Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | O Massacre do Moinho de Vento

Crítica | O Massacre do Moinho de Vento

Mescla de slasher com perspectiva sobrenatural se perde, mas possui atmosfera interessante.

por Leonardo Campos
538 views

Uma maldição secular. Segredos do passado. Personagens incautos, mas com histórias pecaminosas levadas pela morte ao estilo Gil Vicente no clássico humanista Auto da Barca do Inferno. Assim é o desenvolvimento de O Massacre do Moinho de Vento, produção que podemos associar ao catálogo das narrativas que integram o subgênero slasher. Com atmosfera sombria e bastante potencial para ser um filme com mixagem de elementos sobrenaturais em consonância com a cartilha do mencionado estilo que se demonstra profícuo desde os seus primeiros exemplares na década de 1970, o que temos aqui é um manancial dramático desperdiçado pela tentativa dos realizadores em criar algo, digamos, demasiadamente sofisticado, tipo um terror repleto de estilo e mensagens cifradas, daqueles que mais confundem que resolvem os conflitos estabelecidos em cena. Na primeira vez que conferi, em seu lançamento, lá em 2016, o acompanhamento da trama veio juntamente com um punhado de sonolência e descaso, pois considerei o desdobramento do preâmbulo interessante muito enfadonho e monótono.

Numa segunda chance ao slasher europeu, as coisas mudaram um pouco. Achei um pouco mais envolvente que a primeira incursão, mas ainda assim, insuficiente para se tornar um clássico memorável. Com direcionamento de intenções benéficas para o subgênero, O Massacre do Moinho de Vento traz uma história sombria, escrito e dirigido por Nick Jongerius, mas falha ao desenvolver seus personagens e tomar as rédeas do material que abarca. Em linhas gerais, é como o ditado popular apregoa há eras: de boas intenções, o inferno está cheio. Ao longo de seus 85 minutos, acompanhamos a história de um grupo de pessoas que embarca num ônibus turístico que tem como passeio, uma via com os icônicos moinhos holandeses, um lugar repleto de histórias e garantia de aprendizagem para todos os envolvidos. Ali, no entanto, não há viajantes com perspectiva diletante, mas pessoas que fogem, de alguma maneira, dos infortúnios que demarcam as suas vidas tomadas por consideráveis traumas.

A principal delas, já apresentada na abertura, é Jennifer (Charlotte Beaumont), uma jovem que parece trabalhar tranquilamente, mas é logo desmascarada por alguém que aparece para dizer que sua vida é uma farsa, após ter encontrado o nome verdadeiro da moça em seu passaporte. Numa fuga insana, ela parte em fuga e acaba encontrando este grupo de viajantes, com personagens já apresentados antes do embarque, cada um, metido numa situação escabrosa e misteriosa. Há o pai que viaja com o filho, mas parece tranquilo com o sumiço da mãe do garoto. Há a fotógrafa que, no passado, cometeu um ato criminoso que a faz carregar uma sensação de culpa constante. Temos a protagonista e sua história que envolve fogo e um basta na relação com o pai, um abusador que aniquilava qualquer perspectiva de vida saudável da jovem, dentre outros personagens com suas ações condenáveis em algum momento de suas trajetórias. Será nesta viagem, impedida em sua metade, haja vista um problema na condução do ônibus, que eles encontrarão os seus maiores pesadelos, representados na figura de um antagonista macabro.

Aqui, não temos os habituais assassinos mascarados, mas um Moleiro que os persegue com sua foice, figura que segundo a lenda contada pelo motorista da ônibus, foi ceifado pelos cidadãos da região depois que descobriram a sua veneração satanista, em atos que envolviam moer ossos no local, em vez de grãos, em sacrifícios sobrenaturais que o levaram a morte e o transformaram numa figura destruidora de qualquer um que atravesse a região. Com reviravoltas e mortes sanguinolentas, O Massacre do Moinho de Vento nos apresenta o básico do subgênero, isto é, pessoas tentando sobreviver diante desta ameaça, escondidas numa cabana próxima ao lugar onde o ônibus quebrou, sendo uma a uma, mortas e dadas como desaparecidas. Antes da eliminação, elas sempre vislumbram, por meio de flashbacks bem orgânicos, os seus erros que as encaminham para a punição. Assim, o grupo precisa batalhar pela sobrevivência e nós aguardamos, até o desfecho, para contemplar quem conseguirá reverter a situação e acabar com a viagem amaldiçoada. Não é uma obra-prima, mas também não é descartável, apenas médio.

Inspirado num curta-metragem de cinco minutos, lançado para despertar interesse de possíveis investidores, O Massacre do Moinho de Vento passou por diversos festivais, ganhou alguma atenção e conseguiu lançamento em diversas regiões, inclusive no território brasileiro, disposto em alguns serviços de streaming. Com a colaboração de Chris Mitchell na concepção do roteiro, a equipe do cineasta responsável pela empreitada consegue construir uma trama com esmero estético, desde a direção de fotografia, assinada por Burt Buckman, eficiente no registro dos espaços noturnos do ambiente abandonado e com resquícios de traços góticos, ao trabalho de Erik Hillenbrink na concepção dos corpos amontoados ao longo da narrativa, uma série de mortes divertidas e amplamente gráficas, algumas até beirando ao exagero. Ademais, o filme também conta com uma composição sonora firme, produzida por Erik Jan Grob, um material que garante tensão nos momentos em que é aplicado. Tudo bem que na garantia de personalidade, os realizadores acabam cometendo uma série de falhas, mas nada que tire o proveito da sessão como um momento mediano de entretenimento.

O Massacre do Moinho de Vento (The Windmill Massacre, Noruega – 2016)
Direção: Nick Jongerius
Roteiro: Nick Jongerius
Elenco: Adam Thomas Wright, Bart Klever, Ben Batt, Charlotte Beaumont, Fiona Hampton, Noah Taylor, Patrick Baladi, Tanroh Ishida
Duração: 95 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais