Home Colunas Lista | O Livro de Boba Fett – Os Episódios Ranqueados

Lista | O Livro de Boba Fett – Os Episódios Ranqueados

Era melhor ter sido digerido pela Sarlacc...

por Ritter Fan
6,8K views

Avaliação da temporada:
(não é uma média)

  • Há spoilers.

Boba Fett teria um fim mais digno se tivesse ficado lá na Sarlacc para ser digerido por mil anos, depois de ser derrubado por um Han Solo temporariamente cego. Se tivessem deixado o caçador de recompensas por lá, ele continuaria sendo lembrado como um caçador de recompensas, como um sujeito calado, como alguém que, no final das contas, capturou Han Solo e o levou petrificado em carbonita para Jabba the Hut e que usava a armadura mais bacana da galáxia. Agora, nós o lembraremos como um sujeito barrigudo e careca, completamente inútil por sua série inteira ao ponto de sequer aparecer em dois episódios (de apenas sete) e de não ter a honra nem de ser o foco do último frame da temporada. E isso sem contar com seus dois mirrados guarda-costas porcolinos e uma assassina à tiracolo que, no pouco que fala e aparece, mostra-se não só muito mais inteligente que ele, mas, também, muito mais eficiente e safa que o chefe.

Porque é isso que O Livro de Boba Fett faz com seu personagem titular. E não, não falo apenas com a voz de meu lado de “fã do personagem que apareceu por dois minutos em O Império Contra-Ataca“; falo também como um crítico que não entendeu muito bem se a série era para ser do Boba Fett, um prelúdio da terceira temporada de The Mandalorian ou uma fusão das duas coisas. Afinal, em qualquer uma das hipóteses, a única coisa que posso dizer é que Jon Favreau falhou fragorosamente.

Querem ver? Então vamos lá:

Hipótese 1: O Livro de Boba Fett é uma série sobre o Boba Fett e agregados.

Nesse caso, façamos o exercício de esquecer os episódios 5 e 6 e foquemos nos que sobram. O que temos é uma história paupérrima, um personagem que não ganha qualquer semblante de desenvolvimento e um trabalho de direção pavoroso de Robert Rodriguez nas três vezes em que senta na respectiva cadeira. A preguiça do roteiro é patente, com a completa incapacidade de se criar uma história – ou duas histórias, pois temos a que segue a linha de O Poderoso Chefão no presente e a que segue a linha de Pocahontas/Dança com Lobos no passado – que pareça mais do que algo que mira crianças pequenas de não mais do que oito anos de idade e que não sejam lá muito exigentes com o que assistem.

Agora façamos outro exercício e coloquemos de volta os episódios 5 e 6 nessa semgracice toda. O que temos? Um monstro de Frankenstein completo que para a história principal para contar uma história paralela que não só não tem relação alguma com a linha narrativa de Boba Fett, como tem como única função servir de para-raios de fan service, com um milhão de personagens inúteis aparecendo na base de um a cada 10 minutos, com direito a sequências intermináveis de reconstrução de nave e de treinamento de Padawan ingrato.

E o pior disso tudo é que nem vistos separadamente os dois episódios eminentemente de The Mandalorian são muito bons. São, no máximo, marginalmente acima da linha do mediano. E isso em um dia que me perguntarem e eu por acaso estiver com muita boa vontade.

Hipótese 2: O Livro de Boba Fett é The Mandalorian 2.5.

Bem, nesse caso, para ter alguma chance de aceitarmos a série dessa forma, precisamos jogar fora os quatro primeiros episódios e usar cinco minutos do episódio 5 para dizer que Boba Fett precisa de ajuda em Tatooine. Pronto, aí, então, Mando vai ajudá-lo. Não… peraí… Mando NÃO vai ajudá-lo. Mando vai para sei-lá-aonde encontrar seus parceiros mandalorianos para nós, espectadores, ganharmos uma aula didática de 40 minutos sobre tudo o que já sabíamos com direito a um duelo xexelento entre Mando e o Mandão. Ah, mas depois Mando ajuda o Boba, não é? Não, não é porcaria nenhuma. Ele, no lugar de fazer isso, vai para o planeta-bambu em que ele próprio é esquecido e tudo o que vemos é a assustadoramente bem feita versão digital de Luke Skywalker novinho treinando o Baby Yoda em intermináveis minutos que parodiam O Império Contra-Ataca.

