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Crítica | O Herdeiro do Diabo

por Rafael W. Oliveira
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Ao subir dos créditos de O Herdeiro do Diabo, um duplo sentimento de vergonha tomou conta de mim: vergonha por todos os envolvidos na produção, por permitirem que uma obra do tipo pudesse existir; e vergonha por aqueles que tiveram a ousadia de afirmar que o filme em questão flertava com o clássico de Roman Polanski, O Bebê de Rosemary. Pois O Herdeiro do Diabo não poderia estar mais distante da obra-prima de Polanski, especialmente no que concerne a qualidade das duas fitas.

Com a técnica do found footage em alta nos últimos anos (embora o público já esteja percebendo o desgaste da mesma), não são apenas os produtores da franquia Atividade Paranormal que desejam continuar  tirando proveito do fascínio que este estilo de filmagem exerce. Os diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett já havia trabalhado com esta mesma técnica anteriormente em um dos segmentos do curioso V/H/S, e aqui arriscam se arriscam a criar uma obra mais autoral, mas que acaba sendo resumida a uma colagem de retalhos dos mais variados clichês do gênero que, se antes assustavam, hoje apenas trazem os risos involuntários à tona.

A história é sobre um casal que de recém-casados que a partir do último dia de sua lua-de-mel, decidem filmar todos os momentos de suas vidas a partir dali, numa forma de guardar as lembranças (uma boa desculpa inicial para o uso da câmera). Após uma noite de bebedeira onde o casal, aparentemente, passa por uma espécie de ritual satânico, o casal retorna para seu lar e a mulher descobre, poucos dias depois, que está grávida. Obviamente, e pela tradução do título aqui no Brasil, sabemos de imediato de quem é o filho.

O Herdeiro do Diabo até possui algum potencial para ser uma boa obra do gênero, mas a dupla de diretores parece pouco conhecer as regras e propostas do found footage, e através desta falta de experiência, deixam de trabalhar o aspecto mais interessante oferecido por esta técnica: a subjetividade. Sempre explicitando os rumos que a trama irá tomar (o que imediatamente condena o filme a previsibilidade), os diretores se contentam em reciclar diversos clichês do gênero no que concerne as situações vistas, aos estereótipos apresentados e na construção dos sustos. Diante de toda essa obviedade, as comparações com O Bebê de Rosemary se tornam ainda mais absurdas e descabidas.

As luzes se apagam nos momentos mais oportunos. Portas e janelas batem sem aviso prévio. As ações demoníacas apenas acontecem quando a câmera está ligada. Tudo é de um didatismo irritante, numa espécie de compulsão em deixar tudo mastigado e entregue de bandeja para o espectador. Desta forma, um bom número de cenas risíveis são elaboradas (como a barriga se mexendo de forma estranha), poucas justificativas para os personagens estarem filmando o tempo todo são apresentadas (e é curioso que enquanto a casa inteira treme e objetos são quebrados ao caírem no chão, a câmera permanece intacta) e muitos furos no roteiro acabam sendo gritantemente exibidos (ora, se tudo foi filmado pelo protagonista, por que não mostrar a filmagem para a polícia ao final?).

O Herdeiro do Diabo é um filme que trai a si mesmo o tempo todo. Não assusta, mas faz rir. Muito do que virá acontecer é anunciado anos-luz antes pelo roteiro sem qualquer sopro de novidade. O resultado é apenas mais uma obra descartável do gênero, perfeitamente esquecível ao acender das luzes, e o que fica na memória é apenas a criativa estratégia de marketing do filme que, de alguma forma, conseguiu nos convencer de que poderíamos esperar algo bom. Um ledo engano.

O Herdeiro do Diabo (Devil’s Due, EUA, 2014)
Roteiro: Lindsay Devlin
Direção: Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett
Elenco: Zach Gilford, Allison Miller, Robert Belushi, Steffie Grote, Catherine Kresge, Sam Anderson, Griff Furst, Aimee Carrero
Duração: 89 min.

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