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Crítica | O Homem Que Mudou o Jogo

por Gabriel Zupiroli
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O Homem Que Mudou o Jogo é uma obra que detém o olhar sobre uma característica revolucionária. Sem definir muito bem os papéis, o filme se debruça sobre um embate entre diferentes pontos de vista que procuram justificar um ponto – o da vitória. É nesse jogo entre “tradição de espírito” e “modernidade artificial” que constrói todo seu caminho. Mas não que vá muito além disso. Sem um plano claro, é uma obra que apresenta um debate, mas prefere se manter no meio.

No filme, acompanhamos Billy Beane (interpretado por Brad Pitt), um gerente esportivo de beisebol que enfrenta uma grande crise por conta do pouco orçamento que seu time possui. A ponto de perder suas estrelas e precisando se reerguer, Beane é obrigado a se reinventar com a ajuda de um economista que possui métodos pouco ortodoxos até então: basear a análise da eficiência dos jogadores na matemática, efetuando assim um cálculo dos atletas mais rentáveis e com alto potencial. Assim, o elemento não-humano é o responsável por toda a modificação das estruturas até então vigentes – aquelas que confiavam sobretudo em análises humanas como “confiança” e “estabilidade emocional” -, fazendo com que todo o discurso do filme se dê sobre as possibilidades dessas mudanças.

Curiosamente, a encenação de O Homem Que Mudou o Jogo adota uma posição similar. Ao se utilizar dos caminhos tradicionais de uma cinebiografia – na maneira de se apresentar a história, filmar e editar -, o filme acaba por reproduzir em sua forma essa própria frieza caracteristicamente artificial. Ao escolher não se aprofundar em nenhuma das dimensões emocionais da narrativa, seja nas relações familiares de Beane, seja no próprio trauma do ex-jogador e agora gerente, a obra se estabelece de maneira a criar uma ressonância da frieza imposta pelos números: tudo é muito asséptico, desprovido do sentimento que até busca emular em certos momentos e “sintético” no sentido de que a própria câmera propõe a encenação de forma a ressaltar apenas os elementos essenciais e já estabelecidos. Não temos, portanto, uma construção viva da cena a ponto de refletir a pulsão emocional que se germina na história, restando à obra uma montagem sem particularidade própria, entregue aos números.

E não que isso seja algo, a princípio, problemático. Na pretensão de transmitir um debate (muito frutífero, por sinal) acerca da dualidade paradoxal entre tradição e modernidade, o filme poderia muito bem optar pela frieza para ressoar certos ideais críticos. O problema é que O Homem Que Mudou o Jogo nunca propõe algo desse tipo, pois opta justamente por se estabelecer nos paradigmas esperados. Assim, repete a fórmula através de uma inconsequência: sua temática aparece como se buscasse escavar em meio àquela “anti-natureza” um calor humano que apenas os números não seriam capazes de proporcionar, entretanto sua forma se limita ao ser formulada repetindo estes próprios padrões numéricos. Em poucas palavras, torna-se um clássico caso de filme “sem graça”.

Não se trata, porém, de um filme ruim. A condução dessa visão se aproveita de uma ideia muito frutífera para o debate, o fracasso. É sobre ele que se fundamenta toda a trajetória de Beane, e as mudanças não estão em um horizonte muito próximo. A expectativa de outros caminhos – que busca uma frágil sustentação nas intimidades do personagem – são movidas não pelo desejo da vitória, mas sim pelo da mudança. É isso que importa para o gerente, afinal: muito menos vencer, e muito mais modificar a estrutura vigente. E, no fim das contas, O Homem Que Mudou o Jogo legitima esta luta no âmbito do conteúdo discursivo, ao defender que o fracasso não deve ser um impedimento para seu próprio desejo de modificação, visto que ele já está aí.

A questão é que o próprio filme não faz juz a essa ideia. A mudança, aqui, é muito plástica, artificial, e a forma prefere reverberar o próprio vazio numérico – que, de certa forma, é revolucionário – do que o aspecto humano. É um filme conflitante no sentido de que suas proposições estão constantemente em choque, mas suas estruturas materiais não conseguem transmitir devidamente essa ideia. Não há dúvidas de que O Homem Que Mudou o Jogo seja visto pela maioria como uma boa cinebiografia de esportes. Afinal, não é mais do que isso que o filme almeja ser.

O Homem Que Mudou o Jogo (Moneyball) – EUA, 2011
Direção: Bennett Miller
Roteiro: Steven Zaillian, Aaron Sorkin
Elenco: Brad Pitt, Jonah Hill, Philip Seymour Hoffman, Robin Wright, Chris Pratt, Stephen Bishop, Reed Diamond, Brent Jennings, Ken Medlock, Tammy Blanchard, Jack McGee
Duração: 133 min.

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