Mas depois Mando ajuda o Boba, não? Não. Ele primeiro vai até Vila Livre (olha esse nome…) para recrutar Cobb Vanth, que poderia ter sido arregimentado até via womp rat correio, indo embora bem na hora em que Cad Bane aparece andando no deserto para “matar” o xerife. Só depois disso é que, finalmente, no último episódio, Mando então ajuda Boba fazendo a diferença entre a vida e a morte… Foi ironia, tá gente? Pois Mando estar presente no combate em Mos Espa não faz a mínima diferença. Ele é apenas mais um, marginalmente mais importante do que o Heitor e o Prático que caem do precipício. E o mesmo vale para o Yodinha, que não faz nada – absolutamente nada – que ele já não era capaz antes, o que torna o treinamento em Bambooland ainda mais inútil e cuja reunião com Mando, assim tão rapidamente, pega todo o arco narrativo dos dois construído ao longo das duas temporadas de The Mandalorian e o desfaz, tudo porque, aparentemente, não conseguem escrever nada sobre o Mando sem um bicho fofo ao lado para tirar suspiros de fãs e vender mais bonequinhos ainda…

Hipótese 3: O Livro de Boba Fett é uma fusão de série sobre Boba e prelúdio de Mando 3.0.

Aqui a coisa é mais simples. Se a hipótese 1 tem valor 0 e a hipótese 2 também tem valor 0, a hipótese três, que seria a soma das duas anteriores, só poderia ter também valor 0. E é exatamente isso que acontece. Na verdade, essa Hipótese 3 seria como tentar misturar azeite e vinagre, pois as partes não se comunicam; muito ao contrário, ficam claramente identificáveis e claramente diferentes…

….

O que explica os dois HALs de nota que eu dei? Simples. Primeiro temos o sensacional trabalho para recriar o Luke novo, algo que me dá um certo medo, pois pode ligar lâmpadas de ideias (imbecis) em produtores (idiotas) na linha de “vamos reviver Bruce Lee”, “que tal James Dean em Juventude Transviada 2?”, ou o horror dos horrores, “precisamos de Cidadão Kane 2 que revelará que Kane fingiu sua morte para trollar todo mundo”… Além desse CGI incrível (e assustador), Favreau, apesar de não ter usado Raylan Givens aqui, pelo menos deixou claro que Seth Bullock está vivo e prestes a virar um ciber-xerife (não sou lá muito fã desse detalhe, mas vá lá…). E, claro, tem a eterna amardura bacaníssima de Boba Fett que, mesmo nessa versão nova, com botas mais altas e uma certa pança embaixo da armadura, continua funcionando muito bem, colocando a de Mando, toda limpinha e prateadinha, no chinelo. O resto? Bem, o resto pode embrulhar em jornal velho e arremessar na lixeira mais próxima que não vai fazer falta…

XXXXXXXXXXX

Com isso, o que me restou foi uma escolha e minha escolha foi ranquear a série como O Livro de Boba Fett, Hipótese 1, portanto, do episódio mais pior até o menos pior. Apenas lembro que os textos abaixo são apenas trechos das críticas completas que podem ser acessadas ao clicar nos títulos dos capítulos. Digam se concordam, discordam ou muito pelo contrário e mandem suas próprias listas e comentários!

7º Lugar:
In the Name of Honor

1X07

O final é, basicamente, um show de horrores em todos os sentidos, com Robert Rodriguez de novo achando que está no set de filmagens de Pequenos Espiões. Peguem o cerco à boate explodida. Qual é o senso de ameaça que aquela meia dúzia de Pykes criam? Comparem essa cena com a cena em que Moff Gideon cerca o bar em The Mandalorian. O contraste entre os dois momentos é gigantesco, literalmente da água para o vinho. E não fica melhor quando os dois mandalorianos chegam voando e começam a trucidar os peixes mascarados a torto e a direito e menos ainda quando entram os robôs protegidos por escudos de força impenetráveis. Aliás, esses dois bicharocos gigantes representam a epítome da preguiça de roteiro. Favreau cansou de escrever e resolveu seu dilema em uma página só datilografando “entram robôs gigantes que permanecem em tela durante 20 minutos”. Pronto. Economia de papel, de diálogos, de extras e de qualquer resquício de inteligência, ou seja, a receita do que é necessário para fazer uma série ter sucesso. E Rodriguez manteve aquela sua pegada limpa, clara e, portanto, completamente inconsistente com tudo o que Star Wars sempre foi só para ser aquela cereja no topo do bolo estragado.

6º Lugar:
Return of the Mandalorian

1X05

The Mandalorian era para ser, essencialmente, uma série do Boba Fett. Preferiam criar um personagem novo com uma armadura mandaloriana parecida e, na série desse novo personagem, Boba Fett torna-se um convidado especial. Tudo bem. O sucesso vem e Boba, então, finalmente ganha sua própria série spin-off, mas, como não dá para repetir a mesma estrutura de The Mandalorian, inventam uma história nova, em que ele tenta dominar o submundo de Tatooine, mas a produção mete os pés pelas mãos em todos os quesitos, da estética à caracterização, passando pelos efeitos especiais e a disneyficação maciça de tudo. Eis então que Mando precisa retornar para “salvar” O Livro de Boba Fett em um episódio que, se não fosse completamente inútil dentro da temporada, seria o melhor da série até agora, mas que não passa de um filler e nem mesmo um filler maravilhoso, apenas um filler ali na prateleira superior do que ainda é apenas “bom” ou, talvez mais apropriadamente, o episódio 3X00 da próxima temporada da série de Din Djarin.

