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Crítica | O Maníaco (1980)

Angustiante e macabro, slasher retrata brutalidade contra corpos femininos.

por Leonardo Campos
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O filme slasher é parte de um segmento da indústria cinematográfica que deve bastante aos conceitos trabalhados por Freud na psicanálise. Trabalhados, em sua maioria, de maneira grosseira, para termos salvas as devidas proporções de associação, muitos destes filmes retratam a relação entre mãe e filho, a exposição ao sexo e os conflitos psicológicos da infância como elementos que justificam o rastro de sangue de seus antagonistas, motivados por distúrbios oriundos de possíveis abusos sofridos no passado ou então, a exposição diante de cenas explícitas, vividas ou testemunhadas, em algum momento de suas vidas. São várias as narrativas. O Maníaco, em sua versão de 1980, trabalha com esta abordagem por meio de uma história sombria, repleta de momentos ofegantes de horror, situados numa atmosfera macabra de perseguição, morte e muita violência, comandada pela direção de William Lustig, cineasta que trabalha bem, apesar dos diversos furos do roteiro. Ele entrega um antagonista monstruoso, mas ao mesmo tempo cheio de paradoxos, humanizado diante de sua incontrolável busca por violência para aplacar os horrores que habitam a sua mente perturbada, responsável por dar ao elenco feminino, protagonizado, em sua maioria, por atrizes pornôs da época, um fim doloroso.

O mote da trama é simples, mas a sua condução é que se torna especial. Imersivo, O Maníaco nos apresenta Frank (Joe Spinell), um homem pacato. Em seu cotidiano circunspecto, o personagem assume uma loja herdada da família durante o dia, mas a noite, perturbado por suas memórias macabras, circula pelas ruas de Nova Iorque, em busca de transformação das mulheres que contempla com distanciamento em vítimas de sua sede de sangue. Cruel, ele atravessa as passagens noturnas que nos revela uma cidade decadente e perigosa, impondo uma postura anárquica aos corpos que ceifa a vida, ao escalpelar as vítimas e colocar o seu couro cabeludo nos manequins que integram a sua coleção representativa do mais alto grau de horror. Em meio ao clima de brutalidade terrível, Frank revela o mote freudiano de sua vida e aos poucos, compreendemos as propostas que explicam os caminhos que o tornaram este monstro misógino.

Narrado em primeira pessoa, O Maníaco se divide, de maneira dinâmica, em nos mostrar o cotidiano de Frank em paralelo aos seus passeios noturnos. Mergulhado numa sanha assassina que parece não ter fim, as coisas começam a mudar um pouco depois que ele conhece Anna (Caroline Munro), uma fotógrafa por quem cria afeição, personagem responsável por fazer, tal como na estrutura narrativa de Dragão Vermelho, adormecer o monstro interno, mas não por muito tempo, infelizmente, em especial, para as mulheres que não são Anna, mortas de maneira bastante violenta, representação gráfica proporcionada por Tom Savini, um dos grandes nomes da maquiagem e dos efeitos especiais nos filmes de terror da época. A chegada desta moça bondosa e carismática parece trazer consigo a regeneração de Frank, mas ao passo que avançamos pelos breves 87 minutos de narrativa, percebemos que as coisas não serão fáceis como o desejável. Para o antagonista, parece não haver redenção, apenas fúria e morte.

Escrito por Lustig, numa parceria com C. A. Rosenberg, ambos inspirados no argumento de Joe Spinell, O Maníaco é um slasher misógino, focada na brutalidade em relação ao corpo feminino, narrativa que revela, sob o ponto de vista de seu monstro, as imundícies de uma metrópole fria, escura, sem segurança aparente, elementos construídos pela assertiva equipe técnica que contou com a direção de fotografia de Robert Lindsay, design de produção de Marla Schweppe e trilha sonora de Jay Chattaway, setores fundamentais para o sucesso narrativo do filme. Na captação de imagens, a fotografia concede o ponto de vista que torna a presença do antagonista narrador ainda mais macabra, além dos ângulos inusitados que reforçam as cenas de perseguição. Os espaços, construídos de maneira a tornar a atmosfera o mais macabra possível, tornam a movimentação me cena ainda mais angustiante, tudo isso, somado aos toques de sintetizadores que ampliam a sensação de pânico das personagens e também, a nossa, como espectadores deste espetáculo voyeur de morte. Um filme para pessoas fortes.

O Maníaco (Maniac, EUA – 1980)
Direção: William Lustig
Roteiro: C.A. Rosenberg, Joe Spinelli
Elenco: Joe Spinelli, Caroline Munro, Gail Lawrence, Kelly Piper, Rita Montone, Tom Savini
Duração: 87 min.

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