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Crítica | O Jogo do Exterminador – Escola de Combate

por Luiz Santiago
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estrelas 4

Baseada na obra de Orson Scott lançada em 1985 e na esteira do filme de 2013, a minissérie O Jogo do Exterminador – Escola de Combate nos mostra a jornada de Ender em basicamente todo o seu período na escola de combate até o momento em que ele recebe o comando de uma tropa, algo que não vemos acontecer, mas que nos é indicado pela fala de um dos militares que acompanham os estudantes em treinamento.

Com roteiro de Christopher Yost e arte de Pasqual Ferry a história é muito cativante, mesmo que demore um pouquinho para engatar e tenha alguns momentos visualmente confusos, especialmente na identificação dos rostos dos estudantes e planos de perspectiva. Nada muito grave, mas que em momentos isolados da história acabam atrapalhando um pouco a leitura.

A contextualização é socialmente familiar para nós, pois trata de um garoto fraco e escanteado pelos colegas, que sofre bullying e não tem um ambiente familiar lá muito ideal. Aliás, a sociedade futurística, mecanizada e mais fria que Ender vive — ele só tem real contato e afeto por parte de sua irmã Valentine — é um chamariz para esse tipo de atitude valentona de uns sobre os outros. A própria Escola de Combate para onde Ender é recrutado “defende” esse tipo de atitude com a justificativa de que tal realidade irá preparar os adolescentes e jovens para o terrível futuro que os espera.

Nesse ponto, a trama ganha máxima atenção do leitor. A arte dinâmica e em um estilo digital bastante propício ao tema explora cada um dos espaços de treinamento, naves, painéis e quartos com o objetivo de nos mostrar o quanto a tecnologia engloba tudo nessa sociedade e o quanto a humanidade vive com medo da invasão dos Formics, desenvolvendo-se, preparando-se e vivendo em função de saber defender-se melhor. A crítica do autor para esse tipo de “vida” é perceptível em todas as camadas. As crianças são educadas para odiar uma raça sem saber exatamente os detalhes do por quê odeiam; os adultos procriam “por encomenda” do governo e dos militares e os laços familiares são etéreos em demasia. Talvez por isso a ligação de Ender com Valentine seja o verdadeiro porto seguro do garoto e chave que ele precisa para vencer o seu maior medo e desafio na Escola de Combate.

Em nenhum momento da história a jornada se torna adulta demais ou perde a graça da inocência ou bobagens de adolescentes, o que é ótimo, pois não tira o comportamento típico dos personagens representados. Mesmo que muitos finjam ser maduros, valentões ou crescidos demais, eles temem, choram e lamentam a vida que não tiveram, uma vida de ‘criança normal’, pois foram privados da convivência de outros colegas e das pessoas que gostavam. Até Ender, que não tinha uma vida social muito convidativa antes da EC lamenta o que ele está perdendo.

A reta final da história faz com que o leitor também entre no jogo do exterminador e é aí que a arte e as cores (a cargo de Frank D’Armata) ganham o seu maior destaque. O ambiente enigmático, os exercícios, o contato mesmo distante entre os dois irmãos e a porta aberta para uma outra fase na vida de Ender (obviamente mais tenebrosa que esta) deixa o leitor estranhamente feliz por ter lido uma ótima mini-saga, com um final que deixa a cruel e oportuna dúvida: o que pode ser pior e mais triste que isso?

O Jogo do Exterminador – Escola de Combate (Ender’s Game: Battler School) – Estados Unidos, 2014
Roteiro: Christopher Yost
Arte: Pasqual Ferry
Cores: Frank D’Armata
130 páginas

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