5º Lugar:
From the Desert Comes a Stranger

1X06

O que nós temos não é exatamente um crossover de séries, mas sim a tomada de assalto de uma série pela outra, ou seja, The Mandalorian engoliu O Livro de Boba Fett com a mesma voracidade que a Sarlacc antes engolira o ex-caçador de recompensas e não me parece que haja uma saída, pois tudo indica que o episódio final será a famosa “reunião de heróis ao redor de uma única causa” em que Boba Fett será, apenas, um sujeito no meio de diversos outros personagens, mais ou menos como sua presença na barca de Jabba em O Retorno de Jedi. Afinal, vamos lá: o roteiro de From the Desert Comes a Stranger é uma check list dos personagens que apareceram em The Mandalorian, tendo sido construído de maneira a tornar possível mostrar todos eles de uma vez só e ainda introduzir a versão live-action do pistoleiro Cad Bane (Corey Burton mais uma vez sendo a voz do personagem), o “estranho que vem do deserto” do título.

4º Lugar:
The Streets of Mos Espa

1X03

A perseguição dos ciborguescentes em motos coloridas (mais sobre eles adiante) ao assistente/mordomo de Mok Shaiz é o ponto alto da ruindade, já que a “cidade falsa” é unida a efeitos especiais inacreditavelmente fracos e artificiais que espantam de tão descolados da qualidade técnica usual que vemos nas obras deste universo. A própria perseguição em si é tão “emocionante” quanto a célebre perseguição da polícia atrás de OJ Simpson pelas rodovias de Los Angeles (quem não viu, vale procurar no Youtube), com a única diferença sendo a alteração no ângulo das filmagens. Já que mencionei parques de diversão, os passeios clássicos da DisneyWorld (aqueles que ainda usam tecnologia antiga, só de animatrônicos) conseguem ser muito melhores do que o que Robert Rodriguez faz aqui.

3º Lugar:
The Tribes of Tatooine

1X02

Dividido de maneira pouco usual e, convenhamos, um tanto quanto bizarra, com o primeiro terço sendo dedicado à ação no presente e todo o restante a um flashback sem intervalos para uma nova versão do bom e velho tropo cinematográfico que encontramos mais notoriamente em PocahontasDança com Lobos e Avatar (escolha sua preferência), ou seja, o forasteiro que tem contato com nativos, apaixona-se por eles e se torna um deles, The Tribes of Tatooine conta com um roteiro cansado e pouco inventivo que avança a tomada de poder do submundo de Tatooine pelo protagonista em um incremento mínimo, compensando um pouco com sua “tuskenização” completa no passado.

2º Lugar:
The Gathering Storm

1X04

No entanto, o episódio não tira a série de seu atoleiro criativo, deixando-a comendo poeira se comparada com The Mandalorian, o que é, convenhamos, inevitável. Quase toda a minutagem é dedicada a mais um bacta-flashback (flashbacta?), aparentemente o último já que Boba Fett termina seu tratamento ao final. Mas eu coloco aqui a pergunta: precisávamos mesmo saber detalhes do que aconteceu entre a destruição da tribo de Tuskens que acolheu Boba até ele encontrar Fennec Shand e recuperar sua icônica nave cujo nome original não pode mais ser dito? Porque vejam uma coisa importante: menos é mais. Tudo o que vemos em mais esse retorno ao passado é algo que qualquer um, adulto ou criança, poderia muito bem criar na cabeça, usando um negocinho chamado imaginação, sem que o roteiro precisasse pegar em nossa mão para nos levar por essa jornada.

1º Lugar:
Stranger in a Strange Land

1X01

Mas, na verdade, o que faltou mesmo foi história. O roteiro de Jon Favreau é muito básico demais, com diálogos sussurrados entre a dupla principal que não ajudam na construção de um relacionamento natural entre os dois, algo que é amplificado pela limitada latitude dramática de Morrison. Tenho plena consciência de que este é apenas um primeiro episódio e, como primeiro episódio, ele precisa fazer exatamente o que Boba Fett tenta fazer em Mos Espa, ou seja, marcar território, mas, mesmo levando isso em consideração, esse início de O Livro de Boba Fett não consegue se livrar daquela impressão ruim de que ele parece dependente demais da icônica armadura do personagem como representante de tudo o que os fãs querem ver em uma série hoje em dia: referências e mais referências.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais