Home QuadrinhosArco Crítica | O Incrível Hulk #250: Surfista Prateado – O Monstro (1980)

Crítica | O Incrível Hulk #250: Surfista Prateado – O Monstro (1980)

por Luiz Santiago
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O que Bill Mantlo faz nesta edição comemorativa de O Incrível Hulk é juntar dois personagens perturbados, angustiados e amargurados da Marvel e confrontá-los com uma possibilidade de mudança definitiva em suas vidas. Como não podia deixar de ser, as duas narrativas começam com uma busca, até que os personagens cruzam a linha de eventos um do outro e sofrem as consequências que esse encontro traz. Dividida entre os capítulos O Monstro, O Exilado, A Jornada e O Poder, essa história de sonhos frustrados toca o espectador de uma maneira muito especial, terminando com uma constatação desalentadora de ambos os heróis sobre o dilema moral de sua permanência como benfeitores da humanidade versus o sonho de serem pessoas livres para viver a vida que sonharam.

Hulk começa a narrativa chegando em uma região campestre, sentindo rapidamente a paz daquele lugar e então acalmando-se, cedendo lugar a Bruce Banner. Não há nada de novo nesse tipo de impulso narrativo, já que aventuras com o lado racional do Golias Verde tentando se isolar e construir uma vida “sepultando” o Hulk em seu interior fez parte da linha do tempo do personagem desde os seus primeiros anos. O que dá à trama um elemento diferente é a presença do Surfista Prateado, que segue lamentando a sua prisão na Terra e maldizendo Galactus por colocar a barreira na atmosfera do planeta, impedindo o filósofo cósmico de singrar o Universo com sua prancha. É no meio dessa tristeza que ele se lembra de um encontro anterior com o Hulk e uma ideia se forma em sua mente… A liberdade, talvez, pode estar perto dele.

O texto trabalha com a ideia de aprisionamento na vida de ambos os personagens. Bruce se vê preso em uma possibilidade de transformação que só lhe traz tormentos, fazendo com que ele seja rejeitado ou temido por todos, o que só aumenta sua raiva e, consequentemente, seus problemas. Norrin está exilado num lugar violento que, em muitas ocasiões, também lhe rejeita, e que se pudesse destruí-lo, já o tinha feito. Essa edição, portanto, explora o alívio temporário dos infortúnios de Hulk e do Surfista, dando-lhes o gostinho da liberdade que desejam para, quase que imediatamente, lançá-los novamente em suas maldições individuais.

Embora isso não seja abordado de forma direta no roteiro, fica claro que o foco da história é opor os desejos pessoais (egoístas) desses indivíduos às suas responsabilidades como heróis. A libertação que desejam lhes trará felicidade, mas subtrairá da Terra dois importantes benfeitores. O desejo de Bruce e Norrin é perfeitamente compreensível a partir do lado sentimental. São homens que merecem a felicidade, que merecem viver a vida que desejam. Mas nesse momento de suas vidas há algo ainda mais importante do que as suas próprias paixões: eles são figuras de importância para a teia de enfrentamento entre as forças do bem e do mal na Terra. Suas personas heroicas não podem ser retiradas.

Daí podemos entrar numa discussão ética a respeito da responsabilidade que o poder traz e também de como isso se coloca para o verdão e para o prateado. Um deles entrou em sua prisão por acidente. O outro, devido às consequências de suas próprias escolhas. No fim das contas, nenhum dos dois têm a oportunidade de manter a liberdade e o Surfista conclui que não tem o direito de intervir na vida de Bruce Banner. Sua presença por pouco tempo ali no campo, onde o cientista vivia uma vida pacífica, colocou muita coisa a perder. E do sonho de liberdade, Norrin Radd acrescenta mais uma linha de culpa em sua lista pessoal de desgraças, ao passo que Banner se vê novamente no ciclo de angústia que tomou sua vida desde que foi atingido pelos raios gama.

Incredible Hulk #250: O Surfista Prateado (Monster!) — EUA, agosto de 1980
No Brasil:
Heróis da TV 2ª Série – n°20 (Editora Abril, 1981). Marvel Especial n°4 (Editora Abril, 1987). Coleção Histórica Marvel: O Incrível Hulk n°4 (Panini Comics, 2018).
Roteiro: Bill Mantlo
Arte: Sal Buscema
Arte-final: Sal Buscema
Cores: George Roussos
Capa: Al Milgrom
Letras: John Costanza
Editoria: Al Milgrom
33 páginas

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