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Crítica | O Grinch (2018)

por Davi Lima
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O Grinch é o conhecido bicho verde que furtou o Natal da Quemlândia e que depois se arrepende para traduzir o espírito natalino da melhor forma que o escritor Dr. Seuss sabe fazer na sua literatura. Essa nova versão do estúdio de animação Illumination tira o pesar maldoso da personalidade do bicho verde e consequentemente retira o valor do resultado de transformação dele, tornando tudo mais eufemizado para um público infantil imediatista em aprendizado dessa nova geração. Dessa vez, muito mais se procura uma justificativa para a maldade do protagonista do que a resolução eminentemente metamórfica pelo Natal.

Seja para qualquer obra cinematográfica que o marketing determina para o público infantil, a moral em um filme para crianças precisa ser bem trabalhada em vista que o público alvo capta os símbolos e as frases de maneira mais intensa nos seus significados. Ou seja, a redenção, o perdão, o choro e o sorriso expressos no desenho digital tem tamanho valor tanto quanto uma história bem feita. Claro que esse novo filme do Grinch tem lá suas qualidades de animação 3D e o tom humorístico característico preservado do personagem, como a ironia e acidez que o torna o tão intrigante para trabalhar com crianças. O processo mental de absorção das imagens para quem tem idade infantil é bem mais rápido e a empresa de animação que fez Minions entende muito bem isso. As crianças Quem presentes no filme são muitos espertas e vivas na representação pueril, assim como todo o processo animado do filme. Além disso, há a presença de uma narração, já conhecida dos filmes anteriores do Grinch, só que agora mais ágil, ainda mais com a versão poética/cantada de Pharell Williams para ritmar jovialidade em um conto tão antigo, e que ainda permite encantar novos públicos, a exemplo da simpatia do cão Max, que pertence a Grinch, ou a fofura da personagem Cindy Lou, que acredita na bondade do verde ladrão de Natal . Mesmo a história sendo bem conhecida há novos gracejos advindo das tentativas modernizadoras.

Nessa permissão do velho ainda se mostrar renovado, algumas adaptações são feitas naturalmente, independente da literatura original ou de comparação com uma adaptação antiga no audiovisual. Entretanto, as inovações aplicadas a caracterização do protagonista se mostram ineficazes, parecendo com enrolações e entraves bem comuns quando se usam prelúdios que aliviam impactos de reformas dramáticas. Na busca pelo passado da infância de Grinch para justificar sua maldade e desprezo pelo Natal, perde-se muito do significado de uma relação direta com a metamorfose da crença do personagem na data natalina. Com uma explicação na base de flashbacks, o didatismo abstrai carga e avanço progressivo  da história com tal artifício, em vista que atrapalha o impacto da clássica ideia maléfica do verdão que é necessária ser sentida para uma pós contraposição tão forte quanto do efeito do Natal.

Outro fator relativamente problemático quanto as adaptações modernas do filme é a estruturação do arco de Cindy Lou com sua mãe, não a ideia dele. O possível propósito interpretativo do arco presente no roteiro é de tamanha importância quanto a nova visão da maternidade que não consiste apenas em ficar em casa, algo bem atual quanto a ocupação do mercado de trabalho simultaneamente, numa medida de mudança significante para a representação disso na história, e aparentemente certeira se realmente servisse de importância ao longo da narrativa. A problemática fica a par dessa própria divisão entre ser mulher doméstica e trabalhar que se investe um alinhamento à conclusão natalina, porém, mais uma vez não há transformação processual da mãe em si, apenas na visão da filha quanto a receber a maternidade . Há uma motivação para Cindy ir atrás de um natal diferenciado, um presente para sua mãe que disfarça uma tristeza e derrotismo por não se atropelar com tantos afazeres, além do papel de mãe ainda precisa trabalhar. No entanto não há conexão com os arcos do filme e uma resolução satisfatória diante dos caminhos dramáticos apresentados. Por mais que se defenda o Natal resolvendo tudo dentro da narrativa, mesmo a mais infantil das obras cinematográficas, sendo de qualidade, não se permitem tal conclusão falível, como se a data fosse uma saída facilitada de resolver conflitos, não uma mágica  dramática desenvolvida para uma resolução mais efetiva.

Apesar da modernidade da Illumination não ser tão cuidadosa, o estúdio reúne uma produção que compensa sua estrutura narrativa por vezes. Precisa-se ser falado do ator Benedict Cumberbatch e o compositor Danny Elfman para essa renovação natalina artificial da história do Grinch. O ator que faz o voice acting de Grinch incorpora o orgulho e a maldade ignorante em outros papeis como em Doutor Estranho ou Sherlock. Apesar de mais afável, há sequências maldosas de Grinch que perfura qualquer coração, em especial de crianças. Com certeza a voz grossa do ator inglês e seu sotaque precisava ser mudado para atuar de fato o protagonista, e é preciso, assim, valorizar o esforço de transformação para interpretar o um personagem tão caricato e recheado de trejeitos verbais. Ainda falando de som, não de atuação de voz, mas de instrumentos, o compositor Danny Elfman rege para encantar a animação. Nem de longe é um trabalho inspirado que chame atenção, porém com suas esquisitices e tenebrosas características usando fagote, por exemplo, são tão tornadas em singelas tocadas natalinas como voltam tão de leve a suas raízes para focar nos temas do protagonista Grinch, tornando a citação de Elfman relevante para se atentar nos créditos do filme.

Por término, a nova obra sobre Grinch talvez não seja tão Grinch nas medidas conhecidas de compreensão quanto a um personagem tenebroso e grosseiro em processo de mudança pelo o natal. E tudo bem, pois as crianças não são as mesmas crianças, mas será que por isso a mensagem precise ser levada com menos esmero em questões dramáticas, ao ponto de “eufemizar” o protagonista? Para os diretores iniciantes em longa metragem, Yarrow Cheney e Scott Mosier, o conhecimento de animação quanto a modelação visual dos personagens e universo dos Quem é criativo, especialmente dentro das ideias contemporâneas de marketing para criança do estúdio Illumination. No entanto, sem o valor de uma carta natalina original de Dr. Seuss preservada no email do roteiro a obra esmorece nos pixels digitais modernizantes.

O Grinch (The Grinch) – EUA, Japão, França, 2018
Direção: Yarrow Cheney, Scott Mosier
Roteiro: Michael LeSieur, Tommy Swerdlow (com base no livro de Dr. Seuss chamado “How The Grinch Stole Christmas”)
Elenco: Benedict Cumberbatch, Cameron Seely, Rashida Jones, Pharrell Williams, Tristan O’Hare, Kenan Thompson
Duração: 85 min.

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