: Philip Norton
Elenco: Gary Busey, Ty Wood, Marina Stepheson, Jessica Burleson, Kristen Harris, Dan Skene, Diana Reis, Ian D. Clark
Duração: 97 min.

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